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Quando o comércio é deficiente

Por Paula Cunha / Diário do Comércio   9 de janeiro de 2008
Foto de Newton Santos/Hype Corredores ficam menores com excesso de produtos
Basta uma rápida olhada para os estabelecimentos comerciais localizados na região central da cidade, uma das mais movimentadas, para perceber que quando o assunto é acessibilidade a esses locais de consumidores com algum tipo de dificuldade de locomoção ainda há muito o que fazer. Não é difícil encontrar lojas, farmácias e outros tipos de comércio sem as adaptações que permitiriam àquele público freqüentar os estabelecimentos com segurança e comodidade. Os obstáculos começam na entrada com a ausência de pisos rebaixados necessários para quem se utiliza de cadeiras de rodas ou muletas e se estendem pelo interior, onde os corredores são estreitos e os balcões, muito altos. Chega até mesmo aos provadores, no caso das lojas de vestuário, geralmente muito apertados.

Ao deixar de adotar em seu estabelecimento, seja um comércio tradicional, uma farmácia, lanchonete ou restaurante, facilidades para a circulação daqueles consumidores o varejista não vai apenas contra a lei que dispõe sobre a obrigatoriedade da construção de acessos para pessoas com problemas de locomoção. As barreiras físicas podem se transformar em menos vendas. Hoje, o número de pessoas com dificuldades para se deslocar soma 24,5 milhões em todo o País. Desses, 1,1 milhão está na cidade.

Para a consultora de acessibilidade do Instituto Paradigma, voltado ao trabalho de inclusão social de pessoas com deficiência, a arquiteta Silvana Cambiadi, medidas como rebaixamento de degraus e ampliação de espaços internos não são caras. "Elas podem ser adotadas gradativamente, à medida que o comerciante reforma e pinta anualmente seu estabelecimento. Essas melhorias não têm alto custo e a manutenção é igual à dispensada a qualquer equipamento de um comércio", diz ela.

Além da entrada – A arquiteta lembra, no entanto, que apenas rampas e degraus rebaixados não tornam uma loja ou restaurante acessível. "É preciso pensar em todos os tipos de deficiência. Por isso, balcões mais baixos são adequados para pessoas de baixa estatura ou que utilizam cadeira de rodas. Provadores mais largos permitem que se entre e prove roupas com conforto. Seus espelhos devem ser amplos e contemplar pessoas com alturas diferentes", explica. Ela cita as redes Renner e C&A como exemplos de comércio com instalações adequadas às pessoas com deficiência de locomoção: os provadores são largos, os espelhos estão em alturas apropriadas e as peças ficam ao alcance de cadeirantes e pessoas baixas. O mesmo se vê em lojas da rua João Cachoeira, no bairro do Itaim Bibi, e da Oscar Freire, nos Jardins.

Silvana aponta ainda a sinalização em braile para os deficientes visuais como importante. A rede de lanchonetes McDonald's adotou há tempos o cardápio em braile, lembra a consultora. Chama a atenção ainda para os indicadores voltados aos deficientes auditivos, como lâmpadas indicando se os provadores de lojas de vestuário estão desocupados, por exemplo.

A arquiteta cita ainda os shopping centers como locais com acessibilidade para o público que tem algum tipo de deficiência física. Recentemente, a administração do Shopping Metrô Tatuapé foi mais além: incentivou seus lojistas a treinar os funcionários na linguagem de libras – sinais de comunicação com deficientes auditivos – para melhor atender esse público que se reúne no shopping todas as quintas-feiras. Silvana menciona também os bares Madá (na vila Madalena) e a unidade do Salve Jorge do Centro como locais com acessibilidade. O cinema Espaço Unibanco é outro que conta com elevadores, rampas e banheiros adaptados com sinalização correta. As livrarias Cultura e da Vila possuem rampas e acessos adequados.

"O Brasil tem todos os equipamentos necessários para tornar todos os ambientes acessíveis. Basta fazer as adaptações necessárias e encará-las como uma melhoria normal para o espaço", conclui.

Selo – No município de São Paulo, já existe uma classificação oficial para os estabelecimentos comerciais com acessibilidade. Eduardo Flores Auge, secretário-executivo da Comissão Permanente de Acessibilidade, explica que os critérios de concessão do selo estão sendo reavaliados. "Primeiramente damos um certificado aos projetos arquitetônicos inclusivos. Já o selo é obtido pelo estabelecimento que é realmente acessível. A Comissão visita os locais", diz.

Segundo Auge, o selo, que existe desde 2004, vale por um ano. O interessado em tê-lo paga uma taxa de R$ 70. Mais informações podem ser obtidas no site da Prefeitura de São Paulo, no endereço eletrônico www.prefeitura.sp.gov.br.

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