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Ação Social das Empresas Brasileiras: Bondade ou Interesse ?
Por CATHO online    7 de fevereiro de 2002
O Ipea - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - acaba de editar o livro
Bondade ou Interesse? Como e porque as empresas atuam na área social. O
livro é a conclusão da pesquisa qualitativa Pesquisa Ação Social das
Empresas, coordenada por Anna Maria Peliano. Foram pesquisadas empresas da
região metropolitana do Rio de Janeiro - RJ, São Paulo - SP e Belo
Horizonte - MG, com a finalidade de conhecer as características da atuação
social das empresas e a motivação dos empresários para isso.
O objetivo da pesquisa é dar continuidade ao trabalho que o Ipea vem
realizando há três anos, de analisar os problemas sociais brasileiros, suas
causas e conseqüências, e formular propostas eficazes para o seu
enfrentamento. Entre os temas analisados na pesquisa, destacam-se:
- bondade ou interesse: reflexão sobre os fatores externos e internos às empresas que têm influenciado a sua participação na área social
- modismo ou permanência: forma como as ações sociais são inseridas na estratégia geral das empresas e as perspectivas de sua continuidade
- próximas ou distantes: relações que as empresas estabelecem com os beneficiários e como fazem as suas escolhas
- transformadoras ou compensatórias: detalhamento e análise das ações sociais desenvolvidas pelas empresas
- amadorismo ou profissionalismo: mecanismos de gestão adotados pelo setor para realizar atendimento social
- substituto ou complemento: paralelo entre a atuação privada e a estatal no campo social e as possibilidades de encontro
- filantropia ou compromisso social: tendências recentes observadas na ação social das empresas
Os resultados da pesquisa foram surpreendentes em alguns aspectos. Ao contrário do que os técnicos do Ipea acreditavam, por exemplo, não é a educação a área campeã de investimentos sociais das empresas, mas sim a assistência social: 57% das empresas que investiram no social em 1998 privilegiaram esta atividade. A alimentação ocupa o segundo lugar, com 39%, investimentos em segurança 17% e esporte 16%. A educação aparece em quinto lugar, com 14%. "O envolvimento das empresas na área de educação aumenta à medida que a empresa cresce: apenas 9% das pequenas empresas atuam neste segmento, enquanto 43% das grandes empresas têm esta preocupação", afirma Anna Maria.
Quanto às pessoas beneficiadas, dois terços das empresas beneficiam crianças, enquanto metade delas dá assistência a grupos familiares. A maior parte dos recursos aplicados teve origem privada, e apenas 8% utilizaram as deduções fiscais permitidas por lei. 57% das empresas declararam realizar ações sociais de forma habitual, e 60% concentram estas ações na comunidade mais próxima à empresa. Ainda segundo a pesquisa, o que move os empresários a promoverem ações sociais são sempre motivos humanitários. Além de melhorar a qualidade de vida da comunidade, as empresas acreditam estarem sendo recompensadas por uma enorme satisfação pessoal quando pratica ações sociais. "Cerca de 80% dos entrevistados afirmam que a prática da ação social aumenta a produtividade e melhora a qualidade de vida própria e dos funcionários envolvidos no projeto", completa Anna Maria. A maioria das empresas inclui os funcionários nesta prática de ação social, aliás, uma tendência crescente. Para isso, as empresas praticam alguns tipos de incentivos a fim de estimular a participação dos funcionários:
- ampliação das chances de permanecer na empresa em momentos de corte de funcionários
- divulgação dos nomes dos funcionários que participam de ações sociais em veículo de comunicação interna
- instituição de prêmios para os funcionários que participam de ações sociais
- liberação no horário de expediente para participar de trabalho voluntário
- preferência no processo de contratação da empresa
- preferência para a progressão funcional na empresa
- realização de programas de voluntariado na empresa
- treinamento para o exercício de ações sociais
O presidente do Ipea, Roberto Borges Martins, se mostra entusiasmado com os resultados da pesquisa e acredita que todas as informações colhidas contribuirão para solidificar parcerias entre o governo e a iniciativa privada. "Além dos resultados serem importantes para a elaboração da política social do governo, servirão como instrumento para criar parcerias produtivas entre a iniciativa privada e o setor público, evitando a duplicação de esforços numa mesma área social ou região", afirma Roberto. O Ipea estuda agora a possibilidade de realizar uma segunda etapa da pesquisa em outras regiões, como o Sul e o Nordeste. "Assim, cobriríamos mais de 90% do universo empresarial, o que asseguraria à pesquisa um resultado nacionalmente representativo", finaliza Roberto.
