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Esperança em imagens e palavras
Por RITS - Rede de Informações para o Terceiro Setor    28 de janeiro de 2002
Pensem no dia de hoje como a abertura de um diálogo, não um evento. Um
diálogo para percebermos que é possível fazer algo para mudar a realidade.
Nós da mídia temos a ver com o que criamos. Existe uma construção social
através da linguagem. Mudanças sociais podem vir a partir de conversas
públicas. Ação só é possível quando há relacionamento. A transformação
sempre virá da periferia para o centro. O que move esse projeto é a idéia de
que o mundo precisa de uma nova história. A história prevalecente - a do
mundo como oportunidade de negócios - é uma história muito reduzida."
Discurso de abertura de Judy Rogers, coordenadora geral do Imagens e Vozes
da Esperança, em evento inaugural do movimento no Rio de Janeiro
Em 1999, mais precisamente em junho, cerca de 400 pessoas ligadas às áreas de comunicação, arte e mídia nos Estados Unidos se reuniram no Fashion Institute of Technology para o lançamento de um diálogo internacional sobre o impacto das imagens e mensagens públicas na sociedade. Ali nascia o Imagens e Vozes da Esperança (IVE), coordenado internacionalmente pela americana Judy Rogers - ex-CBS/Fox Video, ex- 20th Century Fox, entre outros veículos - numa iniciativa da organização Brahma Kumaris. O movimento se define como "uma conversa global sobre o impacto das imagens e mensagens na vida das pessoas". Na prática, o IVE consiste em uma série de eventos ao redor do mundo em que pessoas com influência em quaisquer veículos e meios de comunicação se encontram para dialogar sobre o que podem mudar para melhor dentro dos veículos em que trabalham e nos materiais que este transmite. Ou, como explica Ana Lúcia Oliveira, responsável pela iniciativa no Rio de Janeiro, "a proposta é o diálogo, é tocar as pessoas e levá-las a terem atitude quanto ao que estão fazendo, dentro de suas possibilidades".
O IVE chegou a terras tupiniquins oficialmente em 24 de novembro do ano passado, através de um encontro-diálogo ocorrido no Rio de Janeiro, que contou com a participação de Judy Rogers. Porém, segundo a coordenadora nacional da Brahma Kumaris, Luciana Ferraz, já vinha sendo feito um trabalho nesta direção no Brasil, especialmente em São Paulo, com encontros que tratavam de temas semelhantes aos abordados nas conversas do IVE. Eram os "Encontros de Comunicação", iniciados em 1998 e atingiam um público que variava de 8 a 50 profissionais por encontro.
Mundialmente, já aconteceram mais 25 encontros oficias do Imagens e Vozes da esperança. O mais recente aconteceu neste dia 25 de Janeiro em Miami, Flórida, EUA. Além destes eventos maiores, há também os encontros de manutenção e atualização das atividades concretas que cada grupo de pessoas está fazendo, os quais não são contabilizados. Nos diálogos, utiliza-se sempre o método Appreciative Inquiry (perguntas apreciativas), criado por David Cooperrider da Case Western Reserve University e fundamentado em entrevistas que buscam entender o que dá mais vida às pessoas e organizações.
Se considerarmos que a imprensa tem uma função social - na medida em que o cidadão comum toma o que é publicado não só como verdade, mas como referencial para seu dia-a-dia - essa discussão sobre veicular peças que tragam uma mensagem positiva ou que realcem iniciativas com resultados positivos para a maioria da sociedade é ainda mais válida. Com os recentes acontecimentos - que vão desde ataques terroristas a crises econômicas em escalas mundiais, passando por guerras étnicas intermináveis - notícias sobre tais fatos dominam jornais, TVs e até a publicidade. No entanto, o que o Imagens e Vozes da Esperança quer é chamar atenção de que existe o contraponto, existem notícias boas que só precisam ganhar espaço nos veículos de comunicação para que a população em geral passe a conhecê-las. A escolha do IVE em juntar jornalistas, publicitários, técnicos de rádio e TV e demais profissionais destas áreas é estratégica. Tocando estas pessoas, há uma grande possibilidade de que mudanças comecem ocorrer nos veículos de informação e, por conseguinte, naquilo que o público recebe destes veículos.
