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O Jardim Irene entra em campo

Por Diário do Comércio   3 de novembro de 2010
O Jardim Irene, no extremo sul da cidade de São Paulo, ficou mundialmente conhecido no final da Copa de 2002, quando o então capitão da seleção brasileira, o Cafu, ergueu a camisa e mostrou a frase 100% Jd. Irene. Fazendo referência ao bairro onde nasceu e foi criado, Marcos Evangelista, nome de batismo do jogador, deu o pontapé inicial para a consolidação do projeto da fundação que leva o nome que o tornou conhecido: a Fundação Cafu. Há seis anos, a instituição mantém programas de incentivo de inclusão social, inclusive para moradores de bairros vizinhos, reunindo mais de 700 crianças e jovens em atividades artísticas, esportivas e de reforço escolar.

Sobrevivendo com recursos próprios – a despesa mensal gira em torno de R$ 56 mil – a fundação quer alçar vôos mais altos nos próximos anos. "Não temos condições de ampliar o atendimento, por enquanto, mas já temos a documentação pronta para participar da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet", disse Cafu. Segundo ele, com a parceria de empresas será possível aumentar a capacidade e atender melhor a comunidade. "Com a lei, teremos sustentabilidade de quase 90%", afirmou o jogador.

A Fundação Cafu está localizada no distrito de Capão Redondo, que ocupa a 82º posição no ranking de exclusão social no País. A mortalidade por causas externas é da ordem de 74,5% a cada 100 mil habitantes, enquanto a média da cidade de São Paulo é de 37,9%, dado que mostra a violência que reina naquela área.

Atividades – Na fundação, crianças entre 3 e 10 anos aproveitam o período pós ou pré-aula para brincar, sempre em grupo, com jogos interativos, ou ler na brinquedoteca, durante duas horas. "Além de brincar, faço capoeira e oficina de canto. Gostaria de fazer futebol, mas preciso de tempo também para estudar", disse Alessandro Silva, de 8 anos. Para o pequeno Vitor Sebastião, de 7 anos, falta tempo para a capoeira. "Fico na brinquedoteca, mas minha mãe diz que preciso ocupar meu tempo com o estudo para não ficar burro", afirmou.

As crianças e adolescentes que estão na faixa de 7 a 14 anos participam da brinquedoteca e podem também frequentar as aulas de português, inglês, informática e matemática, que reforçam o conteúdo escolar, além de participar de atividades como canto, futebol, teatro, artes plásticas, dança e capoeira, que complementam o conhecimento e estimulam diferentes formas de aprendizado.

Os adolescentes mais velhos, que estão entre 15 e 17 anos, têm atividades diferenciadas, relacionadas à formação profissional, ao exercício da cidadania e à prática esportiva com a perspectiva de ampliar as possibilidades de inserção no mercado de trabalho.

Renda – A geração de renda para as famílias também é uma preocupação na Fundação Cafu. No curso de cabeleireiro, graças a uma parceria com o Instituto Embelleze, ou no artesanato, homens e mulheres podem usar suas habilidades para aumentar o orçamento familiar. "Caminho e faço fisioterapia por causa de um problema no joelho. Mas é no trabalho artesanal que faço terapia e ganho um dinheiro extra", disse a doméstica desempregada Francisca Santos, de 49 anos.

Segundo dados do Mapa da Juventude de 2003, elaborado pela Coordenadoria da Juventude da Prefeitura do Município de São Paulo, o Jardim Irene pertence a uma zona caracterizada pelas piores condições de vida para os jovens que estão na faixa etária dos 15 aos 24 anos.

"Trabalhar com o terceiro setor, fazer alguma coisa para auxiliar os menos favorecidos das comunidades é muito gratificante. Mas é um trabalho que precisa de ajuda constante para sobreviver", finalizou Cafu.

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