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Pobreza e desemprego unem Brasil e exterior

Por O Globo    14 de novembro de 2001
BRASÍLIA. Além de ouvir estrangeiros especificamente sobre o Brasil, os entrevistadores da pesquisa mundial divulgada ontem pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) e pelo Instituto Sensus aproveitaram para ouvir dos estrangeiros dos 22 países e também dos brasileiros o que pensam a respeito de seus próprios países.

A pobreza e o desemprego são citados por 29,8% dos estrangeiros como os principais problemas nacionais, seguidos de crime e corrupção, com 28,2%; problemas sociais, com 19,8%; guerra e terrorismo, com 9,7% (em 11 países, inclusive os Estados Unidos, a pesquisa foi feita antes dos atentados de 11 de setembro ao World Trade Center, em Nova York, e ao Pentágono); meio ambiente, com 5,8%; e alimentação, com 4,5%.

O Brasil acompanhou a tendência mundial com 46,8%, 24,5% e 17,5%, com relação a pobreza e desemprego, crime e corrupção e problemas sociais. No item guerra e terrorismo o índice no Brasil foi de 1,8%, bem menor que os 9,7% do exterior. Os técnicos que participaram da pesquisa ressaltam que esse item teria outra avaliação se o levantamento tivesse sido feito depois dos atentados. No item alimentação, o índice foi 9,3%, bem maior do que os 4,5% do exterior. O meio ambiente não foi citado como problema nacional no Brasil.

* O brasileiro condena a corrupção, mas, sem dúvida, a pobreza o incomoda mais diretamente - disse o presidente da CNT, Clésio Andrade.

Em quatro países, 90% o consideram ótimo de viver A pesquisa identificou o grau de auto-estima que os entrevistados têm com seus países. Os campeões são Austrália, Estados Unidos, Índia e Suécia, onde mais de 90% da população consideram seu país como bom ou ótimo para viver. No caso dos brasileiros, o percentual é de 76,1%.

O modo como a riqueza está distribuída no mundo é negativamente avaliado na maioria dos países: 64% dos entrevistados afirmam que a riqueza é mal ou muito mal distribuída. No Brasil, o percentual chegou a 81,3%. Sobre os valores morais que devem ser transmitidos aos filhos, a tolerância foi o principal item citado, com 35%. No entanto, os brasileiros optaram pela religião, com 25,3%, e pela obediência, com 22,8%. A tolerância ficou com apenas 7%. No exterior, religião e obediência ficaram com 14,9% e com 6,4%. Também foram citados responsabilidade (13,6% no mundo e 18,5% no Brasil) e boas maneiras (12,3% no mundo e 8,3% no Brasil).

Pela pesquisa no exterior, 34,8% dos entrevistados se manifestaram contra a privatização. No Brasil, 50,5% dizem que o Estado deveria permanecer no controle das empresas estatais.

Estrangeiros são mais favoráveis à união econômica Outro dado importante diz respeito à visão de brasileiros e estrangeiros em relação à formação de blocos econômicos: 63,4% dos entrevistados no exterior são favoráveis e, no Brasil, o apoio é de 48%. A manutenção da ordem, a participação dos cidadãos nas decisões políticas, a luta contra o aumento de preços e a liberdade de expressão são as normas sociais consideradas mais importantes.

De acordo com a pesquisa,42,4% dos entrevistados estrangeiros consideram o trabalho árduo o principal caminho para o enriquecimento e a melhoria das condições de vida. Também mereceu destaque a educação formal, com 29,1%. Os brasileiros acompanharam a tendência mundial. * A pesquisa mostra que o brasileiro é um determinado, que acredita no trabalho como principal fator de crescimento social e o valoriza - comentou Andrade.

Quanto a fontes de conflito, a pesquisa mostrou que, no Brasil, os políticos são os principais (54,8%), seguidos pelos de classe (16%) e pelos religiosos (15%). Para os demais países, em primeiro lugar também vêm os conflitos políticos, mas em seguida se destacam os sociais e os raciais. Egito foi substituído por causa de restrições.Os técnicos encontram dificuldades na realização da pesquisa. O Egito impôs tantas restrições que teve que ser substituído pela Síria. A França proíbe a inclusão de temas relativos à imigração. O governo chinês considera que não há desempregados no país. Daí a margem de erro de 6% para cada nação ouvida.

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