Notícias

Carente não quer só comida. Quer casa

Por Paula Cunha   3 de janeiro de 2007
Não é só quem casa que quer casa. Todo mundo quer ter um lugar que seja seu e que abrigue com segurança seus familiares. É por esse direito que as comunidades do Jardim Portal Campo e Jardim Nova Aliança, em Osasco, lutam. Eles estão economizando dinheiro para adquirir um terreno no qual construirão suas casas e sairão das habitações precárias construídas atualmente em um terreno da Eletropaulo.

Como comunidades carentes conseguem economizar? O segredo está nas técnicas utilizadas para unir os interessados e que os ajudam a poupar mensalmente, mesmo que sejam quantias muito pequenas.

A organização não governamental Interação Brasil atua junto a comunidades carentes que, geralmente moram em favelas e terrenos invadidos, e as ajuda a ser organizarem para economizar e adquirir estas áreas. ( veja matéria ). No mês passado, a reportagem do Diário do Comércio acompanhou uma visita de representantes da ONG, da Organização das Nações Unidas (ONU) e do governo da Noruega a estas favelas e encontrou pessoas empenhadas em lutar por seu direito a uma vida melhor. Alguns estavam desempregados e outros arcavam com a responsabilidade de sustentar diversos membros da família mas todos estavam entusiasmados e empenhados em transformar suas vidas.

Um dos líderes da comunidade, e eleito tesoureiro, Esequiel Ferreira, conta que está desempregado e vive com a família há quatro anos em Osasco. "Já fiz de tudo: fui vendedor, auxiliar administrativo e auxiliar de estoque. Estou cansado de esperar que o poder público tome providências e, quando chegamos organizados, para fazer nossas reivindicações o tratamento é diferenciado", diz.

Bastante conhecido e solicitado pelos vizinhos enquanto conversa com a reportagem, o jovem líder diz que a solução para esta e outras comunidades é a organização. Ele se considera mais um orientador e foi eleito entre os moradores para assumir a tarefa de arrecadar o dinheiro economizado por seu grupo e a orientar os novos participantes do projeto sobre as regras e suas perspectivas.

Quando questionado a falar sobre o que esta experiência de liderança trouxe de transformação em sua vida, ele filosofa: "O que se adquire ao longo da vida são conhecimentos diversos".

Sacrifícios e perseverança – Sem comprar um par de sapatos ou uma roupa há quase um ano, Alexandra Felintro, outra tesoureira do grupo, confessa que encarou com desconfiança as propostas da ONG Interação quando seus representantes visitaram a favela em abril de 2005. A oficial de cozinha diz que não acreditou que fosse possível economizar nem criar uma poupança coletiva. "Quando me explicaram a conta era aberta no nome de cada participante me tranqüilizei. Depois, percebi que por mais dificuldade que eu passasse era possível poupar", conta.

Com quatro filhos, Alexandra recebe um salário de R$ 595 e consegue poupar. Ela conta que o marido não participa do esforço para economizar. Confiante, ela diz aconselha os outros membros do grupo para que se esforcem e tentem poupar. "Nosso grupo tem 30 pessoas e eu acompanho 11", diz.

Alecxandro Moraes da Silva, de 32 anos, conta que entrou no grupo por curiosidade e que no começo também não "botava fé" no projeto. Agora, já alçado ao cargo de tesoureiro, ele está entusiasmado com as perspectivas de conseguir viver em um lugar melhor. "Tenho uma filha e contribuo com R$ 20 por mês. Este é um processo de ajudar a si mesmo", afirma.

Maria José dos Santos conclui com uma frase que resume o espírito de luta de todos os participantes do projeto: "o grupo de poupança serve para unir as pessoas. É importante olhar para quem está ao nosso lado. O grupo revelou que existem pessoas que podem se unir e ajudar umas às outras".

Comentários dos Leitores