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Hospital também é lugar para estudar

Por Diário do Comércio   15 de dezembro de 2010
Crianças internadas no hospital Darcy Vargas têm sala de aula, professores e provas. Tudo para não perder o ano na escola. Trabalho existe há 15 anos.

A tímida Kauanny Oliveira, de 8 anos, não reclama mais na hora de ir ao hospital Darcy Vargas, no Morumbi, para passar novamente pela sessão de quimeoterapia. Em tratamento de leucemia há dois anos, a garota aproveita os dias em que está no hospital para tirar dúvidas escolares com a professora Cláudia. Ela é aluna da 2ª série do ensino fundamental e tem a possibilidade de reforçar os estudos enquanto passa pelo tratamento.

Assim como ela, outras crianças e adolescentes também podem tirar dúvidas com professoras de classes especiais e até estudar e fazer provas durante o período de tratamento ou de internações. A iniciativa de levar a escola ao hospital evita a reprovação dos estudantes que permanecem hospitalizados por um longo período. "A Kauanny frequenta o hospital há dois anos , então já sei em que estágio de aprendizagem ela está e o que posso fazer por ela. Aplico atividades para ajudá-la na escola", explicou Claudia Araújo, professora de classes especiais.

Respeito – As classes hospitalares atendem crianças e adolescentes que necessitam de um longo período de internação. O hospital entra em contato com a escola e manifesta o interesse em dar prosseguimento às aulas dentro do ambiente médico, evitando assim que a criança se atrase nos estudos. As aulas respeitam as condições físicas, os horários de tratamento e medicação, e a saúde da criança, não havendo, portanto, horários determinados.

Os professores se dividem entre o período matutino e o vespertino para atender aos pequenos pacientes. Além das atividades e exercícios, eles fazem provas, e no final do ano, recebem um documento oficial, garantindo à escola regular que estão aptos para passar para o próximo ano. O projeto prevê aulas da pré-escola ao ensino fundamental II (9º ano).

As crianças que estão em tratamento no hospital-dia, um anexo do Hospital Darcy Vargas, já trazem de casa os cadernos e os livros. Eles têm suas dúvidas esclarecidas e fazem as tarefas de casa com a orientação dos professores. "Passados 15 anos de sua implantação, o projeto continua vivo e ativo no Darcy. As crianças beneficiadas guardam boas recordações da unidade e dos professores, que estão envolvidos em um dos momentos mais importantes de suas vidas", disse Sérgio Sarubbo, diretor do Darcy Vargas.

Tempo – Segundo a professora de educação especial de 1ª a 4ª séries Karen Dionisio Carneiro, as aulas são dirigidas a pacientes que ficam por um período considerável no hospital, mas isso não impede que as crianças internadas por um curto espaço de tempo ou que passam apenas um dia em sessão de quimioterapia ou hemodiálise usufruam da sala de aula. "Somos o lado saudável do hospital. São vivências diárias. Passamos a dar valor para as coisas simples da vida. Só de levantar e vir na sala de aula é um ganho muito grande para eles", disse Karen.

Para a professora Cláudia Pinto Carvalho, o aproveitamento é satisfatório, pois os pequenos não ficam atrasados em relação aos seus colegas de classe e, ao mesmo tempo, conseguem tratar o problema de saúde. "Mas fazemos tudo no ritmo deles, de acordo com a disposição do dia-a-dia. Às vezes os medicamentos os deixam com mais sono, mais doloridos. Muitos preferem até mesmo ter aulas no leito no lugar de vir para a sala de aula", disse.

Milhares – Pelo menos 75 mil crianças receberam o 'reforço escolar' nos últimos 15 anos no Hospital Infantil Darcy Vargas, beneficiadas por projeto da secretaria de Estado da Saúde em parceria com a secretaria de Estado da Educação. Atualmente, 60 crianças internadas, ou que fazem tratamento no hospital-dia, recebem aulas particulares, em grupo e lúdicas, com a orientação de oito professores.

"A classe hospitalar é uma humanização dos hospitais. É extremamente benéfico para o paciente e faz com que ele se sinta acolhido. Isso melhora o relacionamento com o hospital e com a família. Aqui não há preconceito. Todos são iguais e capazes de aprender", disse Sérgio Sarubbo.

O projeto começou graças à ajuda de voluntários da Associação Paulista Feminina de Combate ao Câncer, pioneira na implantação do serviço na rede estadual. O projeto Classes Hospitalares também foi expandido, nos últimos anos, para outras unidades da rede estadual e hoje faz parte do dia-a-dia do Hospital Infantil Cândido Fontoura, Instituto Emílio Ribas, Instituto do Coração e Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, na capital, Hospital Geral de Pirajussara, em Taboão da Serra, e Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.

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