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Um desembargador de avental.
Por    8 de junho de 2009
Uma vez por semana, Antonio Carlos Malheiros esquece os processos e conta histórias para crianças.
Todas as sextas-feiras, o juiz desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Antonio Carlos Malheiros, de 58 anos, troca a sua toga (vestuário de magistrado) pelo avental colorido de contador de histórias da Associação Viva e Deixe Viver (AVDV). Na tarde do último dia 22, por exemplo, após assinar o diário de voluntários, com muita delicadeza, ele se aproximou de uma menina que folheava um livro do Menino Maluquinho. Sentou-se em uma cadeirinha ao seu lado, e perguntou com voz baixa: "posso falar com você?" É na brinquedoteca da ala pediátrica do Hospital Emílio Ribas, na zona oeste da cidade, que Malheiros faz uma pausa nas atividades de desembargador e professor universitário, para se dedicar a mais um capítulo de sua história como voluntário em hospitais, tarefa que realiza há 30 anos. "Primeiro, fui agente da Pastoral da Saúde da Igreja Católica por muitos anos e visitava adultos e idosos. Em 1997, fui o primeiro voluntário da turma de contadores de histórias da AVDV e comecei a visitar crianças", disse. Tempo – Apesar de analisar cerca de 150 votos (processos) por mês, Malheiros contou que sempre arranja tempo para se dedicar por três ou quatro horas semanais às crianças do Emílio Ribas. Mais de 80% delas são soropositivas para o vírus HIV/Aids. "Quando estou aqui procuro me desligar de tudo. A ideia é tornar esse momento de internação mais alegre por meio da leitura, do conto e de brincadeiras, amenizando o seu sofrimento. É uma tarefa de humanização", explicou. De acordo com ele, a abordagem é feita na base do carinho e da amizade, respeitando o momento e o desejo da criança. "Contar histórias é uma maneira de se aproximar da criança internada. Às vezes, ela não quer conversar. Outras pedem para desenhar ou brincar. E há dias em que o paciente não quer conversa. A gente entra no quarto e ela fica o tempo inteiro muda. Então, deixamos um recado para o próximo voluntário. Busco sempre entrar em sintonia com o mundo dela", afirmou. Jaleco colorido – Usando o avental colorido e diferente com um bolso grande nas costas, Malheiros responde rápido a quem pergunta: "é para carregar livros".
Ele também anda com um nariz de palhaço escondido num dos bolsos. Longe da toga, o desembargador não nega que, às vezes, tem dificuldade de entrar no espírito da alegria infantil. "Tem dias em que é difícil se desvencilhar do clima de tribunal, por força do hábito. Já em outros dias, pega fogo. Tantas vezes me peguei estourando numa gargalhada com as crianças. Uma vez joguei bola com os meninos no corredor e tive que ser tocado daqui", disse. "O jaleco com cores ajuda a sair da rotina e a se diferenciar do médico. O segredo é ser natural". Na brinquedoteca - "Qual livro você quer ler? Ah, esses outros personagens não conhecia (...). O que você gosta de comer?". Somente depois da quarta ou quinta pergunta, o voluntário de jaleco colorido consegue obter a resposta de Denise S.F. (nome fictício), de 12 anos, que é soropositiva. A partir daí, a garota que parecia ser tímida, começa também a sorrir. No final da visita, Malheiros beijou carinhosamente a garota e também o seu livro. "Dou um pedaço do meu coração a cada criança que visito" disse o desembargador. Ao se declarar um espiritualista universal, Malheiros alia a razão à fé. "Aqui temos que trabalhar com a razão e o coração na fé em Deus, procurando dar o melhor. O interessante é que por mais dolorosa que seja a situação, são elas quem me transmitem coragem. Saio daqui cheio de esperança", concluiu. Idealizada em 1997 por Valdir Cimino, a AVDV capacita voluntários como contadores de histórias em hospitais. Sua missão é promover entretenimento, cultura e informação educacional visando transformar a internação hospitalar de crianças e adolescentes em um momento mais alegre. Atualmente, a instituição possui mil voluntários, atuando em oito capitais brasileiras.
