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Enquanto o bebê não chega

Por Diário do Comércio   17 de novembro de 2010
Testes de gravidez, acompanhamento pré-natal, atendimento psicológico e curso para aprender a cuidar de bebês. Estes são apenas alguns dos serviços oferecidos pelo Centro de Reestruturação para a Vida (Cervi), na Barra Funda, para as mulheres que precisam aprender a lidar com uma gravidez indesejada. Criada há 10 anos, motivada principalmente pelo alto índice de abortos realizados no Brasil – entre 4 e 5 milhões por ano –, a ONG é uma extensão do projeto Life International, que tem sede nos Estados Unidos e atende em 15 países.

Atuando diretamente com mulheres, casadas ou não, que enfrentam uma gravidez inesperada, a ONG oferece apoio psicológico, acompanhamento médico, enxovais para os bebês, além de desenvolver um trabalho que eleva a auto-estima da gestante. Voluntários também fazem palestras em escolas públicas e particulares, falando sobre prevenção de gravidez e doenças sexualmente transmissíveis. Nos últimos 10 anos, o Cervi atendeu mais de 8,5 mil mulheres que buscavam orientação psicológica e médica.

Prevenção – "Geralmente as mulheres chegam aqui perdidas, sem saber o que fazer. Pensando até em desistir da gravidez", disse Rose Santiago, diretora da ONG. Após uma primeira conversa, aquelas que decidem dar prosseguimento à gestação são encaminhadas para hospitais conveniados para o pré-natal e participam de aulas sobre os cuidados com o bebê. "Para muitas delas, apenas uma conversa ou um abraço soluciona as dúvidas e os medos. Elas chegam emocionalmente desestruturadas e saem daqui com uma decisão, se serão ou não mães", disse.

Na opinião de Rose, a solução para a gravidez inesperada e indesejada é um trabalho sério de prevenção. "Adolescentes e adultos sabem como se prevenir, mas não têm a atenção necessária para fazer essa prevenção. Tanto que a segunda gravidez entre 16 e 19 anos acontece em 60% dos casos", disse. Segundo ela, os abortos, por sua vez, acontecem mais entre mulheres casadas e de classe média alta. "Aqui não tem história de cinderela. São histórias reais, tristes e, muitas vezes, de abandono", afirmou a diretora do Cervi.

Solidão – Uma mulher de 30 anos, a quem chamaremos de Patrícia, mãe de um bebê de 9 meses, a quem daremos o nome de Felipe, foi atendida pela ONG, onde chegou por indicação de uma amiga. "Passei a gravidez inteira sozinha. Meu marido foi embora assim que soube que seria pai. Atravessei um período bem difícil, mas decidi seguir com a gravidez. O atendimento psicológico está sendo primordial na minha recuperação", disse.

Muitas mulheres, diante da notícia de uma gravidez não planejada, acabam optando pelo aborto. Uma pesquisa realizada em maio deste ano, financiada pelo Ministério da Saúde em parceria com o Instituto de Bioética da Universidade de Brasília (UnB), entrevistou 2.002 mulheres e revelou que uma em cada sete brasileiras, com até 40 anos, já fez aborto. Esse resultado equivale a 5 milhões de mulheres nesta faixa etária.

Entre as mulheres com idades de 18 a 39 anos, 15% das entrevistadas declararam que já fizeram pelo menos um aborto. As mulheres ouvidas pela pesquisa não informaram, porém, a forma com o aborto foi realizado, se estava entre uma das situações permitidas por lei ou não. No ano passado o SUS (Sistema Único de Saúde) realizou 183,6 mil curetagens em decorrência, entre outras causas, de abortos espontâneos ou provocados, a um custo de R$ 37,2 milhões.

Serviço

O Cervi está realizando a campanha do ultrassom. A cada real doado, a ONG ganhará mais um real de uma empresa privada. Além de doações financeiras, a instituição também recebe roupas de bebês e gestantes, fraldas e móveis infantis. Mais informações no telefone 3822-2001.

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