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Driblar a solidão é o desafio dos idosos em Varginha
Por Hoje em Dia - Margarida Hallacoc   8 de janeiro de 2002
Da Sucursal
VARGINHA - Driblar a solidão e o arrastar dos dias é o grande desafio dos 84 velhinhos internos do Lar São Vicente de Paulo, nesta cidade do Sul de Minas. Mesmo tendo a companhia uns dos outros, muitos preferem o isolamento de seus quartos, alheios ao mundo lá fora e até mesmo à rotina da instituição. Não gostam de participar das festas organizadas pelos funcionários, se recusam a ajudar nas tarefas diárias da casa, a receber visitas, a passear e até a tomar banho. 'Boa parte deles não gosta nem de conversa', afirma a funcionária Claudinéia Fabiano, 28 anos, há sete trabalhando no local.
Menos de dez idosos que lá vivem receberam visitas de familiares no último Natal e um número ainda menor teve o privilégio de ser convidado da família para comemorar a data fora de instituição. E houve quem recebeu o convite mas recusou-o. Acostumados ao silêncio e à rotina de horários do lar, sentem-se deslocados e inseguros fora da instituição. Foi o caso de Geraldo Batista de Sousa e sua irmã Lurdes das Graças de Sousa, levados por uma sobrinha para um Natal em família. Lurdes gostou da novidade e resolveu ficar com os parentes até o Ano Novo, mas Geraldo mal conseguiu virar a noite do dia 25 de dezembro fora do lar. Acordou bem cedinho, vestiu-se e disse estar pronto para ir embora.
Para Claudinéia Fabiano, o problema dos idosos é a ociosidade. 'O lar não tem dinheiro para pagar profissionais que poderiam motivá-los. Assim, eles vão ficando a cada dia mais recolhidos.' Os poucos que ainda têm disposição para algum trabalho ajudam na cozinha, cuidam do jardim ou fazem compras. É o caso de Paulo Donizete, que todos os dias sai de manhã e à tarde para ir à padaria ou ao supermercado comprar pães o biscoitos. Ao contrário dele, há os que até se recusam a tomar banho. Como Maria Conceição da Silva Araújo, 76 anos, que dá muito trabalho na hora da higiene pessoal. Como tem uma trajetória de moradora de rua, perdeu este costume. 'Castigo para ela é tomar banho. As enfermeiras têm de fazer promessas de passeios, de dar cigarro ou doce. Às vezes, nada disso resolve', conta a funcionária.
Ajuda de voluntários é sempre bem-vinda
VARGINHA - De acordo com Claudinéia Fabiano, o Lar São Vicente de Paulo está aberto à ajuda de voluntários que queiram trabalhar com os idosos. 'Nós até já temos algumas pessoas que fazem isso, mas são poucas e nem sempre estão disponíveis.' Uma destas voluntárias é a psicóloga Celma Figueiredo, que uma vez por semana leva um grupo para sua casa, onde desenvolvem atividades manuais durante o dia. 'Os que se acostumaram a ir com ela ficam a semana toda na expectativa. Voltam sempre radiantes e cheios de novidades para contar', fala Claudinéia Fabiano.
O ideal, para a funcionária, seria um revezamento entre os idosos, mas os que nunca foram resistem à idéia de sair do lar e os que já foram e gostaram não abrem mão de voltar. 'É complicado, porque eles são mais melindrosos que crianças', brinca Claudinéia Fabiano.
Apesar da resistência que têm em se relacionar ou participar de atividades, os funcionários do Lar São Vicente de Paulo está sempre inventando uma festinha ou uma atividade qualquer para tirá-los do marasmo. 'A gente sabe que quanto mais parados eles ficam, quanto menos motivados para a vida, mais doenças aparecem, mais se agravam as dificuldades motoras. Por outro lado, não dá para forçá-los a fazer o que não querem. É uma questão delicada', lembra a funcionária.
Atualmente, ainda de acordo com Claudinéia, o lar não enfrenta problemas de acomodações, mas há sempre uma pequena fila de pessoas esperando para serem recebidas pela instituição. 'Normalmente as próprias famílias nos procuram, ou alguém da comunidade, ao verificar a necessidade de um idoso. Às vezes a família não tem mesmo condições de ficar com o idoso, pois todos precisam sair de casa para trabalhar.' Os idosos à espera de uma vaga no Lar São Vicente de Paulo são alvo de análise de assistentes sociais da instituição, com visita à casa da família para conhecer as reais condições reais em que se encontra o candidato. 'A vaga é destinada ao que mais estiver precisando', diz. O idoso pode voltar ao convívio da família caso haja interesse das duas partes, mas isso dificilmente acontece. 'Sabemos que a maioria dos nossos internos têm famílias mas elas nunca mais se manifestam depois de deixá-los aqui. Nunca vêm visitá-los nem demonstram nenhum interesse em saber como estão. Depois de um certo tempo passamos a considerá-los como idosos sem família', diz Claudinéia.
O Lar São Vicente de Paulo pode ser visitado de segunda a sexta-feira, entre 14 e 15 horas, e aos sábados, domingos e feriados, entre 14 e 16 horas.
