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Pesquisas apontam piora sensível do ensino no país

Por Jornal Valor - Ricardo Balthazar   10 de janeiro de 2002
As escolas brasileiras foram atingidas nas últimas semanas por duas más notícias. Uma avaliação feita pelo Ministério da Educação mostrou que o desempenho dos alunos do ensino médio, que já era ruim, piorou neste ano. A maioria mal conseguiu entender as questões da prova. Num teste semelhante aplicado em 32 países pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil ficou em último lugar.

Há várias explicações para esses resultados. A preferida pelo governo atribui o fraco desempenho à enorme expansão do ensino verificada na década de 90. Como há mais alunos nas escolas e a maioria vive em famílias pobres, seria previsível que as notas piorassem na média. Mas a explicação ajuda muito pouco a resolver o problema, e os especialistas têm várias dúvidas sobre ela.

Para entender a questão com mais profundidade e buscar soluções adequadas, alguns governos estaduais começaram a desenvolver sofisticados sistemas de informação e avaliação do ensino.

Esses sistemas procuram examinar o desempenho dos alunos de forma mais minuciosa do que os testes do Ministério da Educação, que fornecem apenas uma visão geral dos problemas.

O mais antigo desses sistemas surgiu no Paraná em 1996. Uma vez por ano, alunos da rede pública de ensino fazem provas de português, matemática e ciências. Junto com os testes, circulam questionários em que os estudantes, seus pais, os professores e a direção da escola fazem sua avaliação do lugar e dão informações sobre o perfil sócio-econômico da comunidade.

O cruzamento desses dados com os resultados das provas permite saber com precisão o tipo de problema que deve merecer mais atenção e o tipo de escola em que ele tende a aparecer. As escolas recebem boletins em que seu desempenho é comparado ao de outras escolas da cidade e do Estado e a avaliação de pais e alunos é contraposta às visões dos professores e da diretoria.

Na Bahia, um sistema parecido começou a ser montado em 1999 e atingirá todos os municípios do Estado no ano que vem. Os pais dos alunos são convidados a acompanhar as provas e vigiar as classes junto com os professores. Em Minas Gerais, onde o sistema estreou no ano 2000, os testes passaram agora a medir o conhecimento dos alunos em mais duas áreas, história e geografia.

Como essas iniciativas são recentes e as melhorias nessa área demoram a aparecer, é cedo para saber se elas estão efetivamente melhorando as escolas. Mas sua existência é um avanço. "Esses sistemas são um instrumento para discutir os problemas de forma produtiva", diz o sociólogo Simon Schwartzman, da consultoria AirBrasil. "Eles põem na agenda a questão da qualidade."

Olhando mais de perto a realidade das escolas, eles também ajudam a desfazer alguns mitos sobre as deficiências no ensino no país. Os resultados das provas têm mostrado que não há grandes diferenças entre escolas administradas pelas prefeituras e as que continuam nas mãos dos Estados. Também têm revelado problemas em escolas de boa reputação e surpresas em lugares dos quais só se esperava o pior.

"O que se constata olhando os dados é que as condições materiais das escolas não são determinantes", diz Azuete Fogaça, uma das coordenadoras do sistema de avaliação mineiro. "Professores dedicados e esforçados têm obtido bons resultados mesmo em escolas pouco aparelhadas e com alunos pobres e atrasados."

A principal lição que os Estados estão aprendendo é que dá mais resultado investir no treinamento dos professores do que em prédios novos e computadores. "Com praticamente todas as crianças em idade escolar matriculadas, o problema do país não é mais construir escolas, mas melhorar o ensino", diz Renata Prosépio, superintendente de políticas e diretrizes educacionais da Secretaria da Educação da Bahia.

Sistemas de avaliação como esses são ferramentas usadas em larga escala em outros países. Em algumas regiões dos Estados Unidos, o mau desempenho nos exames pode até ser punido com a demissão de professores. Ninguém pensa em fazer algo tão drástico no Brasil, mas muitos professores resistem à avaliação, por considerá-la uma interferência indevida em seu trabalho.

Em São Paulo, onde a avaliação começou em 1996, essa resistência tem sido vencida aos poucos. Há um ano, os professores passaram a ganhar um bônus anual calculado de acordo com o desempenho da escola na avaliação, a taxa de evasão e a assiduidade do professor. Escolas que vão bem nas provas também têm mais autonomia para gastar o dinheiro que recebem do Estado.

Neste ano, os resultados da avaliação servirão para pôr em recuperação nas férias alunos que foram mal nas provas. Dos 880 mil estudantes avaliados, 264 mil ficaram de recuperação. "As escolas têm autonomia para fazer seu trabalho e avaliar seus alunos, mas eu preciso de um avaliação global do sistema para identificar os pontos críticos", justifica a secretária estadual da Educação, Rose Neubauer.

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