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Vira Lata: vira telha, vira vida

Por Paula Cunha   6 de julho de 2006
Foto de Leonardo Rodriguez / Hype Acima, o produto final de empreendimento social: telhas sem amianto que serão utilizadas na construção de casas populares e poderão ser vendidas para os governos municipais e estaduais.
Fábrica de telhas será novo mercado de trabalho para população desempregada do bairro do Jaguaré, na capital paulista.

Não apenas uma prática ecológica e politicamente correta, a reciclagem tornou-se uma alternativa profissional e de transformação na vida de uma parcela significativa da população brasileira. De cooperativas de reciclagem que ampliam seu campo de atuação à criação de um centro de informações sobre esta prática, o setor está se profissionalizando e atraindo a indústria. Esta última participa até de seminários que discutem a variedade de negócios que o setor propicia.

Dentro deste espírito de expansão, o Projeto Vira Lata adotou o lema "crescer para incluir ainda mais". Especializado na reciclagem de papel, papelão e plástico, a ONG, que iniciou suas atividades em 1998 na capital paulista, acaba de inaugurar uma fábrica de telhas elaboradas com material reciclado.

Este é o segundo passo do projeto de expansão da entidade, que evoluiu, desde a sua criação, de ações de reciclagem com o objetivo de criar renda para pessoas que estavam fora do mercado de trabalho, passou por práticas de educação ambiental para as comunidades do entorno como a coleta seletiva, triagem e comercialização destes itens até a criação de alternativas ecológicas como a fábrica de telhas. Ela canalizará sua produção para construir casas populares.

O presidente do Projeto Viralata, que se transformou na Associação Vira Lata Ação Social Cultural Ambiental e de Promoção da Dignidade Humana, Wilson Santos Pereira, ressalta que o nome da entidade reforça a idéia em que se baseia toda a sua ação: promover a dignidade humana.

Para ele, esta meta está sendo alcançada com a chegada de novos integrantes, que já estão trabalhando na fábrica de telhas, no alto do Jaguaré, na capital paulista. São pessoas que moram no entorno da fábrica, no bairro do mesmo nome.

Todos têm histórias de vida semelhantes, pois saíram de uma situação de risco provocada pelo desemprego e pela falta de qualificação profissional e estão literalmente agarrando esta chance com as duas mãos. Elas têm a convicção de que a reciclagem veio para ficar e só deve crescer e já traçam planos.

Estudar e ser independente – Esta é a meta de Adriano Ferreira Irineu. Aos 30 anos, o cearense, casado e pai de uma filha de dois anos, já fez de tudo um pouco na vida: foi auxiliar de fundição, trabalhou em uma lanchonete no Brás e ao lado do pai como auxiliar de pedreiro.

Para ele, que está há 20 anos em São Paulo e sentiu na pele as dificuldades da alta rotatividade em diversos empregos, a oportunidade de trabalhar na fábrica de telhas traz perspectivas de transformação. "Tenho planos de terminar o ensino médio e, quem sabe, fazer uma escola técnica", diz.

Para Irineu, este trabalho também contribuiu para ampliar seus conhecimentos sobre reciclagem e perceber como esta atividade pode ser benéfica para todos. "Quando vi como se faz a telha, percebi que ela será muito boa para pessoas de baixa renda também em outros países. Pensei, também, que é possível exportar para países que sofrem terremotos. Esta é a primeira empresa do gênero em São Paulo e a mídia vai querer conhecer o produto e muita gente vai comprar esta idéia."

Uma nova fase – O início das atividades da fábrica de telhas marca uma nova etapa na vida de Israel Alves, de 21 anos. Ele também estava desempregado quando foi convidado para participar do projeto e, agora, já planeja voltar a estudar. Escolheu o curso de torneiro mecânico porque quer "saber mexer em todos os tipos de máquinas."

O jovem conta que esta é uma chance de se aperfeiçoar e se especializar porque já trabalhou em áreas muito diferentes, como em telemarketing e no Bob's e no Mc Donald's. "Quero terminar o Ensino Médio e crescer neste trabalho", conclui.

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