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Programa busca reduzir danos a drogados
Por A Tarde - Cláudio Bandeira   25 de abril de 2002
Noventa por cento das pessoas que têm problemas com o uso de drogas não
procuram ajuda especializada. Este é o ponto de partida para o programa de
extensão Atividade Curricular em Comunidade (ACC) - "Redução de danos em
usuários de drogas injetáveis" e "Drogas: consultório de rua e espaço de
convivência" -, aplicado pela Ufba/Cetad (Centro de Estudos e Terapia do
Abuso de Drogas), em 20 bairros da periferia de Salvador, com uma média de
200 pacientes em cada. Como o paciente não aparece, o principal objetivo é
levar o atendimento especializado às comunidades.
A abordagem inicial do dependente não é das mais simples e, geralmente, é feita por vias sinuosas, por intermédio das associações comunitárias ou pela família, com o propósito de substituir tabus, mitos e preconceitos por cidadania. Nesse sentido, o usuário não precisa se identificar para receber apoio de prevenção e conscientização por meio de ações multidisciplinares. "Em um primeiro momento queremos prover suporte à saúde, fazendo mostrar que o usuário tem direitos como os demais e deve ser respeitado enquanto cidadão", explica o coordenador do programa e professor da Faculdade de Medicina da Ufba, Tarcísio de Andrade.
As visitas dos alunos da ACC incluem aulas de prevenção, assistência médica e psicológica. Entre as práticas adotadas está a de distribuir seringas descartáveis, solução fisiológica para a diluição da substância e camisinhas, medidas preventivas que permitem a redução de danos - a exemplo da contaminação pelo vírus HIV - em usuários de drogas injetáveis ao evitar o uso comum de seringas.
A estratégia para a mudança de comportamento vem do fato de que, ao se sentir valorizado, o dependente procura corresponder à expectativa que os integrantes da ACC e da comunidade têm dele. Por outro lado, o tabu é derrubado no instante em que se cria uma tradição cultural para falar abertamente de drogas. "O problema das drogas não está no uso em si, mas como ela é tratada pela sociedade", diz Andrade.
Redução da violência
Outro objetivo do "Redução de danos" é deixar uma estrutura consolidada nos bairros em que atua, levando a própria comunidade a multiplicar as estratégias do programa. Por meio de uma unidade móvel, ações preventivas têm sido aplicadas em três bairros carentes, Leblon (Alagados), Uruguai e Fazenda Coutos. Afirma Andrade que está comprovada a redução da violência aliada à maior conscientização da população nos bairros onde o programa é aplicado.
Ele ressalta que o sucesso deve-se especialmente à iniciativa dos alunos em lidar com a questão de forma respeitosa e informativa. "Eu sempre peço a eles que pensem: 'E se fosse com minha vida, o que eu faria?' Isso tem ajudado bastante". A droga mais usada nessa localidades é a maconha, seguida pelo crack, cocaína (aspirada) e cocaína (injetada). O usuário padrão está na média dos 25 anos e é do sexo masculino.
Tarcísio de Andrade entende que a falta de identidade social é o principal caminho para o uso de drogas. Esses jovens não se adaptaram à escola e vivem em famílias sacrificadas. Com não conseguem estudar, não se capacitam para o mercado de trabalho. Não sendo reconhecidos como estudantes ou trabalhadores, membros úteis e ativos da comunidade, buscam descarregar na transgressão a energia que poderia ter despendido em atividades sociais e construtivas.
Esses jovens também encontram enorme dificuldade de lidar com a lei. A lei não se internalizou como valor subjetivo, razão pela qual são, comumente, cerceados pela polícia. Andrade identifica também a ausência do suporte social da família, que contribui largamente para a formação dos jovens. O nível educacional sem qualificação e a migração desenfreada para as grandes cidades registradas nas últimas décadas são fatores recorrentes.
Mulheres em risco
Embora seja em menor número, a mulher, quando se torna dependente de drogas, ao contrário dos homens, envereda na maioria das vezes para a prostituição com a finalidade de conseguir recursos necessários para sustentar o vício. O coordenador analisa a escolha pelo fato de o sexo feminino não precisar atingir o estado de excitação para manter relações sexuais. Por essa razão relacionam-se com vários parceiros, ampliando os riscos de contrair Aids e outras DSTs.
As experiências com o "Redução de danos" têm enriquecido a vivência dos universitários. A estudante de enfermagem Jandir Campos Andrade, integrante da ACC, conta que não imaginava existir em Salvador um local com o volume de carências como as existentes no Leblon, nos Alagados, e que em nada remete ao sofisticado bairro carioca. "Fiquei bastante emocionada quando ouvi o relato, sobre tudo que tinha passado, de um rapaz usuário de drogas que teve paralisia facial". A também estudante de enfermagem Suzane Marais Sawatani conta que está fazendo um levantamento entre parceiras de usuários de drogas. "Acho difícil alguém passar pela ACC e continuar o mesmo", resumiu a estudante de Educação Física Ana Carla Dávila.