É importante ressaltar que há uma diferença entre manipular a informação e fazer escolhas editoriais que dêem espaço também a notícias positivas. Um bom exemplo de atitude nessa linha foi relatada pelo jornalista André Trigueiro, âncora da GloboNews, no encontro inaugural de 24 de novembro: André contou que, na redação do TV Globo, eles receberam uma foto do Oriente Médio, que veio inicialmente sem texto. Parecia ser um soldado palestino empurrando um jovem israelense. Inicialmente seus colegas no departamento de programação de notícias saltaram para a conclusão "óbvia" de que o soldado estava empurrando o menino. Algumas horas depois o texto apareceu explicando que o soldado estava protegendo o menino de uma explosão que ocorreu próximo.
Em casos como o relatado acima, o que o IVE quer é estimular que se ressalte justamente as boas ações que ficam escondidas atrás do predomínio das notícias ruins e urgências diárias das redações.
No encontro de 24 de novembro, algumas definições foram tomadas para a atuação no meios de comunicação nacionais. Foi formado um core-group, que servirá de referência para o andamento dos projetos. No campo das propostas concretas, discutiu-se a possibilidade de se criar uma agência de notícias que organizasse e distribuísse pautas e informações positivas, elencando assuntos que vão ao encontro daquilo que o grupo entende como "necessário", "ético" e "responsável". Assim, pretende-se acabar com um dos principais motivos para que este tipo de informação não seja veiculada: a justificativa de que elas não chegam às redações da grande imprensa.
Sugeriu-se também a criação de uma metodologia que servisse de base para uma pesquisa periódica que aferisse os conteúdos da mídia e os espaços que se abrem para as notícias-alvo do movimento. "O grupo defendeu o direito (o dever, na verdade) da imprensa de denunciar, alertar, e informar sem censura as notícias que eventualmente não são boas. O problema está em abusar dos recursos da palavra e da imagem para realçar aspectos dessa informação que acabam repercutindo de forma negativa no leitor/ ouvinte/telespectador", relatou André Trigueiro em um encontro posterior ao do dia 24.
Além disso, o IVE ganhou como parceiro os sites Cia da Boa Notícia e Mídia da Paz, que têm propostas semelhantes e pretendem prestar apoio mútuo, estando juntos na organização de eventos e outras estratégias de ampliação da idéia do IVE.
A julgar pela mobilização e efeito que os encontros têm surtido nos participantes, a iniciativa tem tudo para conseguir seus objetivos. Muniz Sodré, escritor e professor de jornalismo da UFRJ, afirmou sobre os eventos: "É imperativo hoje trocar a visão amarga e miserabilista das coisas por uma atitude afirmativa da vida. A mídia deve converter-se num catalisador ético de esperança". A jornalista Gabriela Mafort concorda e também considera "fundamental a iniciativa, um primeiro pontapé para se discutir o papel da mídia no Brasil e importante para sairmos do marasmo e questionarmos quais os desdobramentos de nosso trabalho na vida das pessoas". A coordenadora nacional da Brahma Kumaris expressou sua satisfação com o empenho dos participantes: "Acho que a maior aquisição ate agora é o número crescente de jornalistas e outros profissionais da mídia interessados na idéia e um numero crescente de outras iniciativas nascendo em varias partes do país com a mesma preocupação".
No entanto, ainda há desafios e obstáculos a serem transpostos. Um deles, lembrado por Grabriela Maffort, é a resistência dos profissionais destes meios à reflexão, além da efetiva falta de tempo, por causa do perfil do trabalho jornalístico. No entanto, o maior desafio ainda é alcançar a grande mídia. De acordo com Brígida Fries, coordenadora do Brahma Kumaris em São Paulo, os desafios são sensibilizar os donos dos veículos de comunicação a darem mais espaço para as ações e fatos transformadores; mostrar que a divulgação do que está sendo feito de bom traz retorno econômico: "Há público interessado nisso. Isto tem sido apontado em diversas pesquisas - muitas pessoas já estão esgotadas da banalização da violência. Desmistificar a idéia de que enfatizar o positivo é censurar o negativo. Ambas as forças estão atuando e portanto ambas devem ser noticiadas, mas com equilíbrio, ética e responsabilidade."
