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Universitários socialmente responsáveis
Por Jornal Valor - Mauro Cezar Pereira   13 de maio de 2002
Vencedores da segunda edição do Prêmio Ethos-Valor - Concurso Nacional para
Estudantes Universitários agora sonham com a aplicação de seus projetos na
prática
Universidade de São Paulo (USP), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade do Vale do Itajaí (Univali). Essas são as origens dos ganhadores da segunda edição do Prêmio Ethos-Valor - Concurso Nacional para Estudantes Universitários sobre Responsabilidade Social das Empresas. Entre os 12 finalistas, foram premiados os três melhores em graduação - Carla Mara Machado, Maurício França Fabião, Maria Luiza de Oliveira Piazza - e o escolhido entre os pós-graduados - Ricardo Rodrigues Silveira de Mendonça. Os projetos foram desenvolvidos durante os cursos, em 2001. Levá-los da teoria à prática é o novo objetivo dos vencedores.
Os quatro acreditam que a premiação da noite de terça-feira, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo (SP), tornará a tarefa menos árdua. Mas, antes, passarão a primeira semana de julho - de 1.º a 7 - no Chile. Lá, farão visitas temáticas a organizações que difundem e praticam a responsabilidade social. Eles terão, ainda, uma programação artística e cultural.
"Desenvolvi a monografia com o intuito de me formar, no ano passado. Minha orientadora, Elionor Farah Jreige Weffort, disse-nos que enviaria os melhores trabalhos para concorrer a prêmios. Então decidimos entrar", conta Carla Mara Machado, de 22 anos.
"Contabilidade Ambiental: o papel da contabilidade na evidenciação de investimentos, custos e passivos ambientais" deu à aluna da USP um dos prêmios em graduação. O trabalho liga ciências contábeis, que cursou, a um tema de responsabilidade social, especialmente com foco na questão do meio ambiente. Ele se baseia em companhias já responsáveis nesse aspecto, conscientes de seu papel, que têm políticas dirigidas à questão. "A proposta é utilizar os demonstrativos contábeis, que são auditados, oficiais e têm credibilidade, para mostrar à sociedade o que é feito pelas empresas."
Para ela, foi uma boa oportunidade de comprovar que os profissionais da área contábil podem se aprofundar em estudos e implantá-los em suas companhias. Há três anos Carla é analista financeira do Bank Boston. "O banco é muito engajado na questão da responsabilidade social. Isso me impulsionou a fazer o trabalho", acrescenta, com planos de cursar mestrado na USP, no segundo semestre.
Outro trabalho acadêmico que saltou para a vitória no concurso foi o do carioca Maurício França Fabião, 24. Então aluno de ciências sociais da UERJ, ele era estagiário no Instituto Souza Cruz quando conheceu o Ethos. "Eu fazia uma monografia sobre hip-hop na favela da Rocinha e me encantei como tema da responsabilidade social. Então, mudei o foco radicalmente", conta. Durante um ano e meio Maurício buscou um tema específico dentro da área que havia descoberto, até desenvolver "O Negócio da Ética: um estudo sobre o Terceiro Setor Empresarial", sendo orientado pelo professor José Augusto Rodrigues.
"Sei que parece utópico, mas as companhias precisam de um relato das suas atividades sociais e um diálogo com a sociedade. A gestão estratégica das em presas tem que ser substituída por uma outra, social", argumenta. Fabião ficou entre os melhores defendendo a tese segundo a qual as estratégias normalmente desenvolvidas dentro dos escritórios devem nascer a partir de consultas à comunidade. "Essa demanda seria o ponto inicial, de onde empresas e governo poderiam elaborar e financiar projetos sociais", aposta. Para ele, esse é um aspecto do seu projeto que pode ser, o quanto antes, aplicado na prática. "Hoje há uma relação hierárquica", critica Maurício, que faz mestrado na universidade na qual se formou e trabalha na ONG Cieds (Centro Integrado.de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável).