OS PRINCIPAIS RESULTADOS DA PESQUISA
Realizar ações sociais para a comunidade como parte da missão institucional da empresa:
Sim, formalizada em documentos internos - 38%
Sim, mas não formalizada em documentos - 41%
Não - 21%
Além de assistência social, alimentação, saúde e educação, outras áreas para que as empresas costumam realizar ações sociais:
Desenvolvimento comunitário e mobilização social - 74%
Cultura - 65%
Lazer e recreação - 56%
Qualificação profissional - 53%
Meio ambiente - 44%
Esporte - 38%
Desenvolvimento rural - 24%
Desenvolvimento urbano - 21%
Segurança - 15%
Empresas com plano de ação social:
Sim - 44%
Não - 56%
O que contém o plano de ação:
Definição de objetivos - 100%
Definição dos recursos necessários - 93%
Definição de metas - 79%
Resultados esperados - 71%
Previsão de desembolso dos recursos - 71%
Procedimento para execução das atividades - 21%
Definição de responsabilidades - 14%
Cronograma de atividades - 7%
Melhores formas de empresários oferecerem contribuições à comunidade:
Realização de ações voluntárias junto a entidades assistenciais - 65%
Dedicação de parte dos lucros a programas sociais e assistenciais - 56%
Investimento na qualidade dos produtos fabricados - 44%
Oferecimento de benefícios aos funcionários - 35%
Pagamento de impostos, exigindo respostas do governo - 32%
O empresário já contribui ao garantir empregos - 26%
Paralelo entre filantropia e compromisso social:
Na filantropia:
1. As motivações são humanitárias.
2. A participação é reativa e as ações, isoladas.
3. A relação com o público-alvo é de demandante e doador.
4. A ação social decorre de uma opção pessoal dos dirigentes.
5. Os resultados resumem-se à gratificação pessoal de poder ajudar.
6. Não há preocupação em associar a imagem da empresa à ação social.
7. Não há preocupação em relacionar-se com o Estado.
No compromisso social:
1. O sentimento é de responsabilidade.
2. A participação é pró-ativa e as ações, mais integradas.
3. A relação com o público-alvo é de parceria.
4. A ação social é incorporada na cultura da empresa e envolve todos os colaboradores.
5. Os resultados são pré-estabelecidos e há preocupação com o cumprimento dos objetivos propostos.
6. Busca-se dar transparência à atuação e multiplicar as iniciativas sociais.
7. Busca-se complementar a ação do Estado numa relação de parceria e controle.
Atitudes que caracterizam o comprometimento social das empresas:
Responsabilidade social - para além das motivações altruístas, a atuação social é entendida como responsabilidade inerente àqueles que já usufruem dos benefícios do desenvolvimento social.
Participação pró-ativa - mais que atender pontualmente às demandas que batem às suas portas, as empresas se voltam para o apoio a projetos mais estruturados, fazendo parcerias e comprometendo-se com a sua continuidade.
Interdependência - busca-se substituir uma relação de dependência entre demandantes e doadores por uma relação de compromisso e partilha de responsabilidade com as comunidades ou entidades atendidas.
Missão institucional - a participação social não se restringe a uma opção individual dos dirigentes, mas é incorporada aos valores da empresa e partilhada com os funcionários.
Compromisso com os resultados - mais que a gratificação pessoal conferida pelo ato de doar, há uma determinação de obter resultados, e busca-se o cumprimento dos objetivos propostos.
Transparência - os compromissos sociais são assumidos publicamente, e a divulgação é vista como instrumento de transparência e estímulo à multiplicação de experiências.
Integração - crescem as relações com o Estado, com o objetivo de ampliar o alcance de ações e partilhar responsabilidades públicas.
