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Jovens carentes descobrem a Itália pela gastronomia

Por Mário Tonocchi    5 de abril de 2006
O adolescente Wellthon Luiz Matsumoto não quer morar na Itália –apesar de tudo que um país do primeiro mundo pode oferecer. “É muito frio lá. A gente sente falta do calor do brasileiro, da nossa terra, da família e dos amigos.”

O rapaz foi um dos 14 adolescentes carentes de Campinas, meninos e meninas, que participaram de um curso de 18 dias de aprendizagem em alta gastronomia na Scuola Regionale Alberghiera e di Ristorazione, de Serramazzoni, na Itália, na segunda quinzena de outubro do ano passado. Durante a viagem estudaram teoria e prática da cozinha italiana e também da culinária mediterrânea.

São alunos dos cursos de língua italiana e gastronomia da organização não-governamental Aprendizado Doméstico Santana, de Campinas, que deve mandar novamente, este ano, mais um grupo para essa mesma escola italiana. Desta vez para mais um estágio de três meses, a partir do mês de junho.

O aprendizado e as viagens podem ser uma oportunidade para esses adolescentes carentes se apropriarem de seus próprios destinos de uma vez por todas. Tudo graças à persistência de uma mulher italiana que aposta na capacidade de desenvolvimento humano e pelo apoio fundamental do Movimento Degrau.

Voltar para a escola da Itália para mais um período de aprendizagem, agora, é tudo o que Wellthon –hoje trabalhando como aprendiz de cozinha no hotel The Royal Palm Plaza–, e outros 30 garotos e garotas do curso de gastronomia da Aprendizado Doméstico Santana querem.

Mas escolhas devem ser feitas. Apenas uma parcela dos jovens, que pode variar entre seis e nove estudantes, deve ser escolhida entre os 30 alunos para essa nova viagem. Isso porque o estágio é um convite especial que o diretor da escola, Giuseppe Schipano, fez aos brasileiros que participaram do curso no ano passado. Ele oferece bolsas de estudo que incluem estadia e alimentação dentro da escola. Mas não para todos.

As novas bolsas da Scuola Regionale Alberghiera e di Ristorazione, entretanto, não são garantia de uma nova incursão pela cozinha italiana. Falta ainda o dinheiro das passagens e do seguro de vida para os adolescentes poderem viajar novamente para a Itália. São necessários pelo menos dez mil dólares.

Em busca de verba – Conseguir o dinheiro para o retorno à Itália é uma questão de honra. “Quando estivemos lá as pessoas da escola ficaram impressionadas com a criatividade e o esforço de nosso grupo. Por isso, nos deram essas bolsas para o novo estágio”, disse Maria Susy Pacchioni, a italiana persistente que dá aulas de sua língua nesse projeto de capacitação gastronômica que ela mesma montou junto com a ONG.

Para angariar verba, os alunos estão planejando, talvez para o mês de maio, um jantar onde todos vão trabalhar na cozinha ou no serviço. Maria Susy também espera a ajuda da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic), como aconteceu na primeira viagem de estudos à escola italiana de gastronomia.

Movimento Degrau – Os adolescentes carentes brasileiros entraram na vida de Maria Susy quando ela passou a morar tempos aqui e períodos na Itália acompanhando o marido que trabalha na Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria, em São Paulo. Há dois anos ela montou o projeto de capacitação em gastronomia e fluência em italiano para jovens carentes de Campinas com a ONG Santana. Para ela, o apoio do Movimento Degrau, em Campinas, foi e está sendo fundamental para a continuidade do trabalho com esses adolescentes.

De acordo com a coordenadora do Movimento, em Campinas, Vera Lia Cardoso Teixeira, o trabalho realizado com o aprendizes de gastronomia já mudou a vida de todos os participantes dos cursos da ONG Santana. Todos os 30 adolescentes que participam do curso de gastronomia da organização não-governamental já estão trabalhando na área como aprendizes na cozinha ou na hotelaria da cidade. Encerrado o processo de aprendizado, geralmente, os adolescentes acabam sendo contratados já como profissionais pelos hotéis ou restaurantes.

Futuro profissional – A aluna da ONG, Taise de Oliveira, é uma das que sonha em se firmar na área. Ela não deve seguir para a Itália nesse segundo estágio deste ano porque tem 17 anos. Um dos critérios eliminatórios para a escolha dos seis ou nove que vão é ter mais de 18 anos. “Não vai faltar uma próxima vez”, diz a menina que trabalha como camareira no hotel New Port Residence em Campinas há cinco meses. “É a melhor coisa que já aconteceu na minha vida. Pretendo, com certeza, crescer no setor de hotelaria e gastronomia”, disse a garota.

Aos 18, Wesle Rodrigues Pereira, alimenta uma ponta de esperança de voltar à Itália. “Sempre gostei de cozinha”, diz o garoto que trabalha no setor de saladas do bufê de almoço do restaurante do The Royal Palm Tower, localizado no centro de Campinas. O garoto pensa longe e grande. Quer ser dono de restaurante ou mesmo de hotel. Um sonho ainda distante mas que ele acredita pode se tornar realidade com a possibilidades que tem nas aulas de gastronomia e as viagens que está fazendo para aprender a culinária italiana e mediterrânea na Itália.

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