VARGINHA - Driblar a solidão e o arrastar dos dias é o grande desafio dos 84 velhinhos internos do Lar São Vicente de Paulo, nesta cidade do Sul de Minas. Mesmo tendo a companhia uns dos outros, muitos preferem o isolamento de seus quartos, alheios ao mundo lá fora e até mesmo à rotina da instituição. Não gostam de participar das festas organizadas pelos funcionários, se recusam a ajudar nas tarefas diárias da casa, a receber visitas, a passear e até a tomar banho. 'Boa parte deles não gosta nem de conversa', afirma a funcionária Claudinéia Fabiano, 28 anos, há sete trabalhando no local.
Menos de dez idosos que lá vivem receberam visitas de familiares no último Natal e um número ainda menor teve o privilégio de ser convidado da família para comemorar a data fora de instituição. E houve quem recebeu o convite mas recusou-o. Acostumados ao silêncio e à rotina de horários do lar, sentem-se deslocados e inseguros fora da instituição. Foi o caso de Geraldo Batista de Sousa e sua irmã Lurdes das Graças de Sousa, levados por uma sobrinha para um Natal em família. Lurdes gostou da novidade e resolveu ficar com os parentes até o Ano Novo, mas Geraldo mal conseguiu virar a noite do dia 25 de dezembro fora do lar. Acordou bem cedinho, vestiu-se e disse estar pronto para ir embora.
Para Claudinéia Fabiano, o problema dos idosos é a ociosidade. 'O lar não tem dinheiro para pagar profissionais que poderiam motivá-los. Assim, eles vão ficando a cada dia mais recolhidos.' Os poucos que ainda têm disposição para algum trabalho ajudam na cozinha, cuidam do jardim ou fazem compras. É o caso de Paulo Donizete, que todos os dias sai de manhã e à tarde para ir à padaria ou ao supermercado comprar pães o biscoitos. Ao contrário dele, há os que até se recusam a tomar banho. Como Maria Conceição da Silva Araújo, 76 anos, que dá muito trabalho na hora da higiene pessoal. Como tem uma trajetória de moradora de rua, perdeu este costume. 'Castigo para ela é tomar banho. As enfermeiras têm de fazer promessas de passeios, de dar cigarro ou doce. Às vezes, nada disso resolve', conta a funcionária.
Ajuda de voluntários é sempre bem-vinda
VARGINHA - De acordo com Claudinéia Fabiano, o Lar São Vicente de Paulo está aberto à ajuda de voluntários que queiram trabalhar com os idosos. 'Nós até já temos algumas pessoas que fazem isso, mas são poucas e nem sempre estão disponíveis.' Uma destas voluntárias é a psicóloga Celma Figueiredo, que uma vez por semana leva um grupo para sua casa, onde desenvolvem atividades manuais durante o dia. 'Os que se acostumaram a ir com ela ficam a semana toda na expectativa. Voltam sempre radiantes e cheios de novidades para contar', fala Claudinéia Fabiano.
O ideal, para a funcionária, seria um revezamento entre os idosos, mas os que nunca foram resistem à idéia de sair do lar e os que já foram e gostaram não abrem mão de voltar. 'É complicado, porque eles são mais melindrosos que crianças', brinca Claudinéia Fabiano.
Apesar da resistência que têm em se relacionar ou participar de atividades, os funcionários do Lar São Vicente de Paulo está sempre inventando uma festinha ou uma atividade qualquer para tirá-los do marasmo. 'A gente sabe que quanto mais parados eles ficam, quanto menos motivados para a vida, mais doenças aparecem, mais se agravam as dificuldades motoras. Por outro lado, não dá para forçá-los a fazer o que não querem. É uma questão delicada', lembra a funcionária.
Atualmente, ainda de acordo com Claudinéia, o lar não enfrenta problemas de acomodações, mas há sempre uma pequena fila de pessoas esperando para serem recebidas pela instituição. 'Normalmente as próprias famílias nos procuram, ou alguém da comunidade, ao verificar a necessidade de um idoso. Às vezes a família não tem mesmo condições de ficar com o idoso, pois todos precisam sair de casa para trabalhar.' Os idosos à espera de uma vaga no Lar São Vicente de Paulo são alvo de análise de assistentes sociais da instituição, com visita à casa da família para conhecer as reais condições reais em que se encontra o candidato. 'A vaga é destinada ao que mais estiver precisando', diz. O idoso pode voltar ao convívio da família caso haja interesse das duas partes, mas isso dificilmente acontece. 'Sabemos que a maioria dos nossos internos têm famílias mas elas nunca mais se manifestam depois de deixá-los aqui. Nunca vêm visitá-los nem demonstram nenhum interesse em saber como estão. Depois de um certo tempo passamos a considerá-los como idosos sem família', diz Claudinéia.
O Lar São Vicente de Paulo pode ser visitado de segunda a sexta-feira, entre 14 e 15 horas, e aos sábados, domingos e feriados, entre 14 e 16 horas.