Notícias

O celular pode facilitar a vida de quem tem necessidades especiais.

Por REBRATES   12 de janeiro de 2017
Foto de Thinkstock

Os smartphones, notebooks e tablets se fizeram indispensáveis em nossa rotina, não há como negar. São ferramentas de trabalho e de estudo, são meios para o cumprimento de obrigações, a exemplo de quando os usamos para pagar contas e impostos, mas também servem para socializar, para o lazer.

O problema é que esses equipamentos não foram pensados para todos. Pelo menos não em suas origens. Deficientes visuais e auditivos, pessoas com limitações motoras, nunca foram público-alvo dessas tecnologias. De certa forma, isso os tornava cidadãos de segunda classe, alienados desse universo virtual que hoje é tão real em nossas vidas.

Mas essas mesmas tecnologias que a princípio segregavam, carregam em seu DNA um tremendo potencial inclusivo, que permite não apenas se adequarem às pessoas com deficiências, mas dar a elas novas habilidades.

É o caso do Seeing AI, um aplicativo em desenvolvimento pela Microsoft, que pode ser instalado no smartphone, e permite a pessoas cegas compreenderem o que se passa a seu redor. Ao capturar uma imagem do entorno com o celular, o Seeing AI descreve em voz alta a cena registrada.

Jovens andando de skate, pedestres parados no semáforo, um cachorro sendo levado na coleira e outras cenas típicas do cotidiano ganham forma, através de palavras, para a pessoa com deficiência visual.

Esse aplicativo consegue fazer a leitura em voz alta de textos fotografados, como os de um cardápio ou mapas do metrô, dando mais autonomia às pessoas cegas.

O Seeing AI também funciona com óculos especiais, que registram o ambiente com um simples toque em sua lateral. Essa ferramenta inclusiva foi apresentada ao público em meados do ano passado. Embora não tenha uma data para ser lançado, é tida como uma das prioridades da Microsoft.

“Pessoas com deficiência têm a necessidade de buscar informações, mas falta a conveniência para elas, que pode ser conseguida com a adequação das ferramentas tecnológicas que temos hoje”, disse José Antonio Borges, doutor em engenharia de sistemas e computação pela UFRJ, que em dezembro participou do III Congresso de Acessibilidade.

Borges é um dos pioneiros no desenvolvimento de tecnologias inclusivas no Brasil. Inspirado pelas necessidades de um aluno cego de seu curso de computação, em 1993 ele começou a projetar o DosVox, um sistema que facilita a pessoas com deficiência visual utilizar o computador e navegar pela internet.

Hoje esse sistema possui mais de 80 mil usuários no país, que graças a essa tecnologia podem fazer buscas orgânicas por vídeos no YouTube, ter acesso a textos disponibilizados na rede – que são lidos pelo DosVox -, entre outras possibilidades.

“Permitir que pessoas com deficiências acessem a internet é garantir a cidadania a elas. Afinal, o governo é cada vez mais eletrônico, disponibilizando na web ferramentas para que o contribuinte cumpra suas obrigações, como no caso do Imposto de Renda. Hoje, para um cidadão ter todos os seus direitos atendidos, ele precisa usufruir dos serviços disponíveis na internet”, disse Borges.

Nesse contexto, o docente da UFRJ disse que também seria papel do estado direcionar investimentos para o desenvolvimento dessas tecnologias voltadas à acessibilidade digital, o que não estaria ocorrendo de maneira satisfatória.

Já os investimentos privados estão acontecendo. Além da Microsoft, outra gigante da tecnologia, a Google, vem desenvolvendo aplicativos que tornam os smartphones, tablets e computadores mais acessíveis.

Na Play Store, a loja virtual da Google, encontra-se o Voice Access, um aplicativo gratuito que permite às pessoas com dificuldades motoras interagirem com o celular por meio de comandos de voz.

Basta dar comandos do tipo “abra a internet”, ou então, “fotografe”, e a ação é executada pelo aplicativo, sem a necessidade de tocar no celular.

O Voice Access é compatível com sistema operacional Android. Apesar de poder ser baixado na loja da Google, ele ainda aparece como versão em desenvolvimento, o que cria expectativas por melhorias. Os comandos de voz ainda precisam ser feitos em inglês, por exemplo. A expectativa é que novas versões saiam compatíveis com outros idiomas.

É interessante notar que estas são tecnologias gratuitas, ou de baixo custo, para o usuário. E elas podem ser adquiridas simplesmente fazendo o download das suas aplicações no computador ou no smartphone.

MOUSE DE CABEÇA

Algumas dessas tecnologias de acessibilidade já se consolidaram no mercado. É o caso do HeadMouse da empresa espanhola Indra, que por meio de acordos de cooperação com o governo espanhol e com universidades locais vem desenvolvendo recursos que facilitam a vida de pessoas com deficiências.

O HeadMous pode ser instalado, por meio de um simples download em qualquer computador que possui webcan. Assim, a câmera passa a interpretar os mais leves movimentos feitos com a cabeça e direciona essas ações para o cursor do mouse.

Funções como clicar, ou segurar para arrastar o cursor, podem ser executadas abrindo e fechando a boca ou piscando os olhos, permitindo que tetraplégicos, pessoas com paralisia e problemas motores usem o computador.

Essa ferramenta funciona em conjunto com o VirtualKeyboard, um teclado virtual também desenvolvido pela Indra. Assim que é instalado, o teclado aparece na tela do computador e passa a interpretar os movimentos faciais do usuário.

Segundo a empresa, nos testes, textos extensos, de mais de 50 mil toques, foram redigidos por pessoas com deficiências motoras com o uso dessas tecnologias. Assim como acontece no buscador do Google, o VirtualKeyboard “aprende” as palavras mais usadas e as antecipa, facilitando a redação dos textos.

LEITURA DINÂMICA

Além de aplicativos, há uma série de periféricos, como impressoras em braile, que ajudam pessoas com deficiências a produzirem usando o computador. São equipamentos que demandam um certo investimento, mas garantem retorno.

Um dos mais interessantes é o Focus 40 Braille, da brasileira Tecassistiva. Trata-se de um teclado com teclas dinâmicas em braile que se ajustam automaticamente conforme o texto aberto no computador.

Imagine esta linha de texto que você lê neste exato momento. Todas as letras que formam as sentenças estariam transcritas em braile, em tempo real, no Focus 40 se esse periférico estivesse ligado a uma entrada USB do seu computador.

Há muitas novidades no mercado relacionadas com a acessibilidade digital, entretanto, ainda existe um longo caminho a ser percorrido para podermos falar em uma completa inclusão de pessoas com deficiências no ambiente virtual. Mas quando grandes conglomerados, como uma Google ou a Microsoft, resolvem entrar nesse mercado, fica mais fácil de prever que as novas tecnologias que aparecerão, trarão incorporados recursos voltados à acessibilidade.

 

Comentários dos Leitores