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Trabalho em horta recupera viciados
Por Paula Cunha    9 de novembro de 2005
Um ambiente que "transpira" esperança e garra. Este é o clima que se encontra na Comunidade Viva Verde, especializada na reabilitação de pessoas com dependência química e mantida pela entidade Reciclázaro, com a ajuda da Secretaria de Assistência Social da cidade de São Paulo. O que diferencia a instituição de outras clínicas do gênero é a sua especialização no atendimento a ex-moradores de rua e a não utilização de medicamentos.
Seu diretor, Fábio Parreira, explica que a entidade se preparou para receber apenas pessoas que já estavam vivendo fora de casa e que freqüentavam os albergues e abrigos da capital paulista. Por isso, ele conta que o trabalho tem que incluir, além das técnicas de reabilitação e desintoxicação normais, práticas para a reintegração na sociedade, seja através do restabelecimento dos laços familiares ou da reintegração através do trabalho e da criação de uma estrutura para que a pessoa se responsabilize por si mesma.
Esta estratégia fica evidente quando se entra em contato com os participantes do projeto. Todos têm uma história de dificuldades, de conflitos familiares e de um processo de exclusão da sociedade que duram anos. Entretanto, durante o trabalho da clínica, composto de atividades nas hortas e práticas esportivas, o pacientes encontra a possibilidade de "se reencontrar e ter forças para procurar um rumo", como eles dizem.
A clínica tem normas rígidas para os assistidos que cumprem uma rotina com horários fixos tanto para o trabalho, quanto para participar da assistência médica e psicológica e das atividades de lazer.
Todos os pacientes entrevistados afirmam que a rigidez é benéfica, pois eles vinham de uma situação de rua onde eles mesmos não conseguiam estabelecer metas, nem mesmo uma rotina porque estavam totalmente concentrados em obter entorpecentes e bebidas.
O ex-assistido Carlos Amandio Goulart Maruli hoje trabalha no setor administrativo da entidade e faz palestras como voluntário. Ele conseguiu formar uma família e contou sua história. Ele decidiu, depois de uma crise em que chegou a tomar álcool combustível, que precisava de ajuda. Após ser levado para o Hospital Sabóia, recebeu orientação e auxílio da assistente social e foi encaminhado para o albergue mais próximo. Lá começou o processo de reabilitação e voltou a trabalhar com um um carrinho para recolher papelão.
"Decidi que queria mais ajuda. Naquela época o álcool era tudo para mim, mas não queria mais continuar nesta situação. Passei por momentos de dúvida, mas como fui muito bem tratado desde que cheguei à clínica resolvi ficar", explica.
O tratamento, que dura seis meses, ajudou Maruli a reordenar sua vida. Hoje, ele trabalha, tem uma remuneração estável e está para se casar. Conheceu sua noiva, na própria clínica, pois ela era prima de um paciente. Divide seu tempo entre o trabalho, as atividades voluntárias na clínica e as palestras para dependentes químicos.
Consciente de que a recuperação é um processo de superação constante, ele conta que "as pessoas aqui ensinam que você é único e não tem que fazer o que os outros fazem e que aquele que vence a si mesmo é realmente forte".
Fortaleza – É em busca desta estrutura emocional e física que está Rogério Marcos Correa, de 33 anos. Dependente de álcool e crack, ele também acabou se afastando da família e foi viver nas ruas de São Paulo. "Cheguei a um ponto em que queria abandonar tudo e me abandonar. Pensei em suicídio", conta.
Ele foi viver nas ruas e encontrou pessoas que indicaram vários albergues para dormir. Depois de passar pelos abrigos do Gasômetro e do Glicério, decidiu procurar as assistentes sociais que trabalham nestas unidades. "Fui encaminhado para o projeto e compreendi que não sou o único com este problema. Vi que outros também passaram por isso e há até pessoas em situação pior", explica.
Completando o sexto mês do programa de reabilitação, Rogério conta que, no começo, pensava que só trataria da dependência química na clínica mas viu que as atividades e, principalmente, o trabalho na horta serviu para refletir sobre o que realmente queria para si mesmo. Funcionário público, ele diz que se envolveu em esquemas de corrupção e que foi seduzido pelo dinheiro fácil. Como já estava envolvido com entorpecentes, ele passou a ingeri-los em quantidades ainda maiores porque tinha mais dinheiro à sua disposição. Agora, diz que vai voltar para a família, que quer ajudá-lo.
"Tenho prazer em dizer que a minha auto-estima está recuperada, pois antes era muito tímido, inseguro e me sentia inferior em relação às outras pessoas. Agora, sei que estou preparado para enfrentar um emprego e estou consciente de que eu tenho que ser eu, o Rogério, e olhar para dentro de mim e me aceitar".
Primeiros passos – Consciente de que o dependente será sempre um dependente, Elias Ambrósio da Silva está iniciando seu tratamento na Vila Verde. Ao contrário de Amandio e Rogério, foi a sua família que o encaminhou para a clínica. Ele diz, com esperança, que está se tratando para poder voltar a morar com seus familiares.
