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Música para derrubar barreiras

Por Paula Cunha / Diário do Comércio   17 de janeiro de 2008
Baseado no balé Petrushka, do compositor russo Igor Stravinsky (1882-1971), o espetáculo musical Pedrinho Luz, em cartaz no Centro Educacional Unificado (CEU) Casa Blanca, no Jardim São Luiz, zona sul da cidade, parece mais uma apresentação como tantas na cidade. Todavia, por trás de toda sua coreografia, que é apresentada por jovens dançarinos carentes com idade entre 14 e 19 anos, está o Projeto social Fábricas da Cultura, criado pela Secretaria Estadual de Cultura em parceria com a Prefeitura de São Paulo e mais 34 Organizações Não-Governamentais (ONGs).

A associação do espetáculo com a famosa obra de Stravinsky não foi feita ao acaso. Assim como o compositor russo, que em Petrushka deu vida, com a música, a um fantoche, o Fábricas da Cultura tem como proposta oferecer, por meio da arte, mais vida à população de jovens moradores das chamadas áreas socialmente vulneráveis. Aquelas áreas onde a pobreza é grande e as oportunidades, quase inexistentes.

A cessão, por parte da Prefeitura de São Paulo, do espaço dos CEUs ao projeto foi fundamental para sua concretização. Na avaliação do coordenador de produção do Fábricas da Cultura, Luiz Alex Tasso, o trabalho é importante para que os jovens carentes "se reconheçam como cidadãos ao desenvolverem seus projetos artísticos", disse.

Descoberta – Pensando nisso, as atividades desenvolvidas dentro do Fábricas da Cultura estimulam a disciplina e a projeção desse público dentro do seu meio social, ao mesmo tempo em que incitam a troca de experiências com outros adolescentes. "Os jovens do núcleo que montou o espetáculo Pedrinho Luz vieram de diversas áreas da cidade. Foram selecionados com a ajuda de ONGs que já atuam nessa áreas há algum tempo e que portanto conhecem seus moradores. Cada núcleo tem atividades semanais em um CEU", diz a assistente social do projeto Lígia Labate Frugis.

A coordenadora do núcleo Pedrinho Luz, Susana Yamauchi, completa dizendo que o espetáculo tem a proposta de desenvolver o artista que existe em cada jovem. Para isso eles são estimulados a criar as coreografias e muitos deles estão descobrindo sua vocação, como Tamires, de 18 anos, e Magno, de 17 ( ver matéria abaixo).

As áreas de atuação do Fábricas foram escolhidas com base em uma pesquisa da Fundação Seade que identificou os locais com os maiores índices de vulnerabilidade social. A gestora do CEU, Marlene de Moraes Zillig, se diz satisfeita com a parceria com o Fábricas de Cultura. Em sua opinião, o projeto tem um objetivo educativo e de integração bem estruturado e vai de encontro à proposta de inclusão com que os CEUs foram criados. "É gratificante ver que esses jovens se encontraram", disse.

Para Marlene, o público também ganha com o projeto, já que há pessoas que freqüentam os CEUs e nunca haviam visto um espetáculo artístico. Laércio Gonçalves de Oliveira, que mora no Jardim Novo Santo Amaro, próximo a Piraporinha, no extremo Sul da capital paulista é um deles. Apesar de participar do projeto Fábricas da Cultura, nunca tinha assistido a um espetáculo teatral. "Já fui ao cinema uma vez, mas a sensação de ver um espetáculo no teatro é incrível. O espaço é grande e muito bonito. Vendo isso, acho que é isso que quero para a minha vida profissional".

Segundo os coordenadores do Fábricas da Cultura, o projeto não nenhum caráter profissionalizante. Visa, sim, despertar o potencial artístico de jovens sem nenhuma oportunidade e, com esse potencial, que ampliem sua auto-estima.

Em 2008, diz Marlene Zillig, serão construídos três Centros Fábricas de Cultura na cidade de São Paulo. Também está prevista, diz ela, uma parceria com o Projeto Guri, ligado ao governo do Estado e que também trabalha com jovens. A parceria teria o objetivo de montar um programa de musicalização infantil.

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