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Na era da internet, jornal em braile informa deficientes

Por Paula Cunha   4 de dezembro de 2008
Dos 25 milhões de portadores de deficiências em todo o Brasil, 48,1% pertencem ao grupo dos que são completamente cegos ou enxergam parcialmente. Esta parcela conta com diversas modalidades de acesso à informação como publicações em braile, áudio books e softwares especiais que permitem o uso do computador e o conseqüente acesso à internet e às versões online de jornais e revistas.

As novas tecnologias estão lentamente substituindo os tradicionais livros em braile e há muita discussão sobre a sobrevivência desta modalidade de publicação. Entretanto, uma experiência diferenciada na região Nordeste do País está chamando a atenção, porque possibilita a este grupo especial de leitores o acesso a informações tanto da comunidade onde vivem quanto como do que acontece no País e no mundo.

Em braile – O Diário de Pernambuco oferece gratuitamente, desde abril deste ano, uma versão reduzida de sua edição diária impressa em braile (são cem exemplares) a todas as entidades de apoio a pessoas com deficiências visuais do Estado, que conta com aproximadamente 250 mil pessoas totalmente cegas ou que enxergam parcialmente. Estes cem jornais são lidos por várias pessoas nas instituições que o recebem.

O diretor de projetos especiais do jornal, Marcondes Brito, explica que a iniciativa rendeu ao jornal o Prêmio Esso deste ano e que a premiação é um reconhecimento a iniciativas de inclusão social. "A repercussão tem sido extraordinária e nos orgulhamos dos resultados obtidos até agora", diz.

Apesar dos bons resultados, o projeto foi parcialmente interrompido durante o período eleitoral porque a prefeitura de Recife, que é a principal anunciante do jornal, estava proibida, por força da lei, de colocar anúncios em qualquer veículo de comunicação antes das eleições municipais.

A despeito de todas as dificuldades, Marcondes afirma que o projeto continuará e que o jornal procura parceiros para mantê-lo e ampliar o número de leitores. Atualmente, o principal deles é a Cooperativa do Produtor Portador de Deficiência (Codefil) e a Tecpel/Papier, empresa que fornece o papel para a impressão.

Em Campinas – Outras iniciativas como a do Diário de Pernambuco também enfrentam as mesmas dificuldades. No interior paulista, o jornalista Marcelo do Canto sempre atuou na área de inclusão de portadores de deficiência. Seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de graduação de jornalismo em 1987 teve como tema a elaboração de um jornal em braile. Do Canto conta que teve a idéia quando, ao tomar um ônibus para ir para a faculdade, encontrou uma pessoa com deficiência visual e começou a pensar nas dificuldades que os deficientes enfrentam para se integrar à sociedade.

O projeto foi colocado em prática e o jornal circulou, quinzenalmente, entre 1987 e 1990, quando a publicação foi interrompida por falta de patrocínio. Ele teve o apoio do Diário do Povo onde trabalhou e o retomou em 1996, quando o jornal foi comprado pelo Correio Popular.

Assim, em julho de 2000, nasceu o Diário Braille com distribuição gratuita. Com periodicidade mensal, a publicação foi amplamente divulgada em todo o Brasil e chegou a ter assinantes da França e de Moçambique. No Brasil, havia 400 assinantes na época do lançamento. Eles tinham acesso a reportagens específicas sobre deficiência visual e de assuntos variados que compõem qualquer jornal convencional.

Do Canto orgulha-se ao contar que ele contava até com uma coluna sobre esportes, na qual se explicava como um portador de deficiência visual poderia acompanhar uma partida de tênis ouvindo a narração durante uma transmissão televisiva. Atualmente, o jornal continua a ser publicado e Do Canto avalia que a iniciativa contribuiu para integrar a comunidade local.

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