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Doutores da Alegria aplicam injeção de ânimo em pacientes-mirins
Por Cidadania-e - Cilene Marcondes   7 de fevereiro de 2002
Se rir é o melhor remédio, como diz o slogan do grupo, os pequenos pacientes
atendidos pelos Doutores da Alegria já contam com boa parte do sucesso nos
seus tratamentos. Criada em 1991, a organização não-governamental é formada
por atores especialmente treinados para trabalharem nas comunidades
hospitalares e, através das artes circenses como mímica, mágica,
malabarismos e muita psicologia, alegrar os pacientes, minimizando os
efeitos negativos da hospitalização.
Nos seus quase 11 anos de atividade, personagens divertidos como o Doutor Saracura, especialista em "cardiobesteirologia", o Doutor Tantan, "pé-di-atra", entre outros, já levaram alegria e carinho a mais de 200 mil crianças e adolescentes em sete hospitais de São Paulo e dois do Rio de Janeiro. No total, são 26 atores que se revezam em levar um pouco de cor e alegria para os pacientes-mirins do Hospital da Criança, Hospital Albert Eistein, Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Hospital do Câncer, Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, Conjunto Hospitalar do Mandaqui e Hospital Infantil Cândido Fontoura, em São Paulo e, desde 1998, do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (UFRJ) e Hospital Municipal Jesus, ambos no Rio de Janeiro.
A idéia, trazida para o Brasil por Wellington Nogueira, foi baseada nos excelentes resultados da iniciativa nos Estados Unidos. Lá, em 1986, o ator Michael Christensen, diretor dos clowns do Big Apple Circus de Nova Iorque, foi convidado a fazer uma apresentação voluntária para pacientes de cardiologia pediátrica. Michael optou por satirizar as rotinas médicas e hospitalares, realizando, entre outras coisas, um transplante de nariz vermelho e uma transfusão de milk shake. Surgia assim o Clowns Care Unit, do qual Nogueira integrou a equipe em 1988, no papel de "Dr.Calvin", Besteirologista com PhD em Bobagem.
Em uma visita aos jovens pacientes do Memorian Sloan-Kettering Cancer Center, o ator percebeu que entre as crianças internadas, várias eram brasileiras e que ficaram encantadas em ouvir o "Doutor Palhaço" falando português. "Você está internado num hospital enorme, num país que não é o seu e no qual todos se comunicam num idioma que você não domina totalmente... situação traumática para o paciente e sua família. Foi ali que percebi a verdadeira dimensão deste trabalho: o privilégio de ser um artista e poder substituir, por alguns inesquecíveis momentos, a tensão e ansiedade reinantes no ambiente pela descontração decorrente do riso puro e simples. Esta vivência tornou-se minha maior motivação para iniciar no Brasil um projeto semelhante, explica Nogueira.
Além do Brasil, até o momento, outros dois projetos semelhantes foram montados fora dos EUA: o Le Rire Medecins, na França, e o Die Klown Doktoren, na Alemanha.
Profissionalismo e Psicologia
Os Doutores da Alegria não realizam um trabalho voluntário. Eles contam com patrocínio de empresas e com o apoio institucional da "Lei Federal de Incentivo à Cultura", do Ministério da Cultura. Os atores que integram o grupo são devidamente remunerados pelo trabalho que realizam, uma vez que se trata de uma ação extremamente séria, que requer muita disponibilidade, talento e experiência. Eles participam de uma série cursos, seminários, workshops e palestras para aperfeiçoar cada vez mais o trabalho e recebem acompanhamento psicológico.
Outra fonte de recursos da ONG são as mensalidades pagas por "Sócios Mantenedores", idéia que surgiu de um concurso voltado aos estudantes de administração que se envolvem com uma causa social e preparam um projeto de consultoria para ela. Neste caso, foram os alunos da Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo, que desenvolveram um projeto para os Doutores da Alegria. A partir do momento que um interessado torna-se Sócio Mantenedor dos Doutores da Alegria, ele é cadastrado em um banco de dados e uma quantia escolhida por ele será cobrada em um período determinado. Ao mesmo tempo, a entidade procura manter o sócio sempre bem informado sobre o trabalho realizado através de relatórios mensais das atividades praticadas pelo grupo e através do "Clownews", um boletim bimestral.
A outra ponta de sustentação do trabalho desenvolvido pelo grupo vem da psicóloga Morgana Masetti, que acompanhou o projeto do grupo desde o início e realizou inúmeras discussões com os Doutores da Alegria sobre o trabalho realizado por eles. A partir daí, desenvolveu uma pesquisa de avaliação do efeito causado pela atuação dos atores entre as crianças atendidas, seus pais e os profissionais de saúde dos hospitais onde a equipe atua. Deste trabalho surgiu o livro "Soluções de Palhaços - Transformações na Realidade Hospitalar". "O que encontrei de revolucionário no trabalho destes artistas foi o enorme desejo de relacionamento com o lado da criança que quer brincar. A crença de que, por mais grave que seja o estado clínico de um paciente, existe ali uma essência saudável, que pode ser tocada", explica a psicóloga.
Compartilhar a experiência
Baseado nos principais objetivos dos Doutores da Alegria, que são possibilitar às crianças e adolescentes hospitalizados, suas famílias e profissionais da área de saúde, a experiência da alegria, pura e simples, em meio à tensão do ambiente hospitalar e favorecer uma atitude mais positiva e ativa em relação à enfermidade e recuperação, o grupo lançou o "Livro dos Segundos Socorros". São 44 páginas de jogos, brincadeiras e dicas para as crianças adoentadas. A primeira tiragem, de 30 mil exemplares, está quase esgotada. Para cada livro vendido, outro será doado para uma criança que esteja recebendo cuidados médicos em algum hospital da rede pública. "Quando a criança fica doente, as pessoas querem logo que ela fique boa, mas esquecem de uma coisa fundamental, que é brincar. Só quando você cuida da parte que está boa, consegue melhorar", diz Nogueira. "Bolamos um livro que serve de recurso para que a criança recupere o controle sobre a sua vida e o seu corpo", completa.
Todo o material foi pensado e revisado pelo diretor executivo com o idealizador do livro, Marcelo Duarte, um admirador do trabalho dos Doutores. Além disso, cada passo foi avaliado pelas próprias crianças. Fazem parte do conteúdo um Pequeno Dicionário de Segundos Socorros ("Você sabe o que é compressa? É o médico que passa rapidinho no quarto"), um Calendário de Enfermérides, como o dia de mostrar a língua para todo mundo, e vários jogos.
Os Doutores da Alegria já receberam diversos prêmios pelo seu trabalho, entre eles, nos anos 1998 e 2000, um júri internacional da Divisão Habitat da Organização das Nações Unidas (ONU) elegeu a entidade como uma das 40 melhores práticas humanas mundiais. Em 1999, o grupo recebeu o Prêmio PNBE de Cidadania (Pensamento acional das Bases Empresariais), em 1997 tiveram sua iniciativa reconhecida pelo Prêmio Criança 97, promovido pela Fundação Abrinq Pelos Direitos da Criança, além de muitas outras premiações.
Para saber mais sobre os Doutores da Alegria e sobre o livro, basta acessar o endereço www.doutoresdaalegria.org.br .
Nos seus quase 11 anos de atividade, personagens divertidos como o Doutor Saracura, especialista em "cardiobesteirologia", o Doutor Tantan, "pé-di-atra", entre outros, já levaram alegria e carinho a mais de 200 mil crianças e adolescentes em sete hospitais de São Paulo e dois do Rio de Janeiro. No total, são 26 atores que se revezam em levar um pouco de cor e alegria para os pacientes-mirins do Hospital da Criança, Hospital Albert Eistein, Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Hospital do Câncer, Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, Conjunto Hospitalar do Mandaqui e Hospital Infantil Cândido Fontoura, em São Paulo e, desde 1998, do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (UFRJ) e Hospital Municipal Jesus, ambos no Rio de Janeiro.
A idéia, trazida para o Brasil por Wellington Nogueira, foi baseada nos excelentes resultados da iniciativa nos Estados Unidos. Lá, em 1986, o ator Michael Christensen, diretor dos clowns do Big Apple Circus de Nova Iorque, foi convidado a fazer uma apresentação voluntária para pacientes de cardiologia pediátrica. Michael optou por satirizar as rotinas médicas e hospitalares, realizando, entre outras coisas, um transplante de nariz vermelho e uma transfusão de milk shake. Surgia assim o Clowns Care Unit, do qual Nogueira integrou a equipe em 1988, no papel de "Dr.Calvin", Besteirologista com PhD em Bobagem.
Em uma visita aos jovens pacientes do Memorian Sloan-Kettering Cancer Center, o ator percebeu que entre as crianças internadas, várias eram brasileiras e que ficaram encantadas em ouvir o "Doutor Palhaço" falando português. "Você está internado num hospital enorme, num país que não é o seu e no qual todos se comunicam num idioma que você não domina totalmente... situação traumática para o paciente e sua família. Foi ali que percebi a verdadeira dimensão deste trabalho: o privilégio de ser um artista e poder substituir, por alguns inesquecíveis momentos, a tensão e ansiedade reinantes no ambiente pela descontração decorrente do riso puro e simples. Esta vivência tornou-se minha maior motivação para iniciar no Brasil um projeto semelhante, explica Nogueira.
Além do Brasil, até o momento, outros dois projetos semelhantes foram montados fora dos EUA: o Le Rire Medecins, na França, e o Die Klown Doktoren, na Alemanha.
Profissionalismo e Psicologia
Os Doutores da Alegria não realizam um trabalho voluntário. Eles contam com patrocínio de empresas e com o apoio institucional da "Lei Federal de Incentivo à Cultura", do Ministério da Cultura. Os atores que integram o grupo são devidamente remunerados pelo trabalho que realizam, uma vez que se trata de uma ação extremamente séria, que requer muita disponibilidade, talento e experiência. Eles participam de uma série cursos, seminários, workshops e palestras para aperfeiçoar cada vez mais o trabalho e recebem acompanhamento psicológico.
Outra fonte de recursos da ONG são as mensalidades pagas por "Sócios Mantenedores", idéia que surgiu de um concurso voltado aos estudantes de administração que se envolvem com uma causa social e preparam um projeto de consultoria para ela. Neste caso, foram os alunos da Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo, que desenvolveram um projeto para os Doutores da Alegria. A partir do momento que um interessado torna-se Sócio Mantenedor dos Doutores da Alegria, ele é cadastrado em um banco de dados e uma quantia escolhida por ele será cobrada em um período determinado. Ao mesmo tempo, a entidade procura manter o sócio sempre bem informado sobre o trabalho realizado através de relatórios mensais das atividades praticadas pelo grupo e através do "Clownews", um boletim bimestral.
A outra ponta de sustentação do trabalho desenvolvido pelo grupo vem da psicóloga Morgana Masetti, que acompanhou o projeto do grupo desde o início e realizou inúmeras discussões com os Doutores da Alegria sobre o trabalho realizado por eles. A partir daí, desenvolveu uma pesquisa de avaliação do efeito causado pela atuação dos atores entre as crianças atendidas, seus pais e os profissionais de saúde dos hospitais onde a equipe atua. Deste trabalho surgiu o livro "Soluções de Palhaços - Transformações na Realidade Hospitalar". "O que encontrei de revolucionário no trabalho destes artistas foi o enorme desejo de relacionamento com o lado da criança que quer brincar. A crença de que, por mais grave que seja o estado clínico de um paciente, existe ali uma essência saudável, que pode ser tocada", explica a psicóloga.
Compartilhar a experiência
Baseado nos principais objetivos dos Doutores da Alegria, que são possibilitar às crianças e adolescentes hospitalizados, suas famílias e profissionais da área de saúde, a experiência da alegria, pura e simples, em meio à tensão do ambiente hospitalar e favorecer uma atitude mais positiva e ativa em relação à enfermidade e recuperação, o grupo lançou o "Livro dos Segundos Socorros". São 44 páginas de jogos, brincadeiras e dicas para as crianças adoentadas. A primeira tiragem, de 30 mil exemplares, está quase esgotada. Para cada livro vendido, outro será doado para uma criança que esteja recebendo cuidados médicos em algum hospital da rede pública. "Quando a criança fica doente, as pessoas querem logo que ela fique boa, mas esquecem de uma coisa fundamental, que é brincar. Só quando você cuida da parte que está boa, consegue melhorar", diz Nogueira. "Bolamos um livro que serve de recurso para que a criança recupere o controle sobre a sua vida e o seu corpo", completa.
Todo o material foi pensado e revisado pelo diretor executivo com o idealizador do livro, Marcelo Duarte, um admirador do trabalho dos Doutores. Além disso, cada passo foi avaliado pelas próprias crianças. Fazem parte do conteúdo um Pequeno Dicionário de Segundos Socorros ("Você sabe o que é compressa? É o médico que passa rapidinho no quarto"), um Calendário de Enfermérides, como o dia de mostrar a língua para todo mundo, e vários jogos.
Os Doutores da Alegria já receberam diversos prêmios pelo seu trabalho, entre eles, nos anos 1998 e 2000, um júri internacional da Divisão Habitat da Organização das Nações Unidas (ONU) elegeu a entidade como uma das 40 melhores práticas humanas mundiais. Em 1999, o grupo recebeu o Prêmio PNBE de Cidadania (Pensamento acional das Bases Empresariais), em 1997 tiveram sua iniciativa reconhecida pelo Prêmio Criança 97, promovido pela Fundação Abrinq Pelos Direitos da Criança, além de muitas outras premiações.
Para saber mais sobre os Doutores da Alegria e sobre o livro, basta acessar o endereço www.doutoresdaalegria.org.br .