Após um período de 15 anos de uso de entorpecentes, ele tem esperanças de se recuperar porque considera que o ambiente na comunidade é muito bom e os pacientes são unidos porque têm os mesmos problemas e acabam se ajudando. "Os psicólogos e os psiquiatras ajudam e ouvem o que falamos e isso é muito bom. Estou começando a trabalhar na horta, o que é bom para passar o tempo e não ocupar a cabeça com bobagens."
Seu diretor, Fábio Parreira, explica que a entidade se preparou para receber apenas pessoas que já estavam vivendo fora de casa e que freqüentavam os albergues e abrigos da capital paulista. Por isso, ele conta que o trabalho tem que incluir, além das técnicas de reabilitação e desintoxicação normais, práticas para a reintegração na sociedade, seja através do restabelecimento dos laços familiares ou da reintegração através do trabalho e da criação de uma estrutura para que a pessoa se responsabilize por si mesma.
Esta estratégia fica evidente quando se entra em contato com os participantes do projeto. Todos têm uma história de dificuldades, de conflitos familiares e de um processo de exclusão da sociedade que duram anos. Entretanto, durante o trabalho da clínica, composto de atividades nas hortas e práticas esportivas, o pacientes encontra a possibilidade de "se reencontrar e ter forças para procurar um rumo", como eles dizem.
A clínica tem normas rígidas para os assistidos que cumprem uma rotina com horários fixos tanto para o trabalho, quanto para participar da assistência médica e psicológica e das atividades de lazer.
Todos os pacientes entrevistados afirmam que a rigidez é benéfica, pois eles vinham de uma situação de rua onde eles mesmos não conseguiam estabelecer metas, nem mesmo uma rotina porque estavam totalmente concentrados em obter entorpecentes e bebidas.
O ex-assistido Carlos Amandio Goulart Maruli hoje trabalha no setor administrativo da entidade e faz palestras como voluntário. Ele conseguiu formar uma família e contou sua história. Ele decidiu, depois de uma crise em que chegou a tomar álcool combustível, que precisava de ajuda. Após ser levado para o Hospital Sabóia, recebeu orientação e auxílio da assistente social e foi encaminhado para o albergue mais próximo. Lá começou o processo de reabilitação e voltou a trabalhar com um um carrinho para recolher papelão.
"Decidi que queria mais ajuda. Naquela época o álcool era tudo para mim, mas não queria mais continuar nesta situação. Passei por momentos de dúvida, mas como fui muito bem tratado desde que cheguei à clínica resolvi ficar", explica.
O tratamento, que dura seis meses, ajudou Maruli a reordenar sua vida. Hoje, ele trabalha, tem uma remuneração estável e está para se casar. Conheceu sua noiva, na própria clínica, pois ela era prima de um paciente. Divide seu tempo entre o trabalho, as atividades voluntárias na clínica e as palestras para dependentes químicos.
Consciente de que a recuperação é um processo de superação constante, ele conta que "as pessoas aqui ensinam que você é único e não tem que fazer o que os outros fazem e que aquele que vence a si mesmo é realmente forte".
Fortaleza – É em busca desta estrutura emocional e física que está Rogério Marcos Correa, de 33 anos. Dependente de álcool e crack, ele também acabou se afastando da família e foi viver nas ruas de São Paulo. "Cheguei a um ponto em que queria abandonar tudo e me abandonar. Pensei em suicídio", conta.
Ele foi viver nas ruas e encontrou pessoas que indicaram vários albergues para dormir. Depois de passar pelos abrigos do Gasômetro e do Glicério, decidiu procurar as assistentes sociais que trabalham nestas unidades. "Fui encaminhado para o projeto e compreendi que não sou o único com este problema. Vi que outros também passaram por isso e há até pessoas em situação pior", explica.
Completando o sexto mês do programa de reabilitação, Rogério conta que, no começo, pensava que só trataria da dependência química na clínica mas viu que as atividades e, principalmente, o trabalho na horta serviu para refletir sobre o que realmente queria para si mesmo. Funcionário público, ele diz que se envolveu em esquemas de corrupção e que foi seduzido pelo dinheiro fácil. Como já estava envolvido com entorpecentes, ele passou a ingeri-los em quantidades ainda maiores porque tinha mais dinheiro à sua disposição. Agora, diz que vai voltar para a família, que quer ajudá-lo.
"Tenho prazer em dizer que a minha auto-estima está recuperada, pois antes era muito tímido, inseguro e me sentia inferior em relação às outras pessoas. Agora, sei que estou preparado para enfrentar um emprego e estou consciente de que eu tenho que ser eu, o Rogério, e olhar para dentro de mim e me aceitar".
Primeiros passos – Consciente de que o dependente será sempre um dependente, Elias Ambrósio da Silva está iniciando seu tratamento na Vila Verde. Ao contrário de Amandio e Rogério, foi a sua família que o encaminhou para a clínica. Ele diz, com esperança, que está se tratando para poder voltar a morar com seus familiares.
Após um período de 15 anos de uso de entorpecentes, ele tem esperanças de se recuperar porque considera que o ambiente na comunidade é muito bom e os pacientes são unidos porque têm os mesmos problemas e acabam se ajudando. "Os psicólogos e os psiquiatras ajudam e ouvem o que falamos e isso é muito bom. Estou começando a trabalhar na horta, o que é bom para passar o tempo e não ocupar a cabeça com bobagens."