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O som da inclusão social
O maracatu é um estilo de dança e música típico de Pernambuco, mas ainda pouco popular no resto do Brasil. O Leão Coroado tenta atrair as pessoas, em sua maioria jovens, ao convívio social, usando a música. Com a tecnologia, o grupo espera oferecer oportunidades de trabalho, educação e auto-suficiência aos jovens. "É um mundo completamente novo para nós", conta Afonso Gomes Aguiar, 53 anos, presidente do Leão Coroado.
Gomes não sabe como lidar com "essas máquinas", mas ele está certo de que elas mudarão as pessoas para melhor. Seu grupo está implementando uma infraestrutura de tecnologia na redodenza. Voluntários ensinam aos moradores locais os conceitos básicos de informática. Os alunos então se tornam professores, dando início a um ciclo que deve continuar até que o grupo possa cobrar uma pequena taxa por seus serviços. O dinheiro vai permitir que o grupo se atualize e expanda seu negócio.
Imagine criar websites, editar música digital, converter arquivos de áudio e fazer serviços terceirizados em uma comunidade onde muitos até agora jamais haviam ouvido ouvido falar na Internet. "É claro que tem pessoas que não acreditam em nós e pensam que esse negócio de computador é besteira", diz Afonso Aguiar. "Pessoalmente, até entendo o raciocínio dessas pessoas. Vivemos em uma redondeza em que muitos sobrevivem com o crime ou simplesmente duvidam de qualquer coisa que possa melhorar suas vidas".
Até o momento, a iniciativa vem recebendo apenas o apoio de alguns amantes do maracatu de Recife e da própria Olinda. Instituições como o CDI (Comitê para Democratização da Informática) também estão ajudando. As unidades do CDI, chamadas Escolas de Informática e Cidadania, existem em todo o Brasil.
"Não queremos apenas ensiná-los a usar computadores. Queremos também criar empreendedores sociais, pessoas que possam organizar, administrar e assumir investimentos e iniciativas sociais nesta área", diz Paulo Henrique Araripe, coordenador executivo do CDI em Pernambuco. "Queremos oferecer a eles as ferramentas para sair da condição de exclusão em que se encontram".
Os jovens envolvidos diretamente com o Leão Coroado já atualizam seu site oficial e, com esta experiência, começam a produzir conteúdos diferente e sites com referências sobre o maracatu para visitantes e leitores de outros países.
"Não somos uma escola de informática", diz Araripe. "A comunidade se responsabiliza por administrar e ensinar os filhos dos novos moradores".
Já que as crianças parecem ser mais abertas às novas tecnologias, é nelas que o Leão Coroado concentra seus esforços. Afonso Henrique e Kassandra Kelly, ambos com 5 anos de idade, são um bom exemplo. Eles convivem com o maracatu desde que nasceram. E atualmente eles acompanham cada ensaio e apresentação do grupo. Durante o mês de novembro o grupo fez uma turnê por São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, divulgando sua música.
"Nós percebemos a curiosidade e o interesse das crianças. Por isso, nossa expectativa é criar uma sólida base de apoio para que a comunidade possa oferecer seus próprios serviços", disse Sérgio Angelim, do CESAR, um entusiasta do maracatu envolvido no projeto do CDI em Recife. "Além da informática, queremos dar acompanhamento psicológico, educação sexual e tudo o que os voluntários puderem oferecer", diz Angelim.
Segundo seu presidente, o Leão Coroado tem cerca de 120 membros. O grupo pretende criar e publicar um jornal eletrônico com notícias e informações sobre eventos de Águas Compridas, para que todos possam acompanhar o que se faz por lá.
"Vamos mudar Águas Compridas e esperamos mudar todo o nosso povo", disse Aguiar. "E eu tenho certeza de que os computadores e a tecnologia podem nos ajudar a chegar lá".