A abordagem inicial do dependente não é das mais simples e, geralmente, é feita por vias sinuosas, por intermédio das associações comunitárias ou pela família, com o propósito de substituir tabus, mitos e preconceitos por cidadania. Nesse sentido, o usuário não precisa se identificar para receber apoio de prevenção e conscientização por meio de ações multidisciplinares. "Em um primeiro momento queremos prover suporte à saúde, fazendo mostrar que o usuário tem direitos como os demais e deve ser respeitado enquanto cidadão", explica o coordenador do programa e professor da Faculdade de Medicina da Ufba, Tarcísio de Andrade.
As visitas dos alunos da ACC incluem aulas de prevenção, assistência médica e psicológica. Entre as práticas adotadas está a de distribuir seringas descartáveis, solução fisiológica para a diluição da substância e camisinhas, medidas preventivas que permitem a redução de danos - a exemplo da contaminação pelo vírus HIV - em usuários de drogas injetáveis ao evitar o uso comum de seringas.
A estratégia para a mudança de comportamento vem do fato de que, ao se sentir valorizado, o dependente procura corresponder à expectativa que os integrantes da ACC e da comunidade têm dele. Por outro lado, o tabu é derrubado no instante em que se cria uma tradição cultural para falar abertamente de drogas. "O problema das drogas não está no uso em si, mas como ela é tratada pela sociedade", diz Andrade.
Redução da violência
Outro objetivo do "Redução de danos" é deixar uma estrutura consolidada nos bairros em que atua, levando a própria comunidade a multiplicar as estratégias do programa. Por meio de uma unidade móvel, ações preventivas têm sido aplicadas em três bairros carentes, Leblon (Alagados), Uruguai e Fazenda Coutos. Afirma Andrade que está comprovada a redução da violência aliada à maior conscientização da população nos bairros onde o programa é aplicado.
Ele ressalta que o sucesso deve-se especialmente à iniciativa dos alunos em lidar com a questão de forma respeitosa e informativa. "Eu sempre peço a eles que pensem: 'E se fosse com minha vida, o que eu faria?' Isso tem ajudado bastante". A droga mais usada nessa localidades é a maconha, seguida pelo crack, cocaína (aspirada) e cocaína (injetada). O usuário padrão está na média dos 25 anos e é do sexo masculino.
Tarcísio de Andrade entende que a falta de identidade social é o principal caminho para o uso de drogas. Esses jovens não se adaptaram à escola e vivem em famílias sacrificadas. Com não conseguem estudar, não se capacitam para o mercado de trabalho. Não sendo reconhecidos como estudantes ou trabalhadores, membros úteis e ativos da comunidade, buscam descarregar na transgressão a energia que poderia ter despendido em atividades sociais e construtivas.
Esses jovens também encontram enorme dificuldade de lidar com a lei. A lei não se internalizou como valor subjetivo, razão pela qual são, comumente, cerceados pela polícia. Andrade identifica também a ausência do suporte social da família, que contribui largamente para a formação dos jovens. O nível educacional sem qualificação e a migração desenfreada para as grandes cidades registradas nas últimas décadas são fatores recorrentes.
Mulheres em risco
Embora seja em menor número, a mulher, quando se torna dependente de drogas, ao contrário dos homens, envereda na maioria das vezes para a prostituição com a finalidade de conseguir recursos necessários para sustentar o vício. O coordenador analisa a escolha pelo fato de o sexo feminino não precisar atingir o estado de excitação para manter relações sexuais. Por essa razão relacionam-se com vários parceiros, ampliando os riscos de contrair Aids e outras DSTs.
As experiências com o "Redução de danos" têm enriquecido a vivência dos universitários. A estudante de enfermagem Jandir Campos Andrade, integrante da ACC, conta que não imaginava existir em Salvador um local com o volume de carências como as existentes no Leblon, nos Alagados, e que em nada remete ao sofisticado bairro carioca. "Fiquei bastante emocionada quando ouvi o relato, sobre tudo que tinha passado, de um rapaz usuário de drogas que teve paralisia facial". A também estudante de enfermagem Suzane Marais Sawatani conta que está fazendo um levantamento entre parceiras de usuários de drogas. "Acho difícil alguém passar pela ACC e continuar o mesmo", resumiu a estudante de Educação Física Ana Carla Dávila.