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TALENTO NÃO TEM IDADE

Por Sandra Manfredini   26 de novembro de 2008
Antonio de Almeida Silva Filho nunca pensou que a habilidade para contar causos e a desenvoltura para falar em público pudessem lhe render um prêmio e, muito menos, uma nova ocupação: a de contador de história. Aos 75 anos, o dentista aposentado, residente em São Carlos, no Interior de São Paulo, foi um dos 30 ganhadores da 10ª edição Talentos da Maturidade, concurso promovido pelo Banco Real, do Grupo Santander. Ele ganhou na categoria Contadores de Histórias com Eu e o Pitoco, onde narra a sua convivência bem humorada com um fiel amigo de infância, o seu cão vira-lata, malhado em branco e preto.

"Descobri que as coisas podem acontecer depois dos 75 anos e estou muito feliz", disse Antonio. Para ele foi uma surpresa estar entre os escolhidos, mas não para sua mulher, Maria Áurea. "Ele sempre contou algumas mentirinhas", brincou. O casal frequenta a Universidade Aberta da Terceira Idade (Uati), onde o aposentado soube do concurso e foi incentivado a participar. "Fiquei muito envaidecido e agora foi dar continuidade à minha nova vocação", garantiu.

O prêmio Talentos da Maturidade selecionou 30 vencedores entre 11.342 inscritos no País. Os escolhidos, que levaram o troféu e um cheque de R$ 7 mil, são das categorias Contadores de Histórias, Música Vocal, Literatura e Artes Plásticas, dirigidas a pessoas com mais de 60 anos. Os prêmios para Monografia – cujo tema era a comunicação e o idoso – e Programas Exemplares, eram para pessoas de qualquer idade e para entidades que têm programas direcionados a idosos frágeis.

As instituições premiadas receberam verbas de até R$ 100 mil e consultoria para implantação ou continuidade de projetos já em andamento. Cada categoria teve cinco finalistas e a escolha foi feita por 24 jurados, referência nas suas áreas de atuação. A cerimônia oficial aconteceu na semana passada, em Recife, capital pernambucana.

Música na alma – Henriette Maria Fraissat, moradora da cidade de Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo, foi criada ouvindo os "bolachões" (LPs) que ganhava de seu pai.

"Ele, que sabia tocar, era meu grande incentivador", disse. Com uma avó violinista, Henriette deixou a sua vocação musical de lado ao casar, ter quatro filhos e virar enfermeira. Mesmo assim ainda participou do programa A Grande Chance, da extinta TV Tupi. Nervosa, esqueceu totalmente a letra e não venceu o concurso de calouros. "Tirei um honroso quarto lugar", disse.

Para participar do Talentos da Maturidade pela primeira vez, Henriette contou com a ajuda de um amigo, que a acompanhou ao violão, e gravou um CD amador com a canção Black's beautiful, de Marcos e Paulo Sérgio Valle. "Ele não conhecia a melodia e teve de aprender na hora. Jamais imaginei que fosse ganhar", afirmou. O trabalho só foi entregue um dia antes da finalização do prazo. Agora, a enfermeira aposentada quer cantar profissionalmente. "Sou enfermeira e, a partir de agora, sou também cantora. Eu não bebo e não fumo, mas me embriago com a música", concluiu.

Atividade – O concurso Talentos da Maturidade é uma maneira de promover a atividade artística e cultural do público com mais de 60 anos. "O incentivo à produção cultural é também um convite ao idoso para repensar sua postura nesta fase da vida. Algumas pessoas mudam totalmente após participar do concurso", afirmou Fernando Byington Egydio Martins, diretor executivo de Estratégia da Marca e Comunicação Corporativa do Grupo Santander Brasil. Ao longo de 10 anos de existência, o concurso recebeu mais de 100 mil trabalhos.

Em seu discurso durante a premiação, Fernando disse ainda que afirmar que a última década foi recheada de histórias marcantes seria simplificar demais a grandiosidade do evento. "A questão do idoso é de relevância nacional. O que fazemos aqui é respeitar o mais velho, reconhecendo que talento não tem idade", concluiu.

Na primeira edição do Talentos da Maturidade, a grande preocupação era a inatividade dos maiores de 60 anos. "Ao longo desses anos o idoso e a sua participação na sociedade mudaram muito", afirmou Laura Machado, psicóloga e consultora do projeto.

Agora, a idéia, segundo ela, é incentivar ações que façam do idoso um empreendedor. Além disso, assistir àquela parcela chamada idoso frágil, que necessita de cuidados especiais e que cresce a cada ano devido ao aumento da longevidade da população. "Precisamos agora avançar na direção da quarta idade, desenvolvendo programas que sejam dirigidos aos que têm mais de 80 anos", finalizou Laura.

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