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Povos da floresta vêm à metrópole
Por Jornal Valor - Silvia Czapski   29 de abril de 2002
Diversidade Mostra de tradições indígenas permite arrecadação de recursos e
preservação da cultura
Quem não se lembra das pesquisas sobre indígenas do Brasil, solicitadas nas escolas sempre na mesma época do ano, devido ao Dia do Índio, comemorado em 19 de abril? Pois o apelo da data ultrapassou os bancos escolares e inspirou o Rito de Passagem que, pelo terceiro ano consecutivo, traz vários "povos da floresta" à metrópole para mostrarem aspectos da vida junto aos principais ecossistemas brasileiros.
Desde o dia 5 até 21 de abril, das sextas aos domingos, estes povos fazem mais de que apresentar suas danças tradicionais em palcos a céu aberto e chão batido. Também convidam o "povo branco" para degustar receitas como beiju com recheio de peixe, comprar peças artesanais produzidas nas aldeias e produtos industrializados (vídeos, CDs e cartões postais), além de conhecer um pouco mais do dia-a-dia nas aldeias, a partir de fotos de Helio Nobre.
Às segundas-feiras, escolas repetem a experiência, com direito a oficinas de pintura corporal, dança e canto indígenas, ministradas pelos índios. "A demanda foi tanta que promovemos uma sessão extra para escolas em São Paulo, atendendo 2400 estudantes num único dia", relata Ângela Pappiani, do Instituto de Desenvolvimento das Tradições Indígenas (Ideti), a ONG responsável pelo projeto.
Neste ano, conta Ângela, participaram das cerimônias, em São Paulo e Rio de Janeiro, três etnias do Mato Grosso (Bororo, Mahinaku e Xavante), uma de Tocantins (Karajá), uma do Acre (Kaxinawa), além do único grupo indígena do Japão: os Ainu, que vivem na ilha de Hokkaido. A maior parte sequer imaginava como seria uma cidade grande.
Faz parte da proposta mostrar o cotidiano da metrópole aos 120 índios participantes. Nos horários livres, eles visitaram centros comerciais, o zoológico, praia, foram ao Circo Napoli, à Mostra "Pelé a Arte do Rei" e, pela primeira vez, ao cinema. Este último foi o que menos agradou: "Os códigos culturais são muito diferentes", deduz Ângela.
"Uma das razões para a Petroquisa patrocinar este projeto, que representa um dos maiores apoios em 2002, é que os índios participam diretamente e são tratados com dignidade e conforto", acrescenta um porta-voz da empresa, que repassou R$ 1 milhão por meio da Lei Rouanet.
A forma de aplicar os recursos financeiros é uma novidade do projeto, reconhece Ângela Pappiani. De um lado, diz ela, as despesas operacionais são altas: "Só para negociar as apresentações com as comunidades, percorremos mais de 20 mil quilômetros no país, usando avião, barco ou automóvel. Desde então, cerca de cem profissionais e 15 empresas prestadoras de serviços passaram a trabalhar na produção."
O Rito de Passagem coloca como imprescindível a geração de renda para as comunidades indígenas, por meio de vários mecanismos: pagamento pela apresentação, de direitos de imagem e autorais na venda de cartões, vídeos e CDs, comercialização do artesanato pelo valor que os índios determinaram.
Segundo Ângela, o dinheiro recebido beneficia inclusive os índios que não puderam vir para a cidade grande. "A própria comunidade decide como aplicará os recursos. Os Bororo, por exemplo, investirão na abertura de uma nova aldeia tradicional", conta. Pela tradição Bororo, as moradias devem se distribuir ao redor de um círculo, deixando-se um pátio no centro onde acontecem cerimônias e reuniões importantes.
"Os Xavante optaram por comprar um novo motor de barco", acrescenta a diretora, interpretando que, a partir do contato com os brancos, é inevitável que índios incorporem alguns hábitos ocidentais, por exemplo o uso de determinados equipamentos industrializados. Mas a tradição não precisa ser abandonada.
Um dos efeitos do Rito é a valorização cultura tradicional, inclusive para os próprios índios. "Há alguns anos, no primeiro Rito de Passagem, verificamos que, entre os Krikati, só os idosos mantinham rituais tradicionais. Por isso, apesar do desejo dos jovens de viajar, apenas os mais velhos se apresentaram em São Paulo. Dois anos depois, os jovens já estavam participando das cerimônias rituais. Agora, até as crianças formaram um grupo", relata Ângela.
A valorização da cultura, das tradições e do meio ambiente são critérios para a Petrobras apoiar projetos, que inclui estes patrocínios no seu balanço social. Foi ela que deu suporte à sua subsidiaria, Petroquisa, na seleção dos 16 projetos (inclusive o Rito de Passagem) que receberiam subsídios pela Lei Rouanet.
"O apoio empresarial é imprescindível para o trabalho nas comunidades", diz Ângela, lembrando que o Ideti, presidido por um índio, Jurandir Sirid-we Xavante, possui outros projetos aprovados pelo Ministério da Cultura. São CDs, documentários e cartões postais, cujos direitos autorais pertencem aos povos indígenas, o que lhes permitiria manter a tradição de guardiões da biodiversidade, mas com renda extra, para consumir produtos que os brancos trouxeram para suas vidas.
