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Trabalho X Infância

Por Paula Cunha / Diário do Comércio   19 de julho de 2006
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completou 16 anos de vida na semana passada e autoridades e organizações não governamentais que atuam na sua proteção destacam o seu valor para garantir a validade de suas ações e a necessidade de reafirmar que crianças e adolescentes têm que ser prioridade neste país. "O Estatuto é um adolescente que necessita carinho, estímulo e atenção. Precisa ser entendido", destaca o Secretário Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social, Rogério Amato.

Neste ano, ONGs e órgãos oficiais estão centrando suas atenções no combate ao trabalho infantil. Apenas na cidade de São Paulo, há, atualmente, 2,1 mil crianças trabalhando nos cruzamentos das suas principais avenidas. Este número já atingiu a marca de três mil há dois anos, mas as ações combinadas destes dois grupos estão contribuindo para transformar este quadro.

Para Amato, os programas de aprendizado são a solução para tirar as crianças e adolescentes do trabalho porque eles fornecem, simultaneamente, formação teórica e prática. "Muito já está se fazendo contra o trabalho infantil. A mídia já aborda constantemente o tema, o que contribuiu para diminuir o desconhecimento a respeito do assunto. Há programas nacionais como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) que auxiliam nesta direção", explica. E acrescenta que "se lembrarmos de um barco afundando temos que ter em mente que a prioridade máxima tem que ser a seguinte: crianças e adolescentes primeiro. Eles são o nosso futuro".

Desenvolvimento pessoal – Acreditando nesta máxima, o Instituto Rukha atua há um ano no combate ao trabalho infantil, desenvolvendo o potencial individual de crianças e adolescentes em parceria com ONGs que oferecem apoio às famílias e complementação escolar em bairros da capital paulista com dificuldades em oferecer estrutura adequada de vida a esta parcela da população.

Sua diretora, Angela Dannemann, explica que a entidade elaborou um levantamento sobre a situação em torno de sua sede, no bairro de Pinheiros, na zona Oeste da capital paulista e depois concentrou sua atuação nos bairros de Jardim Ângela, Capão Redondo e Jardim São Luís, na zona Sul.

Em conseqüência da expansão do campo de atuação, ela ressalta que grupos diferentes foram abordados durante o processo de levantamento de dados. Além de crianças e adolescentes, também foram pesquisados os distribuidores de panfletos, mas constatou-se que eles trabalham em condições melhores, já que recebem, além do pagamento, um auxílio para alimentação.

A partir daí, passaram a atuar junto a ONGs que auxiliam as famílias a manter seus filhos na escola. A Casa do Zezinho, também instalada na zona Sul da capital paulista, é uma delas. O lema "eu tenho direito a sonhar" resume o espírito que guia a atuação da entidade. A diretora Dagmar Garrux ressalta que a parceria com o Instituto Rukha ajudou a estimular os pais na participação das atividades com as crianças assistidas. Hoje, a entidade atende 1,2 mil crianças e adolescentes de 7 a 18 anos e oferece, também, orientação para que os pais encontrem alternativas para complementar sua renda com cursos e alfabetização e, assim, retirar seus filhos do trabalho nas ruas. Ela oferece 17 oficinas voltadas para a formação humana e para a geração de renda familiar.

Para Dagmar, estas iniciativas estão surtindo efeito porque já pode observar uma mudança de atitude nas mães assistidas pela entidade, que já entendem que as crianças precisam freqüentar a escola. "Já passaram por aqui 10 mil crianças e sonhar possibilidades de uma vida melhor para esta população é possível. Transformar o ser humano é a filosofia de vidaque adotamos e o nosso espelho é sempre o outro", conclui.

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