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Projeto bom para cachorro

Por Diário do Comércio   19 de agosto de 2011
Mel é mãe de Brenda e avó de Belinha. Juntas, e acompanhadas de mais 11 cães das raças golden retriever, bernese, labrador, cocker, griffon de Bruxelas e vira-lata (sem raça definida), elas fazem parte do projeto Medicão Terapeuta Multidisciplinar e ajudam doentes, idosos ou portadores de deficiências física, visual e mental a deixar de lado suas dificuldades e aproveitar mais a vida. As visitas acontecem todas as semanas em instituições médicas de quatro cidades do Interior de São Paulo.

O projeto visita regularmente os pacientes do Hospital Celso Pierro, crianças com câncer do Centro Infantil Boldrini e da Casa Ronald Mc Donald, pessoas com deficiências mental e física do Centro Educacional Integrado (CEI) e pacientes com deficiência visual do Instituto Pró-Visão, em Campinas. A equipe também atua na área pedagógica, com os estudantes do Colégio Provecto, e na geriátrica, com idosos do Lar dos Velhinhos, também em Campinas. Em Itu, a visita é realizada no Instituto de Cegos Maria Luiza, em Sorocaba, no Instituto de Cegos Asac, já em Piracicaba, no Hospital Unimed.

A equipe é composta por 20 profissionais voluntários e 12 cães terapeutas. Outros cinco serão integrados à equipe ainda neste semestre. Os profissionais utilizam o potencial canino para melhorar e, muitas vezes, mudar a vida de pacientes em tratamento, estudantes e idosos. As visitas são feitas, geralmente, por quatro cães e seus respectivos voluntários.

"Cada visita dura, em média, duas horas. Não pode ser mais longa por causa do desgaste dos animais. Promovemos atividades com brincadeiras específicas para cada caso, que ajudam a distrair e fazer com que a vida seja mais doce", disse o adestrador de cães e cinotécnico Hélio Rovay Júnior, idealizador do projeto . Segundo ele, nem sempre o voluntário trabalha com seu cachorro ou o cachorro tem dono voluntário, mas eles são fáceis de lidar.

Benefício - O projeto começou há mais de 10 anos pelas mãos de Hélio, de sua esposa, a pedagoga Adriana Maraccini, e pelas patas de Nina, sua cadela da raça Labrador. Juntos, atendiam a um grupo de seis crianças com Síndrome de Down em um instituto de Campinas. "Comecei a analisar a cãoterapia e o benefício que isso traria para as pessoas. Acabou virando um vício", afirmou Rovay.

O trabalho, minucioso, envolve a seleção de animais e a manutenção de sua saúde, já que eles circulam por ambientes que exigem assepsia e boa conduta. "O cão precisa ser confiante e estável. Há ainda requisitos básicos, como não ser medroso ou tímido e permitir que as pessoas façam afagos", explicou.

Os animais, inclusive, são adestrados para não reagir agressivamente diante de uma interação mais exaltada, se alguém puxar a orelha ou o rabo, por exemplo. Por falta de recursos, o projeto ficou suspenso por algum tempo, mas a ideia não foi abandonada. "As pessoas diziam que eu não podia parar. Hoje, o projeto cresceu tanto que não poderia interromper".

A continuidade do trabalho foi garantida pelo apoio de empresas como a Bayer HealthCare, que desde 2009 auxilia com o custeio de uniformes, combustível e também no tratamento veterinário dos animais.

"Optamos por destinar recursos a este projeto por acreditarmos nos benefícios do tratamento humanizado com a utilização de animais. Cada paciente demonstra visíveis progressos ao receber esta visita especial", disse Gilberto Neto, gerente da unidade de Animais de Companhia da Saúde Animal da Bayer HealthCare.

Banho – Os animais recebem uma dieta específica e acompanhamento veterinário para a aplicação de medicamentos contra parasitas, como pulgas e carrapatos, além de vermífugos, que os protegem contra a ação de vermes. No dia das visitas, os cachorros recebem um banho com produtos hipoalergênicos, para segurança dos cães e das pessoas com as quais terão contato.

"Juntos, fazemos a diferença. Esse trabalho dá a sensação de missão cumprida, pois sabemos que pequenas ações influenciam a vida das pessoas. As pessoas riem e percebemos que elas ficam mais felizes, mais leves. A equipe, de fato, faz a diferença", disse Hélio Hovay.

Sesi prepara cães-guia

O Sesi (Serviço Social da Indústria) de São Paulo lançou, no começo do mês, um projeto de treinamento para 32 cães-guia das raças labrador e golden retriever, para auxiliar pessoas com deficiências visuais. Sete já foram entregues a famílias acolhedoras. “A meta para o próximo ano é triplicar este número e chegar a 100 cães treinados e doados”, disse o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.

A primeira etapa, de convivência com ambientes sociais, dura até que o filhote complete um ano de idade. Numa segunda fase, o cachorro deixa a família que o acolheu e segue para o centro de treinamento do Instituto Meus Olhos têm Quatro Patas, para receber adestramento especializado. O treinamento dura de seis a oito meses.

A terceira e última etapa é o período de instrução. Nele, o cachorro escolhe o seu futuro dono e tem início o processo de adaptação. Os cães serão doados mediante análise feita pelo Sesi-SP de cada caso dos inscritos no programa. “Hoje existem poucos cães-guia e a maior parte vem de fora, não é uma tecnologia brasileira. Então, concluímos que é importante ter uma tecnologia para isso aqui no Brasil”, afirmou Paulo Skaf.

De acordo com levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), em 2000, São Paulo é o estado brasileiro com maior número de portadores de deficiências visuais (23.900). No Brasil, existiam 2,4 milhões de pessoas com grande dificuldade de enxergar. O custo para preparar um cão-guia no Estado de São Paulo atinge R$ 28 mil.

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