Veja mais sobre o Rito de Passagem em www.ideti.org.br
Quem não se lembra das pesquisas sobre indígenas do Brasil, solicitadas nas escolas sempre na mesma época do ano, devido ao Dia do Índio, comemorado em 19 de abril? Pois o apelo da data ultrapassou os bancos escolares e inspirou o Rito de Passagem que, pelo terceiro ano consecutivo, traz vários "povos da floresta" à metrópole para mostrarem aspectos da vida junto aos principais ecossistemas brasileiros.
Desde o dia 5 até 21 de abril, das sextas aos domingos, estes povos fazem mais de que apresentar suas danças tradicionais em palcos a céu aberto e chão batido. Também convidam o "povo branco" para degustar receitas como beiju com recheio de peixe, comprar peças artesanais produzidas nas aldeias e produtos industrializados (vídeos, CDs e cartões postais), além de conhecer um pouco mais do dia-a-dia nas aldeias, a partir de fotos de Helio Nobre.
Às segundas-feiras, escolas repetem a experiência, com direito a oficinas de pintura corporal, dança e canto indígenas, ministradas pelos índios. "A demanda foi tanta que promovemos uma sessão extra para escolas em São Paulo, atendendo 2400 estudantes num único dia", relata Ângela Pappiani, do Instituto de Desenvolvimento das Tradições Indígenas (Ideti), a ONG responsável pelo projeto.
Neste ano, conta Ângela, participaram das cerimônias, em São Paulo e Rio de Janeiro, três etnias do Mato Grosso (Bororo, Mahinaku e Xavante), uma de Tocantins (Karajá), uma do Acre (Kaxinawa), além do único grupo indígena do Japão: os Ainu, que vivem na ilha de Hokkaido. A maior parte sequer imaginava como seria uma cidade grande.
Faz parte da proposta mostrar o cotidiano da metrópole aos 120 índios participantes. Nos horários livres, eles visitaram centros comerciais, o zoológico, praia, foram ao Circo Napoli, à Mostra "Pelé a Arte do Rei" e, pela primeira vez, ao cinema. Este último foi o que menos agradou: "Os códigos culturais são muito diferentes", deduz Ângela.
"Uma das razões para a Petroquisa patrocinar este projeto, que representa um dos maiores apoios em 2002, é que os índios participam diretamente e são tratados com dignidade e conforto", acrescenta um porta-voz da empresa, que repassou R$ 1 milhão por meio da Lei Rouanet.
A forma de aplicar os recursos financeiros é uma novidade do projeto, reconhece Ângela Pappiani. De um lado, diz ela, as despesas operacionais são altas: "Só para negociar as apresentações com as comunidades, percorremos mais de 20 mil quilômetros no país, usando avião, barco ou automóvel. Desde então, cerca de cem profissionais e 15 empresas prestadoras de serviços passaram a trabalhar na produção."
O Rito de Passagem coloca como imprescindível a geração de renda para as comunidades indígenas, por meio de vários mecanismos: pagamento pela apresentação, de direitos de imagem e autorais na venda de cartões, vídeos e CDs, comercialização do artesanato pelo valor que os índios determinaram.
Segundo Ângela, o dinheiro recebido beneficia inclusive os índios que não puderam vir para a cidade grande. "A própria comunidade decide como aplicará os recursos. Os Bororo, por exemplo, investirão na abertura de uma nova aldeia tradicional", conta. Pela tradição Bororo, as moradias devem se distribuir ao redor de um círculo, deixando-se um pátio no centro onde acontecem cerimônias e reuniões importantes.
"Os Xavante optaram por comprar um novo motor de barco", acrescenta a diretora, interpretando que, a partir do contato com os brancos, é inevitável que índios incorporem alguns hábitos ocidentais, por exemplo o uso de determinados equipamentos industrializados. Mas a tradição não precisa ser abandonada.
Um dos efeitos do Rito é a valorização cultura tradicional, inclusive para os próprios índios. "Há alguns anos, no primeiro Rito de Passagem, verificamos que, entre os Krikati, só os idosos mantinham rituais tradicionais. Por isso, apesar do desejo dos jovens de viajar, apenas os mais velhos se apresentaram em São Paulo. Dois anos depois, os jovens já estavam participando das cerimônias rituais. Agora, até as crianças formaram um grupo", relata Ângela.
A valorização da cultura, das tradições e do meio ambiente são critérios para a Petrobras apoiar projetos, que inclui estes patrocínios no seu balanço social. Foi ela que deu suporte à sua subsidiaria, Petroquisa, na seleção dos 16 projetos (inclusive o Rito de Passagem) que receberiam subsídios pela Lei Rouanet.
"O apoio empresarial é imprescindível para o trabalho nas comunidades", diz Ângela, lembrando que o Ideti, presidido por um índio, Jurandir Sirid-we Xavante, possui outros projetos aprovados pelo Ministério da Cultura. São CDs, documentários e cartões postais, cujos direitos autorais pertencem aos povos indígenas, o que lhes permitiria manter a tradição de guardiões da biodiversidade, mas com renda extra, para consumir produtos que os brancos trouxeram para suas vidas.
Veja mais sobre o Rito de Passagem em www.ideti.org.br