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Aluna cega inspira criação de projeto em universidade

Por Geriane Oliveira   24 de novembro de 2008
A necessidade de dar atendimento à primeira aluna deficiente visual da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid) deu origem, há 8 anos, ao que hoje é o Centro de Apoio Acadêmico aos Deficientes (CAAD). A semente que se desenvolveu no campus logo se transformou em um serviço para a inclusão social do portador de deficiência visual, seja de dentro ou de fora da comunidade acadêmica. A cada semestre, 300 pessoas participam do projeto. Atualmente, 33 delas são alunas da Unicid.

Com foco educacional, o programa do CAAD oferece aulas semanais e gratuitas de música, informática, braile e cálculo por sorobã (ferramenta pedagógica para o ensino da matemática). No espaço da entidade também há uma casa adaptada para as atividades de orientação e mobilidade.

Segundo o professor de educação física e coordenador do CAAD, Eduardo José Drezza, a proposta do que ele define como um serviço à pessoa com deficiência é mostrar que existem caminhos de superação. "Com a reabilitação eles podem fazer tudo o que quiserem", afirmou. Ao atender deficientes de todas as idades, Drezza defende que o diferencial do programa é o método de aprendizado. "As aulas são individuais para que haja o maior aproveitamento por parte do aluno. E já temos bons resultados", reforçou.

Internet – Outro destaque do programa é o acesso do aluno deficiente visual à informática básica e à Internet, graças aos softwares Virtual Vision e Dosvox (ledores de tela), que dispõem de recursos sonoros facilitando a digitação e a busca de informações.

O aposentado na carreira militar Manoel José Bezerra, de 72 anos, é um exemplo do trabalho desenvolvido. Ele não desistiu de seu sonho, apesar da catarata, e hoje é o aluno mais velho do curso de Direito da Unicid. Com as aulas de informática no CAAD, Bezerra aprendeu a digitar seus textos. "Estou realizando um sonho de estudar para ser advogado e a computação ajuda muito. Nunca é tarde para aprender", disse.

De acordo Drezza, a maioria dos alunos inseridos no CAAD tem perda total da visão. Mais de 80% deles são moradores das zonas leste e sul da capital paulista. Ele informou ainda que a cada ano cresce a procura pelos cursos. "Temos uma gigantesca fila de espera".

Sem barreiras - Para atender aos deficientes, o CAAD tem uma equipe 16 profissionais, entre professores, técnicos e voluntários. Quatro professores são deficientes visuais. A ex-aluna de direito da Unicid, Fabiana Aparecida Santos, de 29 anos, que é cega, é um exemplo. Com a integração ao projeto e o seu progresso, acabou convidada a dar aulas de braile. "Foi assim que passei de aluna a professora e hoje ajudo outras pessoas a ler e escrever", contou.

O professor de teoria musical, Márcio Horta, que começou a perder a visão aos 16 anos, dá aulas a 23 estudantes. "Cheguei a ficar deprimido, mas como gostava de música, decidi me dedicar e me especializei. A música funciona como um elemento de integração com o mundo", disse.

O coordenador destaca que o acesso a conhecimentos é a chave para a inserção social. "Acolhi pessoas com deficiência que chegaram aqui amparadas e, passados seis meses, entram sozinhas na minha sala. A transformação é total", afirmou.

O próximo passo do CAAD será implantar o projeto de empregabilidade, previsto para 2009. A idéia é capacitar deficientes para o mercado de trabalho. Segundo Drezza, a preparação será para as áreas de telemarketing e atendimento telefônico. "A gente percebe que há uma grande demanda, só falta qualificar", finalizou.

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