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Projeto aproxima comunidades ribeirinhas do Pará
Estranho aos olhos urbanos, o primeiro parágrafo do texto de um jovem ribeirinho explica as façanhas que pescadores e moradores das comunidades das imediações dos rios Tapajós, Amazonas e Arapiuns enfrentam para viver. Foi nesse contexto que o médico infectologista Eugênio Scannavino Netto começou a trabalhar na região. Terminou criando uma ONG, que hoje é um exemplo de como utilizar de maneira educativa e lúdica ferramentas da comunicação.
Batizada de Saúde e Alegria, a entidade funciona há mais de quinze anos. Hoje ela atende 20 mil pessoas, espalhadas por 16 comunidades, situadas nos municípios de Santarém e Belterra, no Pará. A equipe coordenada por Netto difunde informações sobre saúde. Utilizando-se de diferentes linguagens: das mais formais, como palestras e seminários, até o mundo mágico do circo. Além disso, cria e apoia projetos de desenvolvimento comunitário sustentável.
Para ir de um lugar a outro, as viagens às vezes duram 22 horas. Para aproximar as comunidades e diminuir as distâncias entre elas, a entidade criou a Rede Mocoronga de Comunicação Popular. Mocoronga é o nome dado para quem nasce em Santarém. A produção dos jornais é feita de maneira simples, sem a necessidade de parafernálias tecnológicas.
O médico fundador da entidade explica: "Nós utilizamos mimeógrafos comprados em São Paulo. Em algumas comunidades sequer há energia elétrica, mas isso não pode impedir nosso trabalho". Já os programas de TVs e rádios são realizados por um mini-estúdio da ONG.
Composta basicamente por grupos de jovens capacitados como repórteres, a Rede produz peças para rádios comunitárias, jornais, fotonovelas e vídeos que falam sobre o cotidiano, problemas e curiosidades de cada vilarejo ribeirinho.
"As comunidades são muito distantes umas das outras, por isso, instalamos uma sucursal em cada vilarejo. Hoje a informação produzida em uma comunidade circula também na sua vizinha", explica Caetano Sacannavino, um engenheiro que abandonou São Paulo para investir na iniciativa do irmão.
Outro benefício citado por ele é que com o trabalho jornalístico dos jovens, histórias e tradições começaram a ser resgatados e documentados. "Cada velhinho que morre em uma vila ribeirinha é uma enciclopédia que se perde, pois essas comunidades possuem uma tradição basicamente oral", finaliza.