Notícias

Mulheres ganham até 50% menos que os homens no serviço público

Por Jornal Valor - Ana Cláudia Landi   10 de janeiro de 2002
Os funcionários públicos homens são melhor remunerados que as mulheres da categoria em todos os níveis de governo (federal, estadual e municipal). No âmbito federal, onde ocorre a maior diferença, o desnível ultrapassa os 50%: o salário médio dos não-docentes homens com nível superior é de R$ 2.677 contra uma média salarial para mulheres na mesma categoria de R$ 1.753. Os dados fazem parte de estudo divulgado no final do ano passado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ligado ao Ministério do Planejamento.

Assinado por Sonoe Sugahara Pinheiro e Tomie Sugahara, consultoras de projetos da rede Ipea, o trabalho considera homens e mulheres de três grandes grupos de servidores: docentes, não-docentes com nível superior e não-docentes com nível médio. "Essa foi a forma que encontramos para criar uma base de comparação simplificada, que viabilizasse o confronto dos dados", diz Sonoe.

Foram utilizados no estudo dados de 1997 a 2000 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Emprego, e do Sistema Integrado de Administração de Pessoal (Siape) do Ministério do Planejamento.

O levantamento mostra que a segunda maior diferença salarial entre servidores também ocorre na esfera federal: os docentes de universidades e colégios federais ganham 46% mais que suas colegas, com um rendimento médio mensal de R$ 2.162 contra os R$ 1.480 do salário delas.

Segundo Sonoe, a pesquisa mostrou que os não-docentes de nível superior recebem a maior remuneração nas três áreas, principalmente na estadual e municipal. Já os docentes e não-docentes de nível médio não apresentam grandes diferenças entre si.

"Concluímos que as maiores remunerações estão no grupo com faixa etária entre 40 e 49 anos, a partir da qual começa a haver uma queda salarial ou uma estabilização. Isso com exceção dos não-docentes de nível médio, para quem a queda no nível salarial começa já na faixa entre 40 e 49 anos", afirma a pesquisadora.

O estudo confirmou ainda que há mais mulheres trabalhando no funcionalismo público nos níveis estadual e municipal (principalmente docentes). Os homens só predominam no nível federal.

Ainda de acordo com o levantamento, o total de servidores na área estadual (pouco mais de 2 milhões) supera os das demais. O menor número de trabalhadores está na esfera federal ( 529 mil). No total, o País conta com 4,1 milhões de servidores.

Os não-docentes de nível médio formam o maior contingente para os homens nas áreas federal, estadual e municipal. Entre as mulheres, há uma grande presença de docentes nos níveis estadual e municipal.

A idade média dos funcionários públicos federais é superior à dos trabalhadores estaduais e municipais. Entre os homens não se percebe grande diferença de idade entre os níveis estadual e municipal. Já entre as mulheres, a idade média é menor no nível municipal do que no estadual.

Aproximadamente 70% dos servidores têm entre 30 e 49 anos. Os não-docentes de nível médio e docentes tendem a se concentrar no grupo etário de 30 a 39 anos (com algumas exceções) e os não-docentes de nível superior na faixa de 40 a 49 anos.

Já no nível federal, os funcionários públicos se concentram um pouco mais na faixa de 40 a 49 anos.

Entre as mulheres, a idade média é superior no nível municipal do que no estadual.

Sonoe e Tomie Sugahara constataram ainda um pequeno crescimento da remuneração de docentes entre 1997 e 1998, seguida de uma estabilização. "Mas foi a única categoria. Para todas as outras não há tendência clara da evolução dos rendimentos", diz Sonoe.

Ainda segundo ela, há um decréscimo nos rendimentos médios a partir do nível federal para o estadual e para o municipal.

Comentários dos Leitores