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EMPREGO NO TERCEIRO SETOR: UMA VISÃO DO BRASIL E DO MUNDO

Por Jornal Carreira & Sucesso / Engel Paschoal*   9 de outubro de 2001
Para falar do Terceiro Setor como gerador de emprego, é preciso entender que ele é a oitava economia do mundo, movimentando mais de US$ 1 trilhão por ano, cerca de 8% do PIB do planeta. No Brasil, ele representa R$ 10,9 bilhões anuais (cerca de 1% do PIB), sendo R$ 1 bilhão em doações. Reúne mais de 300 mil ONGs, além de fundações, institutos etc., emprega cerca de 1,2 milhão de pessoas e tem 20 milhões de voluntários. O Brasil é o quinto do mundo em voluntários.

No Brasil, entre 1991 e 1995, o mercado de trabalho cresceu 20%. No Terceiro Setor, chegou quase a 45%. Os números exatos são: o País tinha 55.293.316 pessoas trabalhando em 1991 e 66.277.014, em 1995, ou seja 19,86% a mais. No Terceiro Setor, eram 775.384 empregados em 1991 e 1.119.533 em 1995, o que significa mais 44,38%. Isso é o que diz o ISER - Instituto Superior de Estudos da Religião, que coordenou, no Brasil, a pesquisa sobre o Terceiro Setor feita pelo Johns Hopkins Center for Civil Society Studies em 22 países, e da qual resultou o livro Global Civil Society - Dimensions of the Nonprofit Sector, em 1999.

Apesar das mais de 340 mil vagas criadas no período, o Terceiro Setor continuou oferecendo novos empregos. A Kanitz & Associados organiza desde 1996 o Prêmio Bem Eficiente, que usa o trabalho voluntário de auditorias reconhecidas no mercado para verificar a eficiência de quem pratica o bem. A Folha de S. Paulo (Trabalho em ONG já não combina com improvisação, caderno Empregos, 16/09/01), diz que, segundo a Kanitz, as 400 maiores entidades filantrópicas do Brasil com mais de 10 anos de vida empregavam, em 1997, 54.459 pessoas, e geraram 1.643 empregos naquele ano. Em 1998, tinham 57.035 empregados e criaram 2.676 cargos. Em 1999, os números foram 59.899 e 2.864 respectivamente. Porém, mesmo com crescimento médio de vagas de 5% ao ano, a Kanitz considera o aumento insuficiente e abaixo do esperado.

Assim como os números de empregados, os de salário também são discrepantes. Mauro Silveira (Uma nova profissão à vista - Marketing Social, revista Você S/A, 22/02/00) cita os seguintes salários mensais: advogado que lida com Direitos Humanos e especialista em Comunicação, R$10 mil; diretor, R$ 20 mil; auxiliares em início de carreira, R$ 1.200.

É o contrário do que diz o livro Marketing Social (Crescente Editorial), de Amalia Sima e Paulo de Souza. Citando a Kanitz & Associados, diz que o salário médio no setor é de R$ 330, sendo que a média de diretor, equivalente à presidência, é de R$ 1.663, e a de gerente, R$ 1.687.

Rosa Maria Fischer, diretora do Centro de Estudos do Terceiro Setor da Faculdade de Economia e Administração da USP, diz que, em 1998, gente de nível superior e bem treinada recebia em média de R$ 1.500 a R$ 2 mil, 40% a 50% menos que no setor privado, e que, no ano passado, os números foram para R$ 3 mil a R$ 4 mil (Tamanho de mercado é incógnita, Liliana Pinheiro, caderno Empresa & Comunidade, jornal Valor, 13/09/00).

No entanto, o Terceiro Setor tem atraído profissionais de empresas. No mesmo caderno do Valor, a jornalista conta (Eles ganham menos, mas querem mudar o mundo) que Fábio Amaral, após chegar a diretor de Publicidade da revista Veja, trocou de emprego para ganhar 10% menos como coordenador do Instituto Cultural Maurício de Souza.

Juliana De Mari (Carreira alternativa, Exame São Paulo, 18/04/01) fala de Emilio Terron, que trocou a coordenadoria de treinamento da Gessy Lever pelo Centro de Estudos dos Doutores da Alegria, trabalhando 16 horas por semana e recebendo salário de R$ 3.500 mensais, equivalente ao anterior.

Helio Gama Neto (A lógica empresarial chega ao Terceiro Setor, Gazeta Mercantil, 13/02/01) dá mais exemplos: formada em Administração e pós-graduada em Marketing, a baiana Marta Castro trocou uma agência de Publicidade pela Fundação Odebrecht; e a assistente social Vanessa Weber Leite passou a coordenadora do Projeto Crescer, na Basf de São Bernardo do Campo, SP.



ALTERNATIVA

A verdade é que "o Terceiro Setor hoje não é só trabalho voluntário. Já é possível projetar uma carreira dentro dele", segundo Paula Oliveira, consultora da Companhia de Talentos (Trabalho em ONG já não combina com improvisação, caderno Empregos, Folha de S.Paulo, 16/09/01).

