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Grupo faz 25 anos de voluntariado
O Cangaíba comemorou este mês os 25 anos de um grupo muito especial de médicos voluntários. Eles já foram 15, mas hoje apenas três continuam o trabalho, com a mesma empolgação do tempo em que iniciaram a profissão.
Todos os sábados, os médicos Nassimi Mansur, Henrique Francé e Gilberto Natalini, que é vereador, trabalham gratuitamente no bairro.
Em 1974, durante a ditadura, o então estudante de medicina Gilberto Natalini estava preso no Dops e passou dois meses na cela 6 com o operário João Chile. Numa conversa sobre o futuro, o operário disse ao estudante que, quando este fosse médico, atenderia apenas os ricos.
"Ele era um dos melhores companheiros de cela", diz Chile. "Apertou minha mão e falou, com muita certeza: quando nos formarmos, vamos montar um consultório para o povo de Cangaíba."
Logo que se graduou, Natalini foi ao bairro com um grupo de colegas e procurou por João Chile. Fazia dois anos que eles não tinham contato.
"Quando contei ao padre da região sobre a visita, ele disse: 'Esses meninos caíram como queijo ralado num prato de espaguete!'", lembra o operário.
Naquele dia mesmo, um sábado, as consultas começaram, e não pararam até agora. O padre emprestou o salão paroquial para as reuniões sobre medicina preventiva, onde eram ministradas palestras."Fizemos audiovisuais e filmes sobre saúde", afirma Nassimi Mansur.
Os jovens médicos ganharam muita experiência com o serviço voluntário.
"Aprendemos a ter um tipo de relação diferente com o paciente. Começamos a vê-lo como um todo e a conhecer melhor os problemas", afirma o clínico-geral Henrique Francé.
"Íamos às casas, atendíamos as famílias, orientávamos e encaminhávamos os casos mais graves para o hospital. Fazíamos isso porque acreditávamos que era possível criar um sistema de saúde digno, decente", afirma Mansur.Aos poucos, o serviço ganhava mais estrutura. "Captávamos amostras grátis nos hospitais e fomos montando uma farmácia."
Para Henrique Francé, esse contato com os pacientes é enriquecedor. "Esses dias, fiz o pré-natal de uma menina. Havia feito o pré-natal da mãe, quando estava grávida dela", conta. "Podemos atender em todos os ciclos", completa Francé.
Segundo Nassimi Mansur, o tempo voou. "Ainda é surpreendente falar em número de anos. A gente foi fazendo isso naturalmente, sem nenhum objetivo que não fosse a alegria de fazer."
Gilberto Natalini diz que o trabalho voluntário significa tudo em sua vida.
"Fiz isso a metade da minha vida. Começou como um sonho de estudante, mas até hoje mantemos viva essa chama."
Os três médicos nem pensam em se aposentar desse voluntariado. "Temos um pacto de só sairmos de lá no caixão ou se estivermos incapacitados de fazer medicina", diz o vereador.