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Especialistas debatem a cultura da doação no Brasil.
Entender quem doa, o motivo, como se dá esse processo e quais públicos estão envolvidos nisso foram temas debatidos na palestra Cultura da Doação no Festival ABCR 2015, na tarde do segundo dia do evento no Centro de Convenções Rebouças, realizado entre os dias 05 e o7 de maio, em São Paulo.
Para ilustrar esse cenário e indicar os principais pontos, participaram: Domingos Armani, sociólogo e mestre em ciência política da UFRGS; Joana Lee Ribeiro, advogada e responsável pelo desenvolvimento institucional da Associação Acorde; Nina Valentini, administradora e diretora-executiva do Movimento Arredondar; Rodolf Ohl, administrador e country manager da SurveyMonkey no Brasil.
Domingos começou a falar que o Brasil é um pais solidário. “O elemento solidariedade faz parte do nosso modo de vida. Mas temos muitos limites de doação a organizações da sociedade civil”, afirmou.
O pesquisador também comentou que as pesquisas indicam que há uma ligação de doação a religiosidade e espiritualidade. “Muitas vezes isso é relacionado de forma negativa. Tem que ter um olhar com um pouco mais de cuidado, trazer as experiências das igrejas que conseguem levantar recursos. Diferentes regiliões possuem práticas em doações e solidariedade”, sugeriu.
Para o professor da UFRGS e da PUC-RS, as pessoas doam para as igrejas pela proximidade local e o vínculo de confiança. “As pessoas no dia a dia não se dão conta que as organizações contribuem para a democracia. Esse valor não é muito valorizado e as pessoas não se dão conta e o quanto é importante apoiar essas iniciativas para contribuir com a autonomia e o protagonismo”, defendeu.
O pesquisador também apontou que os fundos independentes conseguem contribuir para ampliar com o ativismo político e engajamento numa causa social e até consequentemente com a democracia brasileira. Em sua opinião, é importante acionar dois sentidos na doação: você doa porque tem consciência e aciona o interesse próprio. “Melhorar a sociedade é bom para mim e para minha família. Tenho interesse em não aumentar a pobreza e ativar isso ao meio ambiente, acompanhado com altruísmo para politizar a questão”, pontuou.
Joana comentou sobre a necessidade de chamar a atenção para a importância da doação para fortalecer o papel das organizações da sociedade civil. Ela explicou a proposta do Dia do Doar (2 de dezembro), uma ação criada em que as pessoas se reúnem para retribuir. Iniciado nos Estados Unidos, o movimento está crescendo em vários países e todos desenvolvem ações para estimular a doação em suas comunidades. Clique aqui para conhecer: http://www.diadedoar.org.br/
Para a articuladora do Movimento por uma Cultura de Doação no Brasil, o Brasil de hoje tem muitas chances de melhorar esse cenário, já que 52% da população está na classe média, é a sétima economia do mundo e subiu para 90º no índice de doação. “No mundo inteiro, as organizações sofrem de descrédito”, pontuou. Para ela, uma saída é a doação ser uma parte do orçamento do indivíduo para ganhar um lugar na vida das pessoas e as crianças poderiam aprender na escola.
Já Nina listou situações que não deram certo do Movimento Arredondar para compartilhar com o público. O mediador questionou para ela: para criar uma cultura de doar precisa desenvolver uma cultura de pedir? Para isso, ela comentou primeiro sua atuação, que prefere se classificar como mobilizadora de recursos, porque ela entende que trabalha em troca de benefícios. Ela explicou como o Movimento Arredondar atua com os varejistas, que arredonda o valor da sua conta nos locais que fazem parte dessa iniciativa. Esse valor arrecadado é direcionado diretamente a organizações sociais selecionadas que trabalham pelos 8 Objetivos do Milênio, da Nações Unidas.
A diretora-executiva do Arredondar comentou que possuem 500 mil doadores e o trabalho da equipe consiste em ouvir os varejistas participantes. “O estabelecimento de vínculo leva tempo e dá trabalho”, observou. Outro ponto que chamou atenção foi que as pessoas não têm a cultura de pedir. Isso foi constatado quando as caixas dos comércios não ofereciam o programa, por temerem uma resposta negativa do cliente.
*Fonte: SENAC – Setor 3