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O conhecimento na ponta dos dedos

Por Geriane de Oliveira   25 de março de 2009
"Se não fosse o método Braille eu não teria conseguido estudar". A frase de Regina Fátima Caldeira de Oliveira, coordenadora de revisão de livros da Fundação Dorina Nowill, onde trabalha há 20 anos, resume bem o que representa a invenção do sistema de leitura com as mãos para aqueles que não podem enxergar o mundo mundo. Regina nasceu com glaucoma e ficou completamente cega aos 7 anos, justamente quando começava a ser alfabetizada.

"Foi utilizando o sistema Braille que continuei os meus estudos até cursar a faculdade. Depois de Deus, e dos meus pais, Braille é a pessoa por quem tenho maior gratidão", disse. Neste ano, comemora-se 200 anos de nascimento de Louis Braille, um francês que ficou cego, aos 3 anos, ao brincar na oficina do pai. Além da alfabetização, o sistema criado por ele possibilitou aos deficientes visuais o acesso ao desenvolvimento intelectual, cultural, artístico e profissional. Sobretudo a inclusão social.

A presidente da Fundação Dorina Nowill (FDN), Dorina de Gouvêa Nowill, de 89 anos, lembrou que Braille estabeleceu a comunicação entre o mundo e as pessoas cegas e com baixa visão. "Trata-se de um homem inteligente e competente que, ainda muito jovem, conseguiu criar um método de leitura tátil para cegos. Desejando a sua independência, ele fez com que milhões de pessoas em todo o mundo chegassem ao pleno desenvolvimento e à integração social", disse.

A revisora Regina é a prova disso. Formada em Letras, ela é também integrante da Comissão Brasileira do Braille e da Comissão Latino-Americana para Difusão do Braille. "Hoje eu tenho a oportunidade de trabalhar com a produção de livros, atividade que gosto muito, e ainda de ajudar outras crianças cegas. É bastante gratificante", afirmou.

Comemoração – A fundação, que completou 63 anos de atividades em março, prepara uma série de eventos para lembrar o nascimento de Braille. "Inspirados nele, caminhamos sempre atentos às necessidades dos portadores de deficiências, buscando integrá-los aos avanços tecnológicos e de linguagens do futuro”, disse.

A Comissão Brasileira para o Bicentenário de Louis Braille (CBBLB), presidida por Dorina, participará das comemorações e já festeja um decreto municipal, de julho do ano passado, que dá o nome de Biblioteca Louis Braille para o espaço dirigido a deficientes visuais do Centro Cultural São Paulo.

Entre os eventos, estão a emissão de um selo dos Correios comemorativo ao bicentenário para até 2012; a criação do Dia Nacional do Braille, previsto para 8 de abril, data do nascimento de José Álvares de Azevedo, patrono da educação dos cegos no Brasil; e a instituição da Semana Nacional do Braille, entre 23 a 29 de agosto.

Pontos – O sistema Braille de escrita e leitura, por pontos em relevo, empregado no mundo inteiro, é baseado na combinação de vários pontos, permitindo a formação de 63 caracteres diferentes que, por sua vez, representam as letras do alfabeto, números, símbolos aritméticos e musicais e, mais recentemente, da informática.

O alfabeto é composto por 26 sinais, sendo 10 para pontuação de uso internacional. O processo de leitura tátil é empregado por extenso, isto é, escrevendo-se a palavra, letra por letra, ou de forma abreviada, adotando-se código especiais de abreviaturas para cada língua ou grupo lingüístico.

Sem barreiras – Para o revisor de textos Edson Pereira do Rosário, de 28 anos, cego desde os 12 anos, Louis Braille é um grande exemplo, não somente para os deficientes visuais. "Ele não se acomodou diante das barreiras e libertou as pessoas cegas da solidão", disse. Trabalhando há dois anos na área de literatura, Edson afirmou que, cada vez mais, os deficientes estão incluídos no mundo da leitura. "Publicamos muitos best-sellers. No momento estamos revisando O Caçador de Pipas, um grande sucesso de público".

De acordo com Regina, as novas tecnologias chegaram também ao Sistema Braille. "Hoje temos, por exemplo, uma impressora com capacidade para produzir em torno de 600 páginas em Braille por hora. É preciso destacar também a criação da linha Braille para leitura por computador".

A linha Braille é um recurso avançado de leitura que, conectada ao computador, permite a reprodução do texto. Funciona como um sistema alternativo ao sintetizador de voz. "Com a capacidade para armazenamento, também economizamos o papel. A tecnologia aplicada ao sistema Braille tem sido muito importante porque amplia o acesso à educação, cultura e informação pra aqueles que têm dificuldade de enxergar. Para a comunidade de portadores de deficiência visual significa maior independência e autonomia", concluiu Regina.

No País – No Brasil, mais de 16,5 milhões de pessoas têm alguma deficiência visual, segundo dados Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2000. Desse total, 148 mil pessoas são cegas e 2,5 milhões possuem baixa visão. Outras 14 milhões têm alguma dificuldade permanente para enxergar.

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