Notícias

Entidades negras protestam contra intolerância religiosa

Por Correio da Bahia / Andreia Santana   8 de outubro de 2001
Recentes agressões a terreiros de candomblé, no bairro de Tancredo Neves, motivaram o protesto

A intolerância religiosa e o desrespeito à liberdade de culto prevista na Constituição brasileira, que tem levado membros de uma igreja evangélica a agredir terreiros de candomblé em Tancredo Neves, gerou o protesto, ontem pela manhã, de diversas entidades negras de Salvador. Reunidos na porta do Terreiro Vila São Roque, uma das casas de culto afro ofendida por membros da Igreja Internacional da Graça de Deus, representantes de entidades como o Grupo Alerta Pernambués (GAP), Unegro, Movimento Negro Unificado (MNU) e Centro Baiano Anti-Aids, realizaram um ato de solidariedade aos terreiros perseguidos. Após o ato, aconteceu ainda uma passeata pelas ruas do bairro, visando chamar a atenção da sociedade para o problema.

De acordo com Luís Carlos Santos Lima, coordenador do GAP, entidade que organizou o ato de protesto, as agressões aos terreiros continuam. Em Castelo Branco, um grupo de evangélicos se aproveitou da cerimônia de saída das iaôs para provocar confusão através de palavras ofensivas. Em Tancredo Neves, além do Vila São Roque, onde há cerca de duas semanas um grupo de evangélicos atirou enxofre e sal nas paredes do terreiro, a casa de culto afro Tumbemsi, também sofreu agressões verbais.

Queixa - "Eles estão invadindo os terreiros para distribuir panfletos onde dizem coisas absurdas do tipo que o candomblé é a religião do diabo e que todos devem se converter senão arderão no fogo do inferno", revelou Luís Carlos. Baseados na lei contra o racismo, já que só casas de culto afro-brasileiro estão sendo agredidas, e na Constituição Federal, os terreiros de Tancredo Neves já entraram com queixa no Ministério Público. "Não podemos tolerar que atitudes como essas continuem acontecendo. O candomblé é o foco de resistência durante os 500 anos de presença negra no Brasil. No candomblé, não existe discriminação de nenhuma espécie, as mulheres no terreiro têm tanto poder quanto os homens. O sentimento de coletividade e comunidade também são muito fortes, eles foram os responsáveis pela preservação do sentimento de família, já que durante a escravidão afastavam-se pais e filhos justamente para destruir a auto-estima dos povos trazidos à força para cá", pontuou Olívia Santana, representante da Unegro.

Apesar de horrorizada com os atos de vandalismo que ocorreram em sua casa, Juciara Brito, ialorixá do Vila São Roque, ainda consegue lembrar aos agressores os fundamentos do candomblé, que tem como um dos princípios básicos a tolerância com todos os credos: "Os terreiros estão sempre abertos para receber todos aqueles que nos procuram, independentemente da religião deles. Nossos filhos não são proibidos de ter outras crenças. Eu mesma, fui uma vez por curiosidade assistir uma oração dos evangélicos e achei bonita", declarou mãe Juciara.

Comentários dos Leitores