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Por ONGs mais profissionais

Por Maristela Orlowski    26 de abril de 2006
Não bastam apenas boa vontade e força de trabalho para obter resultados eficazes no desempenho das atividades de uma Organização Não-Governamental (ONG). Em um país como o Brasil, onde o Terceiro Setor vem amadurecendo nos últimos anos, profissionalizar e capacitar funcionários e voluntários atuantes nessas organizações é medida imprescindível para garantir uma gestão eficiente e transparente, além de elevar sua credibilidade perante a sociedade. Aqui, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Associação Brasileira de ONGs (Abong), o Terceiro Setor abriga mais de 276 mil instituições privadas sem fins lucrativos.

De acordo com o especialista em planejamento e avaliação de programas do Terceiro Setor e autor do livro "Terceiro Setor – História e Gestão de Organizações", Antônio Carlos Carneiro de Albuquerque, cerca de 75% das ONGs existentes no país são de pequeno porte, e a maioria sofre dificuldades em sua gestão, o que acaba influenciando negativamente as demais atividades.

"A gestão de organizações do Terceiro Setor é ponto estratégico para seu bom funcionamento e para o cumprimento de sua missão e de seus objetivos", avalia Albuquerque. Para ele, muitas ONGs têm história e capacidade para envolver a comunidade, mas não têm estratégia de gestão e ferramentas de planejamento, de captação de recursos e de marketing. "É preciso democratizar essas informações", ressalta.

Mercado de consultoria – Como ainda existe uma carência de profissionais especializados na gestão de Terceiro Setor dentro das organizações, muitas delas terceirizam a execução de projetos e a resolução de demandas específicas. O mercado de consultoria, assim como o de assessoria, com especialistas em captação de recursos, marketing, gestão empresarial, auditoria e legislação está crescendo para atender a essa grande demanda.

Atualmente, para assegurar a própria existência, o serviço mais procurado pelas instituições sem fins lucrativos é mesmo o da captação de recursos ou "fund raising", já que a falta de recursos financeiros pode ser considerada um dos maiores entraves para a criação e desenvolvimento das entidades.

Segundo Albuquerque, que já coordenou projetos e consultorias para organizações de diferentes setores e países, "mobilizar recursos não é apenas assegurar recursos novos ou adicionais, mas também otimizar os recursos já existentes, aumentando a eficácia e eficiência dos planos, além de conquistar novas parcerias e obter fontes alternativas de recursos financeiros".

Para a diretora da Dearo Marketing Social e Cultural, Fernanda Dearo, que traz na bagagem uma experiência pessoal de 12 anos na busca de dinheiro para manter entidades sociais, a falta de profissionais especializados faz aumentar a demanda pelo serviço de assessoria.

"Geralmente, tentamos convencer as ONGs a optarem pela consultoria, pois não fazemos as coisas para elas, como ocorre na assessoria, mas ensinamos a fazer", comenta. "Utilizamos uma metodologia própria, a nossa 'Fórmula do Sucesso', que organiza todo o trabalho, passo-a-passo."

Mobilização – Conforme explica Fernanda, há diferentes ferramentas para mobilizar verbas, como eventos, marketing direto, campanhas de marketing social, projetos, e elas devem ser cuidadosamente exploradas.

"A captação de recursos é uma atividade complexa, onde é preciso ser bom em várias coisas. Saber vender, contatar, elaborar propostas, ser criativo, rápido no raciocínio, enxergar os objetivos do cliente e adequar suas necessidades aos desejos", explica.

"Comunicação é tudo nesse processo, assim como paciência, já que é uma atividade de médio e longo prazo", ressalta a especialista.

Segundo o diretor da Criando Consultoria, Michel Freller, é preciso ter uma plano estratégico para captação que estabeleça metas, objetivos e formas de captação, de acordo com o público que se pretende atingir. "Existem diferentes tipos de abordagem para mobilizar recursos. Tem que saber onde ir, a quem pedir", diz o executivo.

"Temos que estudar as empresas, saber em que áreas elas apóiam e se sensibilizam. Só assim vamos saber onde captar. Não dá para sair captando. É preciso se preparar antes de sair para o mercado", complementa Freller.

O trabalho não é nada fácil. O diretor da Criando conta que está captando recursos para a Casa Hope, organização sem fins lucrativos que atende crianças com câncer. A entidade quer construir uma sede própria, na zona Sul da capital paulista, no valor de R$ 6 milhões, para dobrar sua capacidade de atendimento e cobrir cerca de 60% das demanda atual por leitos de apoio da cidade de São Paulo.

"Apresentamos nosso projeto de captação a 150 empresas que têm interesse na área e já fechamos com dez."

Assessoria jurídica – O diretor da Criando Consultoria conta ainda que a segunda maior demanda nas organizações está na área jurídica, na elaboração de estatutos, registros, obtenção de títulos e certificados, especificidades trabalhistas e adaptações ao novo Código Civil.

A legislação relativa ao Terceiro Setor sofreu modificações nos últimos anos, criando a necessidade de adaptação dos projetos sociais das entidades não-governamentais aos moldes jurídicos. "Praticamente, todos os nossos clientes tiveram que adequar sua documentação ou começar do zero", diz Freller.

"Isso mostra seriedade e transparência da instituição", ressalta o especialista.

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