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Catadores vão além da reciclagem

Por Paula Cunha / Diário do Comércio   10 de outubro de 2007
Cada vez mais é necessário reciclar produtos descartáveis e garantir que o planeta sobreviva. No Brasil, por exemplo, são reciclados nove bilhões de latas de alumínio por ano, uma iniciativa que deixou de ser apenas uma alternativa de sobrevivência para pessoas excluídas do mercado de trabalho para se tornar uma atividade organizada que já está se profissionalizando e procura novas modalidades de gestão e novos parceiros.

É o caso do Programa Investimento Reciclável, resultado da parceria entre o Banco Real, a Fundação Avina e a Suzano Papel e Celulose. A coordenação do programa é do Instituto Ecofuturo e seu principal objetivo é capacitar e profissionalizar o setor. Cada um dos parceiros investiu R$ 120 mil, que irão para aquisição de equipamentos ou capital de giro. Cinco cooperativas foram selecionadas: CooperAção, Cooper Viva Bem, Pacto Ambiental, Cooperativa Nossos Valores e Associação Coreji. Cada uma recebeu de R$ 10 mil a R$ 40 mil.

A CooperAção, na zona oeste da capital, reúne 65 cooperados e atua no setor de reciclagem há seis anos. Agora, pretende montar uma oficina de costura em uma de suas salas. "A Prefeitura cedeu o terreno, as instalações, o equipamento e também os quatro caminhões. Decidimos participar do Investimento Reciclável para conseguir a sede própria e uma frota de caminhões", diz o cooperado Nailton César Polido, da administração.

A cooperativa é um exemplo de que é possível conciliar outras atividades com a reciclagem. Além da oficina de costura, pretende ajudar a vender o trabalho artesanal feito por alguns cooperados. "Recolhemos de tudo e aceitamos qualquer doação. Agora, estamos procurando doadores de máquinas de costura. Planejamos, também, aproveitar a madeira, mas estamos esperando a certificação da Cetesb", disse. A CooperAção também está inscrita no programa do BNDES que liberará R$ 16,4 milhões para o setor.

Perspectivas – Para os cooperados, essas parcerias serão decisivas. A presidente da CooperAção, Jaci Cardoso, trabalha com reciclagem há seis anos. Ela foi babá, empregada doméstica, operária e vendedora de filtros e cosméticos. "Não tínhamos nem noção do que coletar. Aprendemos com outra cooperativa e participando de reuniões de grupos", diz.

Polido, por sua vez, é uma exceção. Na infância, ajudou a avó a coletar material na rua. "Sou técnico em telefonia, mas não achei consegui trabalhar na área e montei uma cooperativa de coleta seletiva em Perus, mas não deu certo. Agora tenho consciência de que a CooperAção é nossa e que, com responsabilidade, podemos obter sustento digno", diz.

Os próximos planos do grupo são fornecer sacolas de pano para os supermercados, feitas com tecidos doados pelas indústrias têxteis, formar um grupo de artesanato e vender a produção, organizar uma biblioteca na cooperativa com livros doados, retomar o trabalho de alfabetização e ampliar o trabalho de conscientização sobre reciclagem que fazem em empresas e em condomínios.

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