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Capoeira: luta pela inclusão

Por Sílvia Pimentel    7 de junho de 2006
Foto de Newton Santos / HYPE Cadeirante também tem vez nessa roda de capoeira
A capoeira é combate, esporte, jogo, dança ou um diálogo de corpos, como bem definiu um de seus mestres? Para um grupo de crianças, adolescentes e mães da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) que a pratica, é tudo isso mas, sobretudo, representa uma luta diária pela inclusão social. E também uma terapia para o corpo e mente.

"A capoeira me faz muito bem, me ajuda a controlar a timidez. É também uma porta para eu me integrar na sociedade", diz a estudante Nathália Lopes, de 12 anos, portadora de uma má-formação congênita –não tem as pernas e o braço direito– e dona de um cativante par de olhos verdes. Ela faz parte da "roda" de capoeiristas da instituição e, apesar de sua limitação física, ginga e samba como ninguém.

Com Nathália, jogam mais 30 pacientes da AACD, com idades entre 7 e 28 anos, incluindo usuários de cadeiras de roda. Todos são portadores de deficiência física ou mental, ou as duas juntas. Eles já se apresentaram em feiras e congressos, já pisaram nos palcos do Tuca e do Credicard Hall e participaram de programas na TV como o Mais Você, da Ana Maria Braga. Sempre arrancam aplausos da platéia.

Benefícios – Introduzida na instituição em 2000 como uma terapia alternativa, a capoeira tem proporcionado resultados animadores aos pacientes, segundo a responsável pelo setor de reabilitação desportiva da AACD, Edna Garcez. Foi dela a idéia de inserir esse "esporte" como uma terapia lúdica, depois dos bons resultados obtidos com a natação, o carro-chefe da instituição para reabilitar deficientes. "A capoeira contribui para aumentar o equilíbrio, melhora a coordenação motora, a auto-estima e influencia positivamente na sociabilização."

Formada em educação física, Edna lida com deficientes há 26 anos. Ela lembra que foi preciso vencer várias barreiras até a comprovação dos benefícios da nova terapia. O primeiro desafio foi convencer a diretoria e os médicos, e depois provar que esse "esporte" podia melhorar o equilíbrio dos pacientes –efeito colateral positivo notado um ou dois meses depois de iniciados os treinos. Outro desafio foi convencer as mães dos jovens a participarem da "brincadeira".

É isso mesmo, em 2002, as mães entraram na roda e hoje jogam com os seus filhos. Essa aproximação e entrosamento, na opinião de Edna, têm contribuído, entre outras coisas, para que o deficiente seja visto de uma outra maneira até dentro da própria casa. "Nesse ponto, a capoeira é um facilitador da inclusão familiar."

Família – As mães, orgulhosas, comemoram os benefícios para o corpo e a mente das crianças. "Minha filha caia muito e hoje tem mais equilíbrio. Além disso, é uma alegria para ela a minha participação e a da irmã", diz a dona de casa Sônia Maria Lima Rocha que, todas as quintas-feiras, religiosamente, sai às 15 horas, de ônibus, do Jardim Macedônia, na periferia de São Paulo, para chegar aos ensaios do grupo, às 17 horas, na AACD. Sônia é mãe de Bianca, de 15 anos, que tem paralisia cerebral. Na roda, Bianca ora joga com a mãe, ora com a irmã Jenifer, de 9 anos, que não é deficiente, mas faz parte do grupo.

Geralda Silva Souza é mãe de Kaio Cesar, 16 anos, portador de paralisia cerebral e participante desde a formação do grupo. "Hoje ele consegue se equilibrar melhor e erguer os braços, coisas que não fazia antes", diz Geralda, que mora em Guarulhos e leva três horas para chegar ao treino.

Supervisão – Desde a sua formação, o grupo vem sendo treinado, sob supervisão médica, pelo professor de capoeira, Alex Souza Santos, voluntário da AACD. "A capoeira é uma luta marcial brasileira que foi adaptada ao grupo, mas sem perder os seus fundamentos", explica. Tanto é assim que os participantes voltam no tempo ao estudar a história da capoeira no Brasil. "É também uma forma de resgatar a nossa herança cultural", resume Edna.

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