Notícias

Bancos buscam adaptar instalações a clientes especiais

Por Ana Laura Diniz    3 de maio de 2006
Analista de sistema, deficiente físico e cliente de um dos maiores bancos nacionais. Gustavo Pereira Simões, de São Paulo, está prestes a ir à Justiça para que seu banco se adapte às suas condições físicas e instale um caixa eletrônico no qual possa, sozinho, utilizar os inúmeros serviços bancários disponíveis nos caixas eletrônicos, sem precisar ceder sua senha a desconhecidos.

Ações cotidianas que passam despercebidas para a maioria da população, são sentidas na pele quando se trata de um portador de deficiência física. "Atentos a isso, investimos fortemente em tecnologia para oferecer novas soluções de produtos e serviços financeiros para todo público", disse o diretor do Bradesco Dia e Noite, Marcos Bader.

A última novidade do banco é o fornecimento de uma "chave de segurança" para clientes portadores de deficiência visual. É um dispositivo eletrônico que gera senhas aleatórias para que o cliente acesse sua conta. "As senhas são informadas por meio de som digital, através de fone de ouvido", disse Bader.

Esta iniciativa beneficiará os três mil clientes portadores de deficiência visual cadastrados no Bradesco Internet Banking. "É preciso desenvolver software que utiliza recursos de multimídia do computador e da internet para a inclusão digital dessas pessoas. Por meio do software, o cliente pode consultar saldos e extratos, pagar boletos de cobrança, de contas de consumo, de IPTU, realizar transferências entre contas e recarregar celular pré-pago", disse Bader.

Ações – Rampas de acesso, portas sem catracas giratórias, caixas eletrônicos com altura mínima para cadeirantes, softwares e telefones especiais para orientação de portadores de deficiência visual e auditiva são as principais medidas tomadas pelos bancos que adaptam seu atendimento a este público. O Banco Real, por exemplo, disponibiliza gratuitamente nas agências o software Virtual Vision, que permite a navegação na internet com comandos de voz para deficientes visuais.

Quem tiver interesse em adquirir a ferramenta basta solicitá-la ao gerente de qualquer uma das agências e retirar o CD após uma semana da data do pedido. Produzido pela MicroPower, o programa possibilita que os deficientes naveguem na internet por meio de comandos de voz e usem os principais aplicativos do PC, como processador de textos, planilhas e recursos de apresentação. Para usar a ferramenta, o deficiente precisa ter apenas um computador com recursos multimídia.

Na primeira fase da campanha, realizada em 2004, foram distribuídas mil licenças do software. Para a extensão da campanha, o Banco Real investe R$ 170 mil para oferecer a versão atualizada do Virtual Vision. O material estará disponível até 5 de novembro de 2006 ou enquanto houver estoque.

Produtos – Já a Nossa Caixa oferece uma linha de crédito exclusiva para deficientes. Através dela é possível financiar a aquisição de equipamentos que atendam necessidades impostas por limitações motoras, auditivas, visuais ou neurosensoriais; comprar cadeiras de rodas, aparelhos ortopédicos, auditivos, próteses, máquinas Braille, PCs especiais, ou ainda, adaptar veículos.

O financiamento destina-se, também, à contratação de serviços como fisioterapia, terapia ocupacional e de reabilitação. Os clientes podem financiar até R$ 4 mil em até 24 parcelas, com taxa de juros diferenciada, observando que para valores acima de R$ 1.500 são financiados 80% da nota fiscal e para valores acima de R$ 3.000 é necessária a apresentação de aval.

Parece, mas não é – O que parece maravilhoso, dificilmente corresponde à realidade. A afirmação é do advogado da Associação Nacional de Defesa da Cidadania e do Consumidor (Anadec), Ronni Fratti, que, em parceria com os advogados Daniel José Ribas Branco e Ana Lúcia Bianco, promoveu ações civis públicas contra a maioria das instituições financeiras que operam no país. Dentre eles, Bank Boston, BMG, Bradesco, Caixa Econômica Federal (CEF), Citibank, Itaú, Nossa Caixa, Santander e Unibanco.

"Nesta semana, estaremos distribuindo ações contra todos os bancos estaduais em suas respectivas capitais, como o Banestes, Banrisul, Basa, Besc e BRB, a fim de forçá-los judicialmente a cumprirem a legislação em prol dos deficientes", disse Fratti.

Até o momento, a Anadec obteve liminares em ações movidas contra o Citibank, CEF e o Mercantil do Brasil, sendo que a 31ª Vara Cível de São Paulo obrigou o Citibank a adaptar seus caixas eletrônicos para deficientes, no prazo de um ano, sob pena de multa diária de R$ 500 mil. Outra decisão similar obriga a CEF a adaptar um quinto de seus caixas eletrônicos às necessidades dos deficientes físicos, sensoriais e de mobilidade reduzida. O banco já recorreu dessa decisão da 20ª Vara Cível de São Paulo. Nesta ação os clientes também foram representados pela Anadec.

De acordo com assessoria de imprensa da CEF, essa decisão encontra-se suspensa por determinação do TRF da 3ª Região, uma vez que o banco já está tomando as providências necessárias para possibilitar a instalação dos equipamentos destinados aos deficientes, inclusive em número maior do que o pleiteado, estando por ora atendidos "os preceitos legais e constitucionais a respeito do tema".

"É lamentável que as instituições tenham que ser acionadas na Justiça para que preceitos básicos como estes sejam incorporados às suas ações. Mas trabalhamos a favor da população e do tratamento igualitário, e não mediremos esforços para que todos adaptem seus produtos e serviços", finalizou Fratti.

Comentários dos Leitores