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Um retrato da desigualdade social nas empresas
Por Paula Cunha / Diário do Comércio   19 de abril de 2006
O "Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas - Pesquisa 2005" indica que ainda há grande desigualdade no mercado de trabalho brasileiro. Apesar disso, comparando-se os resultados de 2001 e 2003 com os de 2005, o que mais chama a atenção é o progressivo crescimento da parcela de mulheres no quadro executivo e de gerência das empresas. Outro ponto positivo a destacar é o aumento da participação dos portadores de deficiência entre os funcionários das empresas. Continua muito baixa, no entanto, a presença de negros e de dirigentes na faixa etária acima de 45 anos nos quadros funcionais e gerenciais.
Os resultados da pesquisa, de acordo com os organizadores, mostram a composição das maiores companhias que atuam no país por raça, gênero, faixa etária, tempo de casa e escolaridade de seus funcionários e dirigentes. Os números apurados são um retrato das desigualdades observadas em todo o país.
No caso da participação feminina no trabalho, os resultados do estudo apontaram que houve maior inclusão deste grupo, mas o mesmo não se observou na sua ascensão dentro das empresas. Em comparação com os índices da população economicamente ativa, a participação feminina é subrepresentada: o segmento apresenta 32,6% de atuação em cargos executivos contra os 51,3% na população total brasileira.
Nos cargos de gerência, houve crescimento da presença feminina, de 18% para 31%, de 2003 para 2005, índice considerado ainda pequeno, pois quanto mais alta a instância de poder menor a presença feminina, mostra a pesquisa.
Deficientes e negros – Destaque para o salto na participação das pessoas com deficiência: em 2005 elas ocupavam 13,6% dos postos de trabalho enquanto em 2003 esse porcentual era de 3,5%. A aplicação das leis de quotas e a fiscalização por parte dos órgãos oficiais contribuíram para este avanço.
Quanto à participação dos negros, a comparação entre os dois relatórios indica resultado positivo tanto na análise dos cargos de chefia quanto nos níveis hierárquicos inferiores. Em 2005, os negros passaram a representar 26,4% dos postos de trabalho, contra 23% em 2003. Apesar deste avanço, a pesquisa ressalta que o número de negros ainda é menor que o de mulheres nas empresas. Quando se analisa a situação da mulher negra, a situação é pior: ela representa 8,2% das mulheres gerentes e 4,4% das diretoras.
No caso da análise da inclusão por faixa etária, os números também são negativos para os indivíduos com idade acima de 45 anos. Prevalecem os profissionais com idades inferiores a essa em todos os cargos. Nas faixas de 46 a 55 anos e de 56 ou mais os níveis de presença detectados eram bastante inferiores. As porcentagens indicam aumento do contingente de profissionais nos cargos de executivos de 25 a 45 anos, que passaram de 45,5% em 2003 para 51,1% em 2005, o que reforça a opção das empresas por funcionários mais jovens.
Segundo Paulo Itacarambi, diretor-executivo do Instituto Ethos, esta opção por profissionais mais jovens é um problema que precisa ser enfrentado e que está se agravando com o aumento da expectativa de vida dos brasileiros e com as novas regras que elevaram a idade mínima para a aposentadoria. Esta camada da população precisa ser melhor aproveitada, de acordo com o estudo.
Análise – Realizada pelo Instituto Ethos e pelo Ibope, a pesquisa foi divulgada ontem, em São Paulo. O objetivo principal do estudo é reafirmar a importância da diversidade social para as empresas e reforçar a necessidade de incluir todos as camadas da sociedade na vida produtiva do país. Foram enviados questionários para as 500 maiores empresas do Brasil. Deste total, 119 deles foram preenchidos e devolvidos, o que representa 24% do total enviado, com dados sobre 626.174 pessoas.
Apresentando uma avaliação bastante crítica quanto à atuação das empresas brasileiras no campo das ações em favor da diversidade, o presidente do conselho deliberativo do Instituto Ethos, Oded Grajew, afirmou que, no Brasil, não se aprendeu nada com o pensamento religioso e filosófico que analisa a raiz da busca da igualdade na justiça, que é a base na qual os povos se fundamentam para alcançar este objetivo. "Neste sentido, esta pesquisa assume o papel de ser um check-up e uma radiografia da nossa sociedade", completou Grajew.
Otimismo – Apesar das reclamações gerais, a representante do Ipea, Ana Peliano, destacou que esta e outras pesquisas são importantes para não apenas dar visibilidade a estes números, mas colocar claramente que existe discriminação no país.
"Nos anos 90, não se admitia que havia discriminação e que a conclusão era de que existiam camadas excluídas apenas em função da pobreza e da má distribuição de renda. O que se observa é que a discriminação continua porque, ao serem incluídos no mercado de trabalho, os negros ainda recebem salários menores", afirmou Peliano.