Mesmo embrionariamente, os organizadores do movimento no Brasil continuam se empenhando e pretendem em breve atingir todos os objetivos do movimento, em uma atitude bem resumida por Ana Lúcia: "Nós temos um sonho. E acreditamos nele".
Em 1999, mais precisamente em junho, cerca de 400 pessoas ligadas às áreas de comunicação, arte e mídia nos Estados Unidos se reuniram no Fashion Institute of Technology para o lançamento de um diálogo internacional sobre o impacto das imagens e mensagens públicas na sociedade. Ali nascia o Imagens e Vozes da Esperança (IVE), coordenado internacionalmente pela americana Judy Rogers - ex-CBS/Fox Video, ex- 20th Century Fox, entre outros veículos - numa iniciativa da organização Brahma Kumaris. O movimento se define como "uma conversa global sobre o impacto das imagens e mensagens na vida das pessoas". Na prática, o IVE consiste em uma série de eventos ao redor do mundo em que pessoas com influência em quaisquer veículos e meios de comunicação se encontram para dialogar sobre o que podem mudar para melhor dentro dos veículos em que trabalham e nos materiais que este transmite. Ou, como explica Ana Lúcia Oliveira, responsável pela iniciativa no Rio de Janeiro, "a proposta é o diálogo, é tocar as pessoas e levá-las a terem atitude quanto ao que estão fazendo, dentro de suas possibilidades".
O IVE chegou a terras tupiniquins oficialmente em 24 de novembro do ano passado, através de um encontro-diálogo ocorrido no Rio de Janeiro, que contou com a participação de Judy Rogers. Porém, segundo a coordenadora nacional da Brahma Kumaris, Luciana Ferraz, já vinha sendo feito um trabalho nesta direção no Brasil, especialmente em São Paulo, com encontros que tratavam de temas semelhantes aos abordados nas conversas do IVE. Eram os "Encontros de Comunicação", iniciados em 1998 e atingiam um público que variava de 8 a 50 profissionais por encontro.
Mundialmente, já aconteceram mais 25 encontros oficias do Imagens e Vozes da esperança. O mais recente aconteceu neste dia 25 de Janeiro em Miami, Flórida, EUA. Além destes eventos maiores, há também os encontros de manutenção e atualização das atividades concretas que cada grupo de pessoas está fazendo, os quais não são contabilizados. Nos diálogos, utiliza-se sempre o método Appreciative Inquiry (perguntas apreciativas), criado por David Cooperrider da Case Western Reserve University e fundamentado em entrevistas que buscam entender o que dá mais vida às pessoas e organizações.
Se considerarmos que a imprensa tem uma função social - na medida em que o cidadão comum toma o que é publicado não só como verdade, mas como referencial para seu dia-a-dia - essa discussão sobre veicular peças que tragam uma mensagem positiva ou que realcem iniciativas com resultados positivos para a maioria da sociedade é ainda mais válida. Com os recentes acontecimentos - que vão desde ataques terroristas a crises econômicas em escalas mundiais, passando por guerras étnicas intermináveis - notícias sobre tais fatos dominam jornais, TVs e até a publicidade. No entanto, o que o Imagens e Vozes da Esperança quer é chamar atenção de que existe o contraponto, existem notícias boas que só precisam ganhar espaço nos veículos de comunicação para que a população em geral passe a conhecê-las. A escolha do IVE em juntar jornalistas, publicitários, técnicos de rádio e TV e demais profissionais destas áreas é estratégica. Tocando estas pessoas, há uma grande possibilidade de que mudanças comecem ocorrer nos veículos de informação e, por conseguinte, naquilo que o público recebe destes veículos.
