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Uma cartilha pelo fim da pornografia na internet

Por Paula Cunha    24 de maio de 2006
Conhecer um grupo de "hackers do bem" pode parecer uma obra de ficção. Mas não é. Eles existem. Um grupo de adolescentes paulistanos com idade de 14 a 19 anos, acabam de lançar em São Paulo a Cartilha 1.0, uma cartilha, como o nome diz, com o objetivo de combater a pornografia infantil veiculada na internet. O lançamento se deu no último dia 18, considerado o Dia Nacional de Combate à Exploração e ao Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes.

Os autores da Cartilha 1.0 são jovens que participam da Organização Não-Governamental (ONG) HackerTeen, que nasceu dentro da empresa paulista 4Linux, especializada em soluções para software livre. Ela oferece cursos de formação em segurança da computação para adolescentes.

Escrita em linguagem fácil e acessível ao público adolescente e, também, aos adultos não familiarizados com o mundo digital, a cartilha é o primeiro resultado prático da associação entre a HackerTeen e a Safernet Brasil, responsável pela central de denúncias que combate crimes contra os direitos humanos. O documento já se encontra disponível na internet no endereço www.hackerteen.com.br .

Números – Levando-se em conta que o Brasil tem, atualmente, 14,1 milhões de usuários da internet, e que esses usuários batem recordes de permanência online (algo em torno de 19 horas e 24 minutos conectados, por mês) e que existem 18 milhões de usuários do site de relacionamento Orkut, a navegação segura na rede ganha cada vez mais importância.

Durante o evento de apresentação da cartilha, o presidente da SaferNet Brasil, Thiago Tavares, ressaltou a iniciativa como uma forma de conscientizar não apenas os pais, mas também os adolescentes, dos benefícios e malefícios do uso da internet. "Você pode usar a pedra lascada para acender o fogo, mas também pode matar uma pessoa com ela. A faca pode passar a manteiga no pão, mas também pode matar. Com a internet é a mesma coisa: a maioria a usa para trabalhar, se conhecer ou aprender. A minoria vende drogas, alicia crianças, incita o ódio racial, entre outras coisas", diz Tavares.

No caso mais específico do Orkut, o executivo lembrou que o canal de relacionamento tornou-se um "paraíso para a ação de pedófilos e de nazistas". Informou, ainda, que a Safernet recebeu 25,5 mil denúncias. Desse total, 12.171 estavam ligadas a casos de pornografia infantil; 2.962 faziam apologia ao linchamento racial, 2.058 ao racismo, 1.930, ao neonazismo, 1.466, aos maus-tratos a animais, 592, à homofobia e 358, à xenofobia.

Diante desses números, Tavares conclamou a sociedade civil a "tomar para si as rédeas da discussão sobre os limites de uso da internet. Essa é a primeira parceria entre a Safernet e a iniciativa privada e mostra que as demais empresas precisam assumir sua responsabilidade sobre o problema da pornografia na web", conclui.

Os adolescentes envolvidos no projeto têm consciência dessa realidade e participaram dele para transformá-la. Para o sociólogo Sérgio Amadeu, a cartilha é uma iniciativa que deve ser fomentada porque cada vez mais a sociedade se comunica por meio dos computadores. Para ele, a liberdade de uso da internet tem de ser preservada, mas todos devem discutir o assunto.

A diretora de Responsabilidade Social do HackerTeen, Eliane Feliz, ressaltou a natureza social do projeto. "O HackerTeen já nasceu com a preocupação social de canalizar a energia dos jovens para ações produtivas. E a cartilha é o resultado dessa filosofia", ressalta ela.

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