ALGUNS DEPOIMENTOS RECOLHIDOS DURANTE A PESQUISA
"A empresa passou a fazer ações sociais por decisão pessoal do presidente, que sempre diz que devemos devolver á sociedade parte do que ganhamos com a atividade empresarial."(Empresa do setor farmacêutico)
"Trabalhamos em um mercado extremamente competitivo onde não existem diferenciais entre os produtos concorrentes. Então, temos que buscar outras formas de diferencial. É lógico que existe um movimento muito grande das empresas responsáveis socialmente, já que para boa camada dos consumidores funciona como algo que traz este diferencial." (Empresa do setor de serviços)
"Nossa missão é atender às comunidades carentes. É lógico que se você tiver uma comunidade mais próxima à sua instalação, é mais fácil acompanhar as suas ações sociais. Priorizamos ações que atendam a comunidades necessitadas, e o segundo critério é a proximidade." (Empresa do setor automotivo)
"O relacionamento entre a empresa e a comunidade sempre foi muito bom, e temos desenvolvido ações para que se torne cada vez melhor. Fazemos alguns trabalhos com a comunidade por meio do próprio clube da empresa. Já promovemos open house, para que as pessoas possam conhecer as instalações da fábrica também." (Empresa do setor automotivo)
"O que a gente não quer, e nem deve, é associar as ações sociais à nossa marca. O trabalho comercial da empresa é uma coisa, e a responsabilidade social é outra." (Empresa do setor farmacêutico)
"Atualmente, todas as empresas têm consciência da limitação que o governo tem na área social - limitação de recursos e de idéias. O papel da empresa é contribuir não só financeiramente, mas intelectualmente, desenvolvendo ações complementares ás ações do governo." (Empresa do setor automotivo)
- bondade ou interesse: reflexão sobre os fatores externos e internos às empresas que têm influenciado a sua participação na área social
- modismo ou permanência: forma como as ações sociais são inseridas na estratégia geral das empresas e as perspectivas de sua continuidade
- próximas ou distantes: relações que as empresas estabelecem com os beneficiários e como fazem as suas escolhas
- transformadoras ou compensatórias: detalhamento e análise das ações sociais desenvolvidas pelas empresas
- amadorismo ou profissionalismo: mecanismos de gestão adotados pelo setor para realizar atendimento social
- substituto ou complemento: paralelo entre a atuação privada e a estatal no campo social e as possibilidades de encontro
- filantropia ou compromisso social: tendências recentes observadas na ação social das empresas
Os resultados da pesquisa foram surpreendentes em alguns aspectos. Ao contrário do que os técnicos do Ipea acreditavam, por exemplo, não é a educação a área campeã de investimentos sociais das empresas, mas sim a assistência social: 57% das empresas que investiram no social em 1998 privilegiaram esta atividade. A alimentação ocupa o segundo lugar, com 39%, investimentos em segurança 17% e esporte 16%. A educação aparece em quinto lugar, com 14%. "O envolvimento das empresas na área de educação aumenta à medida que a empresa cresce: apenas 9% das pequenas empresas atuam neste segmento, enquanto 43% das grandes empresas têm esta preocupação", afirma Anna Maria.
Quanto às pessoas beneficiadas, dois terços das empresas beneficiam crianças, enquanto metade delas dá assistência a grupos familiares. A maior parte dos recursos aplicados teve origem privada, e apenas 8% utilizaram as deduções fiscais permitidas por lei. 57% das empresas declararam realizar ações sociais de forma habitual, e 60% concentram estas ações na comunidade mais próxima à empresa. Ainda segundo a pesquisa, o que move os empresários a promoverem ações sociais são sempre motivos humanitários. Além de melhorar a qualidade de vida da comunidade, as empresas acreditam estarem sendo recompensadas por uma enorme satisfação pessoal quando pratica ações sociais. "Cerca de 80% dos entrevistados afirmam que a prática da ação social aumenta a produtividade e melhora a qualidade de vida própria e dos funcionários envolvidos no projeto", completa Anna Maria. A maioria das empresas inclui os funcionários nesta prática de ação social, aliás, uma tendência crescente. Para isso, as empresas praticam alguns tipos de incentivos a fim de estimular a participação dos funcionários:
- ampliação das chances de permanecer na empresa em momentos de corte de funcionários
- divulgação dos nomes dos funcionários que participam de ações sociais em veículo de comunicação interna
- instituição de prêmios para os funcionários que participam de ações sociais
- liberação no horário de expediente para participar de trabalho voluntário
- preferência no processo de contratação da empresa
- preferência para a progressão funcional na empresa
- realização de programas de voluntariado na empresa
- treinamento para o exercício de ações sociais
O presidente do Ipea, Roberto Borges Martins, se mostra entusiasmado com os resultados da pesquisa e acredita que todas as informações colhidas contribuirão para solidificar parcerias entre o governo e a iniciativa privada. "Além dos resultados serem importantes para a elaboração da política social do governo, servirão como instrumento para criar parcerias produtivas entre a iniciativa privada e o setor público, evitando a duplicação de esforços numa mesma área social ou região", afirma Roberto. O Ipea estuda agora a possibilidade de realizar uma segunda etapa da pesquisa em outras regiões, como o Sul e o Nordeste. "Assim, cobriríamos mais de 90% do universo empresarial, o que asseguraria à pesquisa um resultado nacionalmente representativo", finaliza Roberto.