É importante ressaltar que há uma diferença entre manipular a informação e fazer escolhas editoriais que dêem espaço também a notícias positivas. Um bom exemplo de atitude nessa linha foi relatada pelo jornalista André Trigueiro, âncora da GloboNews, no encontro inaugural de 24 de novembro: André contou que, na redação do TV Globo, eles receberam uma foto do Oriente Médio, que veio inicialmente sem texto. Parecia ser um soldado palestino empurrando um jovem israelense. Inicialmente seus colegas no departamento de programação de notícias saltaram para a conclusão "óbvia" de que o soldado estava empurrando o menino. Algumas horas depois o texto apareceu explicando que o soldado estava protegendo o menino de uma explosão que ocorreu próximo.
Em casos como o relatado acima, o que o IVE quer é estimular que se ressalte justamente as boas ações que ficam escondidas atrás do predomínio das notícias ruins e urgências diárias das redações.
No encontro de 24 de novembro, algumas definições foram tomadas para a atuação no meios de comunicação nacionais. Foi formado um core-group, que servirá de referência para o andamento dos projetos. No campo das propostas concretas, discutiu-se a possibilidade de se criar uma agência de notícias que organizasse e distribuísse pautas e informações positivas, elencando assuntos que vão ao encontro daquilo que o grupo entende como "necessário", "ético" e "responsável". Assim, pretende-se acabar com um dos principais motivos para que este tipo de informação não seja veiculada: a justificativa de que elas não chegam às redações da grande imprensa.
Sugeriu-se também a criação de uma metodologia que servisse de base para uma pesquisa periódica que aferisse os conteúdos da mídia e os espaços que se abrem para as notícias-alvo do movimento. "O grupo defendeu o direito (o dever, na verdade) da imprensa de denunciar, alertar, e informar sem censura as notícias que eventualmente não são boas. O problema está em abusar dos recursos da palavra e da imagem para realçar aspectos dessa informação que acabam repercutindo de forma negativa no leitor/ ouvinte/telespectador", relatou André Trigueiro em um encontro posterior ao do dia 24.
Além disso, o IVE ganhou como parceiro os sites Cia da Boa Notícia e Mídia da Paz, que têm propostas semelhantes e pretendem prestar apoio mútuo, estando juntos na organização de eventos e outras estratégias de ampliação da idéia do IVE.
A julgar pela mobilização e efeito que os encontros têm surtido nos participantes, a iniciativa tem tudo para conseguir seus objetivos. Muniz Sodré, escritor e professor de jornalismo da UFRJ, afirmou sobre os eventos: "É imperativo hoje trocar a visão amarga e miserabilista das coisas por uma atitude afirmativa da vida. A mídia deve converter-se num catalisador ético de esperança". A jornalista Gabriela Mafort concorda e também considera "fundamental a iniciativa, um primeiro pontapé para se discutir o papel da mídia no Brasil e importante para sairmos do marasmo e questionarmos quais os desdobramentos de nosso trabalho na vida das pessoas". A coordenadora nacional da Brahma Kumaris expressou sua satisfação com o empenho dos participantes: "Acho que a maior aquisição ate agora é o número crescente de jornalistas e outros profissionais da mídia interessados na idéia e um numero crescente de outras iniciativas nascendo em varias partes do país com a mesma preocupação".
No entanto, ainda há desafios e obstáculos a serem transpostos. Um deles, lembrado por Grabriela Maffort, é a resistência dos profissionais destes meios à reflexão, além da efetiva falta de tempo, por causa do perfil do trabalho jornalístico. No entanto, o maior desafio ainda é alcançar a grande mídia. De acordo com Brígida Fries, coordenadora do Brahma Kumaris em São Paulo, os desafios são sensibilizar os donos dos veículos de comunicação a darem mais espaço para as ações e fatos transformadores; mostrar que a divulgação do que está sendo feito de bom traz retorno econômico: "Há público interessado nisso. Isto tem sido apontado em diversas pesquisas - muitas pessoas já estão esgotadas da banalização da violência. Desmistificar a idéia de que enfatizar o positivo é censurar o negativo. Ambas as forças estão atuando e portanto ambas devem ser noticiadas, mas com equilíbrio, ética e responsabilidade."
Mesmo embrionariamente, os organizadores do movimento no Brasil continuam se empenhando e pretendem em breve atingir todos os objetivos do movimento, em uma atitude bem resumida por Ana Lúcia: "Nós temos um sonho. E acreditamos nele".