A pesquisa do Johns Hopkins Center for Civil Society Studies mostra que os empregos no Terceiro Setor podem crescer no Brasil. Enquanto aqui apenas 2,5% da mão-de-obra ativa estão no Terceiro Setor, subindo para 3,2% com o trabalho de instituições religiosas, a média nos 22 países pesquisados é de 4,8%. O percentual varia de 12,6 (Holanda) a 0,4 (México).

É interessante observar que, nos EUA, sete em cada 10 novas oportunidades de emprego surgem no Terceiro Setor (Rets - Revista do Terceiro Setor, 25/09/99). E que, de acordo com o já citado livro Marketing Social, há 10 milhões de profissionais do Terceiro Setor em todo o mundo. Os EUA concentram 45% do total; a Europa Ocidental, 29%; o Japão, 11%; e a América Latina, 10%. Nessas regiões, o número de empregos do Terceiro Setor cresceu 23% entre 1991 e 1995, enquanto que o da Economia mundial como um todo cresceu apenas 6%.



RESPONSABILIDADE SOCIAL E ÉTICA

A responsabilidade social e ética de pessoas, entidades, empresas e Governo faz parte do chamado Terceiro Setor. Segundo pesquisa com 273 empresas, feita pelo Ceats-USP - Centro de Estudos em Administração do Terceiro Setor da Universidade de São Paulo, 56% delas investem em atividades de caráter social; 40% acreditam que as ações sociais envolvem mais o funcionário com o trabalho; 34% acham que programas sociais aumentam a motivação e a produtividade; e em 48% os funcionários fazem algum tipo de trabalho voluntário. A ação social influi até na permanência dos funcionários no emprego. "Os melhores talentos vão preferir empresas socialmente responsáveis", diz Oded Grajew, presidente do Instituto Ethos, criado em 1998 por empresários preocupados com o social.



NO BRASIL, HÁ MAIS DE 450 ANOS

A preocupação com o social começou no Brasil em 1543, com a fundação da Santa Casa de Misericórdia da então Vila de Santos, SP, fazendo com que nossa atuação no setor quase nascesse junto com o próprio País. A segunda data relevante é 1908, quando a Cruz Vermelha chegou ao Brasil. Se considerarmos apenas estes registros históricos, o Brasil levou 365 anos entre a sua primeira e segunda ação social. A partir daí, no entanto, a distância entre as datas se reduziu. Em 1910, o escotismo, fundado dois anos antes na Inglaterra por Robert Baden-Powell, se estabeleceu aqui, para "ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião". Em 1935, foi promulgada a lei de declaração de utilidade pública, que regulamenta a colaboração do Estado com as instituições filantrópicas. Em 1942, Getúlio Vargas criou a LBA - Legião Brasileira de Assistência, cuja primeira presidente foi Darci Vargas.

Em 1961, nasceu a APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, que mudou o conceito de assistência aos excepcionais. Em 1967, o Governo criou o Projeto Rondon e levou universitários ao interior do país para atender comunidades carentes. Em 1983, surgiu a Pastoral da Criança, treinando líderes comunitários para combater a mortalidade infantil. A partir dos anos 90, os empresários aumentaram sua consciência social, até em decorrência da diminuição dos programas do Governo para o setor, por causa da crise econômica do final dos anos 70. Em 1993, Herbert de Souza, o Betinho, fundou a Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida. Em 1995, Fernando Henrique Cardoso criou o programa Comunidade Solidária, que substituiu a LBA e cuja presidência coube à dona Ruth Cardoso. Em 1995, também surgiu o programa Universidade Solidária, o Unisol, atuante a partir de 1996. Em 1998, foi promulgada a lei 9.608, que regulamenta a prática do voluntariado, e, em 1999, a lei 9.790 qualificou as organizações da sociedade civil de direito público e disciplinou um termo de parceria.



UMA NOVA MANEIRA DE FAZER NEGÓCIOS

O Terceiro Setor evoluiu tanto que, hoje, a expressão "responsabilidade social e ética" já aponta as preocupações das empresas com o reflexo de suas atitudes nos negócios. Exemplo disso foi que em 26 de agosto de 2.000, presidentes de 18 das mais importantes empresas do mundo se reuniram na ONU com o secretário-geral Kofi Annan e com os diretores-gerais do Alto Comissariado para Direitos Humanos e da OIT - Organização Internacional do Trabalho e do Programa de Meio Ambiente, para discutir a interação entre as Nações Unidas, o empresariado global, ONGs e sindicatos. Isto porque Kofi Annan criou o Global Compact, para fazer com que líderes empresariais apóiem a ONU na promoção de valores fundamentais em direitos humanos, trabalho e meio ambiente. Nessa reunião, os únicos representantes do hemisfério sul foram Oded Grajew, do Instituto Ethos, Guilherme Peirão Leal, presidente da Natura Cosméticos, e José Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo. E, para se avaliar o nosso envolvimento com o assunto, o Brasil vai sediar a primeira reunião do Global Compact, em outubro.



Engel Paschoal (engelp@terra.com.br) é jornalista e especialista em assuntos relacionados ao Terceiro Setor. Escreve a coluna Responsabilidade Social e Ética para os sites www.aclimacaosp.com.br e www.wmulher.com.br (canal Terceiro Setor) e para jornais do interior do Estado de São Paulo. Também é coordenador do canal Terceiro Setor do portal www.maxpressnet.com.br

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