Fonte: Diário do Comércio
Todas as sextas-feiras, o juiz desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Antonio Carlos Malheiros, de 58 anos, troca a sua toga (vestuário de magistrado) pelo avental colorido de contador de histórias da Associação Viva e Deixe Viver (AVDV). Na tarde do último dia 22, por exemplo, após assinar o diário de voluntários, com muita delicadeza, ele se aproximou de uma menina que folheava um livro do Menino Maluquinho. Sentou-se em uma cadeirinha ao seu lado, e perguntou com voz baixa: "posso falar com você?" É na brinquedoteca da ala pediátrica do Hospital Emílio Ribas, na zona oeste da cidade, que Malheiros faz uma pausa nas atividades de desembargador e professor universitário, para se dedicar a mais um capítulo de sua história como voluntário em hospitais, tarefa que realiza há 30 anos. "Primeiro, fui agente da Pastoral da Saúde da Igreja Católica por muitos anos e visitava adultos e idosos. Em 1997, fui o primeiro voluntário da turma de contadores de histórias da AVDV e comecei a visitar crianças", disse. Tempo – Apesar de analisar cerca de 150 votos (processos) por mês, Malheiros contou que sempre arranja tempo para se dedicar por três ou quatro horas semanais às crianças do Emílio Ribas. Mais de 80% delas são soropositivas para o vírus HIV/Aids. "Quando estou aqui procuro me desligar de tudo. A ideia é tornar esse momento de internação mais alegre por meio da leitura, do conto e de brincadeiras, amenizando o seu sofrimento. É uma tarefa de humanização", explicou. De acordo com ele, a abordagem é feita na base do carinho e da amizade, respeitando o momento e o desejo da criança. "Contar histórias é uma maneira de se aproximar da criança internada. Às vezes, ela não quer conversar. Outras pedem para desenhar ou brincar. E há dias em que o paciente não quer conversa. A gente entra no quarto e ela fica o tempo inteiro muda. Então, deixamos um recado para o próximo voluntário. Busco sempre entrar em sintonia com o mundo dela", afirmou. Jaleco colorido – Usando o avental colorido e diferente com um bolso grande nas costas, Malheiros responde rápido a quem pergunta: "é para carregar livros".
Ele também anda com um nariz de palhaço escondido num dos bolsos. Longe da toga, o desembargador não nega que, às vezes, tem dificuldade de entrar no espírito da alegria infantil. "Tem dias em que é difícil se desvencilhar do clima de tribunal, por força do hábito. Já em outros dias, pega fogo. Tantas vezes me peguei estourando numa gargalhada com as crianças. Uma vez joguei bola com os meninos no corredor e tive que ser tocado daqui", disse. "O jaleco com cores ajuda a sair da rotina e a se diferenciar do médico. O segredo é ser natural". Na brinquedoteca - "Qual livro você quer ler? Ah, esses outros personagens não conhecia (...). O que você gosta de comer?". Somente depois da quarta ou quinta pergunta, o voluntário de jaleco colorido consegue obter a resposta de Denise S.F. (nome fictício), de 12 anos, que é soropositiva. A partir daí, a garota que parecia ser tímida, começa também a sorrir. No final da visita, Malheiros beijou carinhosamente a garota e também o seu livro. "Dou um pedaço do meu coração a cada criança que visito" disse o desembargador. Ao se declarar um espiritualista universal, Malheiros alia a razão à fé. "Aqui temos que trabalhar com a razão e o coração na fé em Deus, procurando dar o melhor. O interessante é que por mais dolorosa que seja a situação, são elas quem me transmitem coragem. Saio daqui cheio de esperança", concluiu. Idealizada em 1997 por Valdir Cimino, a AVDV capacita voluntários como contadores de histórias em hospitais. Sua missão é promover entretenimento, cultura e informação educacional visando transformar a internação hospitalar de crianças e adolescentes em um momento mais alegre. Atualmente, a instituição possui mil voluntários, atuando em oito capitais brasileiras.
Fonte: Diário do Comércio