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"Libras" para atender melhor

Por Paula Cunha / Diário do Comércio   19 de setembro de 2007
Eles vivem em um mundo de silêncio, mas, como todo mundo, trabalham, estudam e se divertem. Dos 25 milhões de deficientes no Brasil, os surdos representam 8,2%. Também beneficiados pela lei de quotas, eles movimentam a economia, consumindo e pagando impostos. Como os outros grupos, reúnem-se para se divertir e consumir em shopping centers. Em São Paulo, os pontos de encontro mais conhecidos são os shoppings Metrô Tatuapé e Santa Cruz. No primeiro, as reuniões acontecem há três anos, às sextas-feiras, e recebem cerca de 250 pessoas que movimentam lojas, corredores e a praça de alimentação. Diante disso, a direção do empreendimento elaborou um plano para atender melhor este público.

A gerente de marketing do shopping, Sylvia Navarro, explica que o objetivo é tornar o centro de compras mais acessível a a todos. O shopping tem rampas de acesso para deficientes físicos e sinalização em braile para os deficientes visuais. Agora é a vez dos surdos. "Vamos treinar primeiro os funcionários dos setores de marketing e de segurança para melhor atender este público. Eles aprenderão a linguagem Libras e já receberam orientação para o atendimento", diz.

Silvia afirma que o objetivo é contar com um grupo de funcionários treinados em cada turno. "Nenhum lojista procurou a administração para participar do curso, mas a iniciativa de treinamento ainda é recente e pretendemos divulgá-la entre os empreendedores. Nossa meta é chegar a 2010 com lojistas e funcionários habilitados em Libras", afirma.

Aprovação – Em uma algazarra silenciosa, o grupo de deficientes auditivos começa a tomar os corredores do terceiro piso do shopping no início da noite de sexta-feira. Eles formam círculos e conversam em Libras, sem se incomodar por chamar a atenção. Alguns freqüentadores do shopping param para observá-los.

Muito tímidos no início da entrevista, alguns preferem não conversar. O operador de máquina Eliseu Terosi, que freqüenta o shopping há três anos, explica que alguns dos jovens que se reúnem no shopping às sextas envolvem-se em brigas porque, às vezes, bebem muito. Ele fala um pouco e escreve que também vai ao shopping Metrô Santa Cruz, aos sábados à noite, e que gosta de encontrar os amigos.

Gisele Gleice Silva está desempregada, mas conta que já trabalhou duas vezes. Ela vai ao shopping todas as semanas há dois anos e diz que as pessoas no shopping se esforçam para entendê-la. Júlio César, que mora na Vila Mariana, aproxima-se e após alguma insistência da repórter, conta que veio pela primeira vez ao shopping para bater papo e que voltou porque gostou das pessoas e fez amigos.

Menos tímido, o professor de linguagem de Libras para crianças com deficiência auditiva Alan Gomes conta que trabalha na loja Festival do Real e que faz curso de computação. Para ele, é fácil se comunicar com as pessoas. A dona de casa Roseli Alves Pereira conta que gosta muito de conversar com os amigos que conheceu no shopping e que as pessoas que não entendem a linguagem de sinais se comunicam com ela escrevendo. "Venho todas as sextas-feiras", acrescenta.

O metalúrgico Alessandro Santana diz que se sente bem no shopping porque as pessoas se ajudam e alguns funcionários se esforçam para entendê-lo. "Gosto de ficar na praça de alimentação", diz. Com audição parcial em apenas um ouvido, ele conta que vai ao shopping há dez anos e tenta se comunicar com todos. "Os funcionários sempre procuram ajudar", conclui.

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