OS PRINCIPAIS RESULTADOS DA PESQUISA
Realizar ações sociais para a comunidade como parte da missão institucional da empresa:
Sim, formalizada em documentos internos - 38%
Sim, mas não formalizada em documentos - 41%
Não - 21%
Além de assistência social, alimentação, saúde e educação, outras áreas para que as empresas costumam realizar ações sociais:
Desenvolvimento comunitário e mobilização social - 74%
Cultura - 65%
Lazer e recreação - 56%
Qualificação profissional - 53%
Meio ambiente - 44%
Esporte - 38%
Desenvolvimento rural - 24%
Desenvolvimento urbano - 21%
Segurança - 15%
Empresas com plano de ação social:
Sim - 44%
Não - 56%
O que contém o plano de ação:
Definição de objetivos - 100%
Definição dos recursos necessários - 93%
Definição de metas - 79%
Resultados esperados - 71%
Previsão de desembolso dos recursos - 71%
Procedimento para execução das atividades - 21%
Definição de responsabilidades - 14%
Cronograma de atividades - 7%
Melhores formas de empresários oferecerem contribuições à comunidade:
Realização de ações voluntárias junto a entidades assistenciais - 65%
Dedicação de parte dos lucros a programas sociais e assistenciais - 56%
Investimento na qualidade dos produtos fabricados - 44%
Oferecimento de benefícios aos funcionários - 35%
Pagamento de impostos, exigindo respostas do governo - 32%
O empresário já contribui ao garantir empregos - 26%
Paralelo entre filantropia e compromisso social:
Na filantropia:
1. As motivações são humanitárias.
2. A participação é reativa e as ações, isoladas.
3. A relação com o público-alvo é de demandante e doador.
4. A ação social decorre de uma opção pessoal dos dirigentes.
5. Os resultados resumem-se à gratificação pessoal de poder ajudar.
6. Não há preocupação em associar a imagem da empresa à ação social.
7. Não há preocupação em relacionar-se com o Estado.
No compromisso social:
1. O sentimento é de responsabilidade.
2. A participação é pró-ativa e as ações, mais integradas.
3. A relação com o público-alvo é de parceria.
4. A ação social é incorporada na cultura da empresa e envolve todos os colaboradores.
5. Os resultados são pré-estabelecidos e há preocupação com o cumprimento dos objetivos propostos.
6. Busca-se dar transparência à atuação e multiplicar as iniciativas sociais.
7. Busca-se complementar a ação do Estado numa relação de parceria e controle.
Atitudes que caracterizam o comprometimento social das empresas:
Responsabilidade social - para além das motivações altruístas, a atuação social é entendida como responsabilidade inerente àqueles que já usufruem dos benefícios do desenvolvimento social.
Participação pró-ativa - mais que atender pontualmente às demandas que batem às suas portas, as empresas se voltam para o apoio a projetos mais estruturados, fazendo parcerias e comprometendo-se com a sua continuidade.
Interdependência - busca-se substituir uma relação de dependência entre demandantes e doadores por uma relação de compromisso e partilha de responsabilidade com as comunidades ou entidades atendidas.
Missão institucional - a participação social não se restringe a uma opção individual dos dirigentes, mas é incorporada aos valores da empresa e partilhada com os funcionários.
Compromisso com os resultados - mais que a gratificação pessoal conferida pelo ato de doar, há uma determinação de obter resultados, e busca-se o cumprimento dos objetivos propostos.
Transparência - os compromissos sociais são assumidos publicamente, e a divulgação é vista como instrumento de transparência e estímulo à multiplicação de experiências.
Integração - crescem as relações com o Estado, com o objetivo de ampliar o alcance de ações e partilhar responsabilidades públicas.
ALGUNS DEPOIMENTOS RECOLHIDOS DURANTE A PESQUISA
"A empresa passou a fazer ações sociais por decisão pessoal do presidente, que sempre diz que devemos devolver á sociedade parte do que ganhamos com a atividade empresarial."(Empresa do setor farmacêutico)
"Trabalhamos em um mercado extremamente competitivo onde não existem diferenciais entre os produtos concorrentes. Então, temos que buscar outras formas de diferencial. É lógico que existe um movimento muito grande das empresas responsáveis socialmente, já que para boa camada dos consumidores funciona como algo que traz este diferencial." (Empresa do setor de serviços)
"Nossa missão é atender às comunidades carentes. É lógico que se você tiver uma comunidade mais próxima à sua instalação, é mais fácil acompanhar as suas ações sociais. Priorizamos ações que atendam a comunidades necessitadas, e o segundo critério é a proximidade." (Empresa do setor automotivo)
"O relacionamento entre a empresa e a comunidade sempre foi muito bom, e temos desenvolvido ações para que se torne cada vez melhor. Fazemos alguns trabalhos com a comunidade por meio do próprio clube da empresa. Já promovemos open house, para que as pessoas possam conhecer as instalações da fábrica também." (Empresa do setor automotivo)
"O que a gente não quer, e nem deve, é associar as ações sociais à nossa marca. O trabalho comercial da empresa é uma coisa, e a responsabilidade social é outra." (Empresa do setor farmacêutico)
"Atualmente, todas as empresas têm consciência da limitação que o governo tem na área social - limitação de recursos e de idéias. O papel da empresa é contribuir não só financeiramente, mas intelectualmente, desenvolvendo ações complementares ás ações do governo." (Empresa do setor automotivo)