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ale a pena investir nos projetos sociais e cativar o público
Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) confirma aquilo que se suspeitava empiricamente: o trabalho social desenvolvido por empresas brasileiras cativa a comunidade, agrega simpatia, conquista o consumidor, e reforça sua imagem perante os funcionários.
Os próprios empresários estão substituindo a filantropia ou simples doações em dinheiro às entidades carentes, para dirigir ações sociais de longo prazo. Apesar da agenda atribulada, eles se dedicam pessoalmente a projetos assistenciais, arrumam tempo para tais atividades. Como líderes corporativos, fazem questão de estimular e difundir o voluntariado entre seus empregados e, conseqüentemente, disseminar o conceito de empresa cidadã.
Os principais personagens do país erguem a bandeira. São incansáveis batalhadores e aliados. Dois deles são dignos de citação. Jorge Gerdau Johannpeter, um dos grandes empreendedores brasileiros, e Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna, uniram-se espontaneamente em torno do mesmo discurso, ou seja: não há desenvolvimento sem responsabilidade social.
Os números do Ipea confirmam essa tendência. Das 782 mil empresas privadas nacionais com um ou mais funcionários, 462 mil possuem algum tipo de atividade social.
Apesar do resultado fantástico dessa amostragem, o Brasil ainda busca o modelo ideal. Do discurso pomposo à prática real, há uma longa trilha a ser percorrida, segundo outra pesquisa, desta vez do Datafolha, que ouviu cerca de 2.830 pessoas de 127 municípios de todos os Estados. Dentre as conclusões, 83% das pessoas entrevistadas reconhecem a importância do trabalho voluntário, mas 73% nunca fizeram nada. No entanto, o estudo revela um dado preocupante: 30% da população não têm a mínima idéia do que venha a ser o significado de voluntariado.
E é justamente neste grupo de "desinformados" ou "desavisados" que os empresários sociais devem focar e levar a mensagem da causa. Os especialistas garantem que o potencial de crescimento é infinito.
Antes disso, porém, alguns dogmas precisam ser exterminados. E há vários deles. Até hoje, o voluntário foi visto como elitista ou um simples doador de dinheiro para campanhas humanitárias. Nesse caso, em especial, as figuras públicas engajadas no processo poderiam se mobilizar para mostrar suas ações e como os interessados podem ajudar. Não há ambiente mais democrático que este: a luta é de todos.
O fato de o assunto ser novo no nosso cotidiano também conspira contra o movimento. Falta informação em todos os níveis e segmentos. O tema entrou há pouco tempo na ordem dia.
A desconfiança generalizada é outro gargalo que emperra o crescimento. As campanhas com tom oficial despertam desconfiança geral, pois as pessoas não recebem a prestação de contas. Em outras palavras, ninguém sabe aonde o dinheiro foi parar. A suspeita de desvio de verbas e bens atormenta o consciente coletivo. Por outro lado, este tipo de constatação liquida com o mito de que o Estado deva ser o principal provedor das boas ações. As pessoas estão deixando de ser paternalistas para "botar a mão na massa".
A nossa grande missão, independente das dificuldades, é construir uma nação sem excluídos. Utopia? Talvez. É imperativo que o fosso entre o Brasil rico e o Brasil desigual diminua. O fato de os órgãos governamentais não atenderem aos anseios da sociedade, é um indício de que as empresas têm condições de assumir grande parte deste papel.
Ainda que de forma incipiente, as organizações estão se aliando ou criando projetos sociais próprios, porque paira no horizonte um compromisso com a responsabilidade. As mazelas saltam diante dos nossos olhos, impossível não se sensibilizar.
Obviamente que a conscientização em massa é um processo de anos, talvez décadas, gerações. Entre as propostas debatidas por consultores, acredita-se que o ensinamento tem de começar na infância. Existe o consenso de que responsabilidade social e cidadania deveriam fazer parte do currículo escolar. Esta seria uma forma inteligente e eficaz de envolver a educação na construção de novos pilares cidadãs.
Mas os desafios são constantes. Por questões filosóficas ou por pressão da própria sociedade, os projetos sociais brotam a todo instante.
Refuto a idéia de que o movimento se revigorou porque estamos no Ano Internacional do Voluntariado. O montante dos recursos privados aumentou em relação ao ano passado, embora os dados não estejam consolidados. Novamente recorro às idéias de Jorge Gerdau para expor os bons fluídos. De acordo com ele, a cada R$ 1 aplicado em ações sociais, o retorno é de R$ 12. Diante desta evidência, como não acreditar que o Brasil caminhe a passos largos para se tornar um país mais maduro, justo e cidadão.
Mário Íbide é diretor de Recursos Humanos e coordenador do projeto social do Grupo Nova América