Segundo ela, a pesquisa tem grande mérito porque consegue captar a evolução do impacto das ações afirmativas para diminuir as desigualdades. "Espero que nos próximo anos possamos registrar mais avanços", concluiu.
Participaram da pesquisa a Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Eaesp), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem).
Os resultados da pesquisa, de acordo com os organizadores, mostram a composição das maiores companhias que atuam no país por raça, gênero, faixa etária, tempo de casa e escolaridade de seus funcionários e dirigentes. Os números apurados são um retrato das desigualdades observadas em todo o país.
No caso da participação feminina no trabalho, os resultados do estudo apontaram que houve maior inclusão deste grupo, mas o mesmo não se observou na sua ascensão dentro das empresas. Em comparação com os índices da população economicamente ativa, a participação feminina é subrepresentada: o segmento apresenta 32,6% de atuação em cargos executivos contra os 51,3% na população total brasileira.
Nos cargos de gerência, houve crescimento da presença feminina, de 18% para 31%, de 2003 para 2005, índice considerado ainda pequeno, pois quanto mais alta a instância de poder menor a presença feminina, mostra a pesquisa.
Deficientes e negros – Destaque para o salto na participação das pessoas com deficiência: em 2005 elas ocupavam 13,6% dos postos de trabalho enquanto em 2003 esse porcentual era de 3,5%. A aplicação das leis de quotas e a fiscalização por parte dos órgãos oficiais contribuíram para este avanço.
Quanto à participação dos negros, a comparação entre os dois relatórios indica resultado positivo tanto na análise dos cargos de chefia quanto nos níveis hierárquicos inferiores. Em 2005, os negros passaram a representar 26,4% dos postos de trabalho, contra 23% em 2003. Apesar deste avanço, a pesquisa ressalta que o número de negros ainda é menor que o de mulheres nas empresas. Quando se analisa a situação da mulher negra, a situação é pior: ela representa 8,2% das mulheres gerentes e 4,4% das diretoras.
No caso da análise da inclusão por faixa etária, os números também são negativos para os indivíduos com idade acima de 45 anos. Prevalecem os profissionais com idades inferiores a essa em todos os cargos. Nas faixas de 46 a 55 anos e de 56 ou mais os níveis de presença detectados eram bastante inferiores. As porcentagens indicam aumento do contingente de profissionais nos cargos de executivos de 25 a 45 anos, que passaram de 45,5% em 2003 para 51,1% em 2005, o que reforça a opção das empresas por funcionários mais jovens.
Segundo Paulo Itacarambi, diretor-executivo do Instituto Ethos, esta opção por profissionais mais jovens é um problema que precisa ser enfrentado e que está se agravando com o aumento da expectativa de vida dos brasileiros e com as novas regras que elevaram a idade mínima para a aposentadoria. Esta camada da população precisa ser melhor aproveitada, de acordo com o estudo.
Análise – Realizada pelo Instituto Ethos e pelo Ibope, a pesquisa foi divulgada ontem, em São Paulo. O objetivo principal do estudo é reafirmar a importância da diversidade social para as empresas e reforçar a necessidade de incluir todos as camadas da sociedade na vida produtiva do país. Foram enviados questionários para as 500 maiores empresas do Brasil. Deste total, 119 deles foram preenchidos e devolvidos, o que representa 24% do total enviado, com dados sobre 626.174 pessoas.
Apresentando uma avaliação bastante crítica quanto à atuação das empresas brasileiras no campo das ações em favor da diversidade, o presidente do conselho deliberativo do Instituto Ethos, Oded Grajew, afirmou que, no Brasil, não se aprendeu nada com o pensamento religioso e filosófico que analisa a raiz da busca da igualdade na justiça, que é a base na qual os povos se fundamentam para alcançar este objetivo. "Neste sentido, esta pesquisa assume o papel de ser um check-up e uma radiografia da nossa sociedade", completou Grajew.
Otimismo – Apesar das reclamações gerais, a representante do Ipea, Ana Peliano, destacou que esta e outras pesquisas são importantes para não apenas dar visibilidade a estes números, mas colocar claramente que existe discriminação no país.
"Nos anos 90, não se admitia que havia discriminação e que a conclusão era de que existiam camadas excluídas apenas em função da pobreza e da má distribuição de renda. O que se observa é que a discriminação continua porque, ao serem incluídos no mercado de trabalho, os negros ainda recebem salários menores", afirmou Peliano.
Segundo ela, a pesquisa tem grande mérito porque consegue captar a evolução do impacto das ações afirmativas para diminuir as desigualdades. "Espero que nos próximo anos possamos registrar mais avanços", concluiu.
Participaram da pesquisa a Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Eaesp), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem).