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Diferenças entre Empreendedores Sociais e de Negócios (4ª Parte)

Por Academia de Desenvolvimento Social    19 de fevereiro de 2002
As idéias de Say, Schumpeter, Drucker e Stevenson são atrativas porque elas podem ser facilmente aplicadas tanto no setor social como no setor de negócios. Elas descrevem uma forma de pensar e um tipo de comportamento que pode se manifestar em qualquer lugar. E em um mundo onde os limites setoriais estão ficando menos nítidos, isso é uma vantagem. Devemos construir o nosso entendimento de empreendedorismo social dentro desta forte tradição da teoria e da pesquisa sobre empreendedorismo. O empreendedor social é uma das espécies do gênero dos empreendedores. São empreendedores com uma missão social. Entretanto, por causa desta missão, eles encontram alguns desafios distintos e nenhuma definição deveria refletir isso.

Para os empreendedores sociais, a missão social é central e explícita. E obviamente isso afeta a maneira como os empreendedores sociais percebem e avaliam as oportunidades. A criação central torna-se o impacto relativo à missão e não a riqueza. Para os empreendedores sociais a riqueza é apenas um meio para um determinado fim. Já para os empreendedores de negócio, a geração de riquezas é uma maneira de mensurar a geração de valor. Isso ocorre porque os empreendedores de negócio estão sujeitos à disciplina do marcado, o qual na maioria das vezes é quem determina se eles estão mesmo gerando valor. Se eles não alternarem seus recursos para serem usados de forma mais economicamente produtiva, eles tenderão a serem postos de fora do mercado.

Os mercados não são perfeitos mas, de um modo geral, eles funcionam razoavelmente bem como um teste de geração de valor privado, especificamente a geração de valor para consumidores capazes de pagar. A habilidade dos empreendedores de atrair recursos (capital, pessoas, equipamentos etc.) num mercado competitivo é racionalmente um bom indicativo de que um empreendimento apresenta um uso mais produtivo destes recursos do que os seus competidores. A lógica é simples. Os empreendedores que podem pagar melhor pelos recursos são tipicamente aqueles que podem ter seus recursos melhor valorados, como determinado pelo seu mercado. Nos negócios, o valor é gerado quando os consumidores estão dispostos a pagar mais do que o custo de produção do bem ou serviço sendo vendido. O lucro (renda menos custos) que um empreendimento gera é racionalmente um bom indicador do valor que ele tem criado. Se um empreendedor não pode convencer um número suficiente de consumidores a pagar um preço adequado para gerar lucro, isso é um forte indicativo de que valor insuficiente está sendo criado para justificar o uso dos recursos. Um realinhamento dos recursos acontece naturalmente em firmas que falham na geração de valor não conseguem obter recursos suficientes ou captar capital. Eles saem do mercado. Firmas que criam valor de forma mais econômica têm dinheiro para atrair os recursos necessários para crescer.

As leis de mercado não funcionam muito bem para os empreendedores sociais. Em particular, as leis de mercado não fazem um bom trabalho na valorização de melhorias sociais, bens públicos, prejuízos e benefícios para pessoas que não podem pagar. Esses elementos são muitas vezes essenciais para o empreendedorismo social. Isto é o que o faz empreendedorismo social. Como resultado, é muito mais difícil determinar se um empreendedor social está gerando valor social suficiente para justificar os recursos que usa para criar tal valor. A sobrevivência ou o crescimento de um empreendimento social não é a prova da sua eficiência ou eficácia em melhorar as condições sociais. É apenas, na melhor das hipóteses, um indicador débil.

Empreendedores sociais operam nas leis de mercado, mas estas leis nem sempre dão a disciplina correta. Muitas organizações de propósito social podem cobrar taxas por alguns de seus serviços. Elas também competem por doações, voluntários e outros tipos de apoio. Mas a disciplina dessas "leis de mercado" freqüentemente não está proximamente alinhada com a missão dos empreendedores sociais. Depende de quem está pagando essas taxas ou provendo os recursos, quais são suas motivações e quão bem eles podem avaliar o valor social criado pelo empreendimento. É inerentemente difícil de mensurar a geração de valor social. Quanto valor social é gerado por se ter diminuído a população em determinado riacho, ou por se ter salvado a coruja malhada, ou por se ter provido a terceira idade de companheirismo? Os cálculos não são apenas difíceis, mas também controversos. Mesmo quando as melhorias podem ser mensuradas, muitas vezes é difícil de se atribuir correta intervenção específica. Taxas mais baixas de criminalidade em determinada área dizem respeito à vigilância do bairro, às técnicas de policiamento ou apenas a uma melhor economia? Mesmo quando as melhorias podem ser mensuradas e atribuídas à determinada intervenção, os empreendedores sociais muitas vezes não podem captar o valor que eles têm criado num modelo econômico de se pagar pelos recursos que usam. Quem deve pagar pela limpeza de um riacho ou pela vigilância do bairro? Como se pode fazer para fazer com que todos os beneficiários paguem pelos serviços? Para compensar esse problema de valor, os empreendedores sociais confiam-se em subsídios, doações e voluntários, mas isso apenas confunde a disciplina do mercado. A habilidade de atrair esses recursos filantrópicos pode dar alguma indicação da geração de valor aos olhos dos provedores de tais recursos, mas esse não é um indicador de muita confiança. O retorno psicológico que as pessoas ganham por fazer doações ou se voluntariar é comumente estar apenas muito fracamente ligado com o impacto social real, isso se existir algum tipo de ligação.

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