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Fórum Social terá edições regionais

Por Jornal do Brasil    7 de fevereiro de 2002
Encontro de Porto Alegre termina sem proposta final e com projetos de levar o protesto antiglobalização até a Palestina

PORTO ALEGRE - Cinco dias de protesto e debate pontuados por palavras de ordem que pediam ''um mundo melhor'' terminaram ontem em clima de festa. Animada pela cirandeira Lia de Itamaracá, a celebração que encerrou o Fórum Social Mundial (FSM) levou ao palco o governador gaúcho Olívio Dutra e o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, todos dançando com um lenço branco na mão. Oito mil pessoas participaram da comemoração, colorida pelas bandeiras de entidades e de diversos países. A segunda edição do Fórum terminou sem a divulgação de um documento final, mas com um calendário de novos eventos, de abrangência regional, a partir de outubro. Há previsão de encontros para o Oriente Médio, o Leste europeu, os países do Mediterrâneo, da Amazônia e da África. Em dezembro, no Nepal, está marcado o Fórum Afro-asiático. O Conselho Internacional do FSM tem altas ambições. Pretende realizar, ainda em 2002, um fórum na Palestina, palco de sangrentos conflitos entre árabes e israelenses,

''O Fórum Social Mundial não é só um lugar de debates, mas de organizar a luta'', disse no encerramento o presidente da Associação Brasileira de ONGs, Sérgio Haddad.

Realizado simultaneamente ao Fórum Econômico Mundial, em Nova York, o encontro de Porto Alegre repercutiu nos Estados Unidos. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, enviou uma carta aos organizadores brasileiros, lida na segunda-feira. Pediu o fim do confronto e sugeriu a parceria entre ONGs e governos. Annan disse aos participantes de Nova York que caberia a empresários e representantes do sistema financeiro derrubar as teses de Porto Alegre e provar que a globalização não é a responsável pela pobreza e pela injustiça no mundo.

''Deixamos de ser um fórum anti-Davos (Fórum Econômico de Davos) e passamos a atrair os olhares dos participantes do Fórum Econômico Mundial, que reúne os países mais ricos do planeta'', analisou Cândido Grybowsky, do Comitê Organizador. ''A ONU reconheceu que nossa luta é válida. Conquistamos um poder político novo.''

Francisco Whitaker, também da organização, comparou o Fórum Social a ''um sopro de esperança no coração de todos''. Os dirigentes do evento destacaram a diversidade dos participantes. A maior delegação estrangeira presente foi da Itália, seguida pela Argentina, França e, supreendentemente, Estados Unidos.

Os debates do Fórum Social se concentraram em protestos contra o comércio mundial, o endividamento dos países do terceiro mundo e a paz. Um tribunal simbólico declarou ilegítimas e injustas as dívidas das nações pobres e defendeu uma solução arbitrada pela Corte Internacional de Haia.

A Área de Livre Comércio das Américas, a Alca, foi outro alvo preferencial. Levou 50 mil pessoas a uma passeata contra a integração comercial no continente.

Os organizadores calcularam a participação de 51,3 mil pessoas no Fórum, vindas de 131 países. O ponto alto do encerramento foi a leitura, por atores gaúchos, de um texto do escritor português José Saramago, prêmio Nobel de literatura. Comparou os movimentos sociais representados no Fórum a sinos que alertam para a necessidade de novos padrões de justiça. Para Saramago, essas regras estão na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Esses princípios de fácil compreensão, diz o escritor, poderiam substituir sem que fosse preciso mudar-lhes uma vírgula, os programas dos partidos políticos, inclusive os da esquerda.

O escritor repassou os debates que desfilaram no Fórum e pediu mais. Considerou indispensável e urgente discutir as causas da decadência da democracia no planeta. ''Que fazer? Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito de estufa, do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo se discute neste nosso mundo'', diz o texto. ''Mas o sistema democrático, como se de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza até à consumação dos séculos, esse não se discute.'' (Da Agência JB)

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