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Âncoras da sociedade

Por Juliana Miranda - Revista Época   10 de abril de 2002
São Paulo - Maria Máxima dos Santos integra uma parcela da população brasileira que tem poucos motivos para festejar sua cidadania. Analfabeta, com 6 filhos (2 adotivos) para cuidar, Maria começou a trabalhar cedo. Aos 17 anos já se ocupava como doméstica em uma casa de família. Hoje, vivendo em Salvador, continua lutando com dificuldades para manter os filhos. Com essa história de vida, é difícil acreditar que a baiana, de 61 anos, ainda consiga se dedicar a algum tipo de causa social. Mas o fato pode ser comprovado pelo prêmio que ela recebeu no ano passado.

Maria foi consagrada a Voluntária do Ano 2000, graças aos trabalhos que realiza há mais de trinta anos em diversas instituições. Ela visita asilos de idosos, orfanatos, hospitais infantis de câncer e instituições psiquiátricas, entre outros. Não contribui com dinheiro, que lhe falta. Mas com assistência emocional, longas conversas, carinho e muita solidariedade. Assim como Maria, cerca de 30 milhões de brasileiros se ocupam com algum tipo de trabalho social. E a expectativa é de que esse número se torne mais expressivo em 2001, o Ano Internacional do Voluntário.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos da Religião (Iser), um em cada cinco brasileiros faz algum tipo de trabalho não remunerado. O caso de Maria retrata que a falta de tempo ou dinheiro não servem como desculpa para deixar de estender a mão a alguém. "Grande parte dos voluntários brasileiros são jovens ou idosos. Isso acontece porque a maioria dos adultos ocupam grande parte do seu tempo no trabalho, deixando de lado outros tipos de compromissos", explica o consultor de empresas Stephen Kanitz, que há quatro anos coordena o prêmio Voluntários do Ano.

Pensando nisso, Stephen criou há cinco anos o portal filantropia.org, contribuindo para a mais nova moda da era digital: os portais filantrópicos. Ele próprio admite que pretendia se tornar um voluntário e não tinha tempo. Após montar o site, o consultor passou a divulgá-lo para as empresas durante suas palestras. O projeto deu tão certo, que hoje companhias como Ambev e Tam, cadastradas no site, ajudam as cerca de 400 instituições incluídas na página.

Cada um a seu modo, a filantropia está se tornando uma obrigação para grande parte da população brasileira. De acordo com a antropóloga Leilah Landim, os brasileiros querem trabalhar por alguma forma de mudança social. Também são movidos pela vontade de se integrar a um ambiente coletivo. "Um número cada vez maior de pessoas está descobrindo que é possível fazer alguma coisa para reduzir a crise social no país", diz. "A crença de que isso era tarefa exclusiva dos governantes está sendo revertida."

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