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Avape inclui os deficientes pelo trabalho

Por Paula Cunha   21 de dezembro de 2005
O atual momento é o mais rico dos últimos 35 anos para quem atua em projetos sociais e para quem se beneficia diretamente deles. Essa avaliação otimista é do presidente da Associação para Valorização e Promoção de Excepcionais (Avape), Marcos Antonio Gonçalves, que aproveitou a época de festas para fazer um balanço do avanço do Terceiro Setor no país e da situação dos deficientes brasileiros em 2005.

Segundo Gonçalves, que também atua como conselheiro do Conselho Nacional de Assistência Social, quando for implantado o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que está em fase de desenvolvimento, o Terceiro Setor poderá ser gerenciado com uma visão sistêmica, ou seja, que aborde todos os aspectos que envolvem a realização de seus projetos. Isso contribuirá para realmente valorizar e colocar em prática os planos de real inclusão de todas as camadas da sociedade e não apenas realizar iniciativas assistencialistas.

Na avaliação do presidente da Avape, este é o caminho para o amadurecimento do Terceiro Setor, que conta com entidades que já atuam em nível nacional. Ele acredita que os planos que se baseiam em projetos educacionais e de saúde, por exemplo, e que transformam as comunidades carentes e os grupos excluídos pela sociedade em agentes de seu próprio desenvolvimento, terão prioridade tanto do ponto de vista de adoção de políticas públicas quanto de iniciativas envolvendo o setor privado.

Ele reforça este raciocínio lembrando que muitas empresas que começaram a adotar práticas de responsabilidade social tinham dificuldades em desenvolver projetos no início, preferindo iniciativas pontuais como a distribuição de cestas básicas e contribuições em dinheiro para entidades assistenciais.

Depois de algum tempo, muitas dessas corporações passaram a interagir com a comunidade onde estavam instaladas e desenvolveram planos para atender as suas necessidades e para transformar a realidade local.

Na avaliação do presidente da Avape, para alcançar estes objetivos o SUAS terá que focar sua atuação junto à família, em ações que valorizem a criação de estruturas que permitam aos pais proporcionar condições favoráveis de desenvolvimento para crianças e adolescentes. "O principal objetivo de todos deve ser o de resgatar as famílias", ressalta Gonçalves.

Deficientes – No campo da integração deste grupo específico, Gonçalves reforça a tese de que a lei que exige a contratação de deficientes em porcentagens proporcionais ao total de funcionários (a Lei 8.213, de 1991, determina a contratação de deficientes em número equivalente a uma proporção de 2% a 5% do seu total de contratados) é necessária porque ainda existe muito preconceito em relação à capacidade dos portadores de necessidades especiais.

"Nossa sociedade ainda é muito injusta e atrasada, pois precisa de leis que a obriguem a integrar as minorias. O mundo se globalizou e está em um processo de inclusão das minorias. Por isso, o momento é contraditório porque aqui ainda precisamos das leis para efetuar essa inclusão. A lei de quotas acaba sendo benéfica porque permite a inclusão de pessoas que nunca trabalharam. Muitos estão tendo a chance de obter o primeiro emprego agora com o aumento da fiscalização para a real aplicação da lei", diz.

Gonçalves avalia, também, as reações das empresas que estão cumprindo a legislação de quotas. Muitas, diz ele, após um longo processo de resistência, se adaptaram para receber estes profissionais e hoje já ultrapassaram a quota exigida pela lei.

Ele cita como exemplo a Bombril, que inicialmente contratou 70 pessoas na linha de produção, ultrapassou o número mínimo exigido e hoje já procura em entidades como a Avape mais profissionais desse segmento para o seu quadro de funcionários.

Entretanto, outras companhias de diversos portes estão encarando essa exigência legal como mais um problema e não estão preparadas para uma mudança de mentalidade. Para Gonçalves, os argumentos de que a adaptação do espaço físico e a necessidade de treinar tanto os novos funcionários quanto os antigos são fatores que dificultam ainda mais o cumprimento da lei não são válidos.

"Os deficientes são capazes. O que acontece é que ainda há preconceito e muitas vezes os departamentos de Recursos Humanos não estão habilitados a integrar estas pessoas ao ambiente de trabalho. A Avape oferece consultoria específica para treinar estes profissionais de RH."

Novos horizontes – A Avape está expandindo seu campo de atuação e começou a fazer um trabalho social dentro da favela de Heliópolis, na capital paulista. O objetivo é atender grupos carentes socialmente que acabam sendo considerados deficientes porque têm desempenho tanto escolar quanto profissional abaixo da média em decorrência de suas condições de vida.

Este trabalho também se desenvolve em escolas, pois anteriormente a entidade concentrava suas energias em preparar diretores, professores e funcionários de escolas para receber alunos deficientes ou portadores de necessidades especiais.

Ao mesmo tempo, a Avape inaugurou recentemente quatro novas unidades nas quais continua com a oferta de cursos de aperfeiçoamento profissional para deficientes para que eles possam ingressar no mercado de trabalho com uma qualificação melhor. O plano, segundo Gonçalves, é intensificar também o número de palestras de orientação para promover a inclusão destas pessoas em empresas, escolas e outras entidades. Em 2005, a Avape realizou cerca de 300 dessas palestras, principalmente no estado de São Paulo.

Além disso, o presidente da entidade pretende criar residências para deficientes que não têm família nem onde morar. As unidades serão implantadas principalmente no centro das cidades para que estas pessoas se integrem à rotina destes locais. A primeira dessas unidades será instalada na cidade de Taubaté, no interior de São Paulo.

"A Avape tem uma visão holística da pessoa com deficiência. Ela tem que ter trabalho, mas também educação, cultura, lazer e outras atividades. Queremos, com essas propostas, fazer com que as entidades derrubem seus muros e passem a dar um atendimento mais completo a estas pessoas", conclui Marcos Gonçalves.

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