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A outra seleção brasileira

Por Maristela Orlowski    17 de maio de 2006
Entregar uma pulseira verde-amarela a cada um dos 23 jogadores da Seleção Brasileira de Futebol e desejar a eles boa sorte nesta Copa do Mundo. É isso que o jovem paulistano Lucas Eduardo Santos, de 15 anos, vai fazer quando encontrar o time em 22 de junho, dia em que o Brasil disputará a partida contra o Japão no estádio de Dortmund, Alemanha.

Lucas é um dos três meninos brasileiros integrantes de projetos sociais de Organizações Não-Governamentais (ONGs) que entrarão em campo carregando a bandeira nacional e representando a paixão e o orgulho do povo brasileiro pelo futebol. "Também quero pedir uma camisa autografada, uma chuteira e uma bola", lembra.

O garoto, que treina como meia-esquerda na Escolinha de Futebol da Portuguesa, participa das Copas Nike, Topper e Sul-Americana Sub-12, e pretende ser jogador profissional, diz que já está se preparando para a viagem: "Comecei a estudar algumas palavras em alemão, a história do Brasil e da raça afro-brasileira, assim como os títulos da Seleção". O entusiasmo é grande. "Já fui a estádios, mas nunca pisei no gramado. Nunca saí de São Paulo e jamais imaginei sair do país. Quero muito representar a minha raça lá na Alemanha."

A ligação do jovem com o esporte vem de longa data. Seu pai, o guardador de automóveis César Eduardo Silva dos Santos, foi jogador de futebol e já vestiu a camisa de 14 times, como Portuguesa, Bragantino, Embu-Guaçu e Confiança de Sergipe. Hoje, ele incentiva o filho, que acorda diariamente às 5h para treinar com o pai. A inspiração vem também de outro craque –Ronaldinho Gaúcho. "Ele encanta todo mundo", ressalta o fã número um do craque do Barcelona.

Afazeres – Lucas é um garoto que não pára. Estudante da 8ª série, ele também participa de atividades promovidas pela Fundação Orsa –criada em 1994 com o compromisso de reduzir a desigualdade e a injustiça social no país– e do Projeto Guri –criado em 1995 pela Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, que socializa crianças e adolescentes que vivem em lugares culturalmente carentes através de orquestras-escola, corais e grupos musicais.

"Jogo bola, toco percussão e participo da orquestra", conta o garoto, integrante do Pólo Zumbi dos Palmares do Projeto Guri, na Sociedade Afro-Brasileira de Desenvolvimento Sócio-Cultural (Afrobras). "Quero ver se eles deixam eu tocar lá na Alemanha. Ia ser o máximo."

Quando o assunto é percussão, Lucas dá outro show. Desta vez, quem rouba o cenário não é a bola, mas sim o pandeiro, o djembe, o tamborim e o afoxé (instrumentos musicais de origem africana). Que o diga o músico Silas Fherrer, que dá aulas de percussão no Projeto Guri desde 2000: "Logo que entrei neste pólo do projeto, percebi a grande facilidade do Lucas em aprender. Ele pega tudo muito rápido. Em três meses já passou da turma de iniciantes para a orquestra", comenta.

Diferenciação – De acordo com a vice-presidente executiva da Afrobras e responsável pelo Projeto Guri dentro do Pólo Zumbi dos Palmares, Ruth Lopes, a iniciativa visa à inclusão social de crianças de 8 a 16 anos através da música. "O pólo é diferenciado, porque trabalhamos com a questão da cultura afro-brasileira", diz.

Segundo ela, o papel desse projeto é muito importante, visto que não muda apenas a visão de mundo das crianças, mas também da família. "O Lucas, por exemplo, deixou de trabalhar com o pai, guardando carros, e voltou a estudar." Atualmente, o Projeto Guri, dentro da Afrobras, abraça cerca de 110 crianças, que participam das aulas de orquestra e coral.

Rumo a Alemanha – A iniciativa de levar garotos carentes para a Copa faz parte do programa "Leve essa Bandeira" –promovido pela Coca-Cola– e reunirá cerca de 300 jovens de 23 países. No Brasil, a empresa destinou seis das 12 vagas para jovens integrantes de projetos sociais de Organizações Não-Governamentais (ONGs).

Para o diretor de Comunicação da Coca-Cola Brasil, Marco Simões, essa é uma ótima oportunidade para estreitar laços com importantes agentes da responsabilidade social do país. "A visão que temos hoje é que atingiremos resultados mais consistentes para a sociedade se agirmos como uma rede, com interação permanente entre empresas e entidades. É essa proximidade que nos permitirá pensarmos juntos na solução para os problemas do país", avalia.

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