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Projeto visa alfabetização de adultos

Por Correio da Bahia - Regina Bochicchio   13 de maio de 2002
Um projeto para a alfabetização de adultos residentes no Centro Histórico pretende aliar pesquisa acadêmica e responsabilidade social. E, ao que parece, não se trata de mais um curso somente com a pretensão de ensinar a ler e escrever, mas sim, que prevê uma troca de conhecimentos entre as partes envolvidas, ou seja, aquele que pretende alfabetizar e o alfabetizando. Isto porque o projeto, que é encabeçado pelo Núcleo de Pesquisa da Faculdade Ruy Barbosa, parte do princípio - de raiz antropológica e que é largamente considerado nas pesquisas atuais - de que a comunicação de "culturas" distintas é campo fértil para novas interações, e que informação acadêmica não está relacionada ao conhecimento individual ou coletivo das pessoas. O projeto será implantado no Museu Casa de Ruy Barbosa (através de convênio com a Associação Bahiana de Imprensa), para a comunidade circunvizinha ao local, predominantemente de baixa renda.

A troca de conhecimentos ou "círculo de cultura", através da "comunicação horizontal", são pilares do método educacional Paulo Freire, que será a base do projeto. Segundo explica a coordenadora das ações, a professora Mercedes Carvalho, o projeto será uma via de mão dupla, o que significa dizer que ganha a comunidade de adultos interessados no aprendizado e a universidade, que estará coletando material para o desenvolvimento de pesquisas em diversas áreas do saber. O "público-alvo" reside nas imediações do Museu Casa de Ruy Barbosa, cujo principal gestor atual é a Faculdade Ruy Barbosa.

Participação - "Partimos do princípio de que o museu deve ser uma instância viva, ter a participação efetiva da comunidade", diz a professora, explicando um dos motivos da ação. Outro fundamento do projeto é a interdisciplinaridade (estão envolvidos alunos e professores das áreas de antropologia, educação, psicologia, entre outros) e a transdisciplinaridade, ou seja, vaza dos muros da academia e transforma a realidade. No caso, a alfabetização de adultos pretende fomentar a troca de conhecimentos para maior afetação e participação dos indivíduos daquela comunidade em espaços como o Museu Ruy Barbosa, segundo explica a educadora.

Ela conta que através de conversas com alguns moradores e crianças, observou-se a necessidade dessa interação e o fato de que boa parte dos adultos não era alfabetizada. O projeto prevê quatro etapas distintas. A primeira delas, o levantamento sócio-antropológico e mapeamento das necessidades dos futuros alunos, já está em andamento. O levantamento do universo vocabular das pessoas, o diagnóstico de suas habilidades cognitivas (avaliação do seu conhecimento anterior, sem julgá-lo de acordo com parâmetros rígidos), a alfabetização propriamente dita através do método Paulo Freire e a utilização do treino de consciência fonológica como estratégia adicional para aprendizagem compõe as outras etapas. "Ao mesmo tempo em que as pessoas serão beneficiadas, a universidade desenvolve pesquisas e devolve os resultados à sociedade, que é a função da academia, em seu princípio", conclui a professora.

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