Já Maria Luiza de Oliveira Piazza, de 23 anos, estava do outro lado do mundo quando resolveu inscrever no concurso a sua monografia. No começo de fevereiro, assim que chegou à Austrália para uma temporada de três meses aperfeiçoando o inglês, ela enviou, via internet, o que desenvolvera no ano passado para o curso de Relações Internacionais da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). "Códigos de Conduta das Multinacionais" teve orientação da professora Rita de Cássia Malheiros. O resultado? Menos de duas semanas depois de seu retorno ao Brasil, Maria Luiza, que voltará à sua casa, em Santa Catarina, na próxima sexta-feira estará embarcando rumo ao Chile com os outros três vencedores.
Pouco depois de saber que estava na final, ela disse que ficar entre os 12 e ter o trabalho publicado já havia sido uma conquista e tanto. A mãe, Marly de Oliveira Piazza ,que é assistente social, conta que a filha achava difícil vencer. Estudando direito na Universidade Federal de Santa Catarina, a vencedora do prêmio deve se formar em dois anos. "São carreiras que têm afinidade, a idéia é unir os conhecimentos das duas áreas", adianta o pai, Udson Piazza, médico. Para ele, a vitória irá estimulá-la buscar a aplicação prática de suas idéias.
Na noite da premiação, devido à impossibilidade de comparecimento da ex-estudante da Univali - que chegou ontem à Nova Zelândia - e de sua orientadora, Maria Luiza foi representada pelo professor Rogério dos Santos da Costa, coordenador do campus onde estudava. "Liguei imediatamente. Ela ficou sabendo pouco depois, apesar do fuso-horário", contou o "mestre", em cuja sala a aluna chegou a apresentar o trabalho.
Mas ele não foi o único professor a subir ao palco na cerimônia de premiação. Aos 44 anos, Ricardo Rodrigues Silveira de Mendonça viveu uma grande emoção com a escolha do seu trabalho entre os pós-graduados. "As dimensões da Responsabilidade Social: uma proposta de instrumento para avaliação" teve coordenação de Gilson Brito Alves Lima, da Universidade Federal Fluminense, onde o primeiro colocado cursou sistemas de gestão: "Arranquei o coração da minha dissertação de mestrado, um instrumento que permite às organizações avaliar sua performance fora da empresa, a partir da responsabilidade social."
Para ele, internamente os gestores já demonstraram serem capazes de desenvolver boas ações, mas "extra-muros" ainda há o muito a ser feito. "São pessoas acostumadas a tomar decisões, e elas deflagram conseqüências que extrapolam o interior das organizações. A responsabilidade social está para mostrar isso e cobrar de todos eles uma participação mais justa", resume. Referendado pela universidade, Ricardo se inscreveu buscando uma aprovação da bancada julgadora do concurso. "Meu trabalho ressalta o compromisso com o resgate da responsabilidade social das empresas, todas, de todos os setores", acrescenta.
Sobre a viabilidade de aplicação prática de suas idéias, ele destaca o instrumento que desenvolveu. Trata-se de uma ferramenta estatística capaz de gerar gráficos com informações que mostram às companhias a repercussão externa de suas próprias gestões. Algo como um termômetro que mede, fora da empresa, os reflexos de inúmeras ações. "E isso tudo é feito sob a ótica de seis dimensões: visão estratégica e transparência da organização, público interno, comunidade, sociedade, clientes e fornecedores; além da gestão ambiental", relata.
Há uma década como professor de organizações, sistemas e métodos da Abeu Faculdades Integradas, em Belford Roxo (RJ), na Baixada Fluminense, ele tem alunos em administração e ciências contáveis, além de tecnologia e informática. "Quero continuar com minhas aulas, é minha expectativa pelo resto da vida, tentando transformar as pessoas em seres melhores", resume Ricardo, que está concluindo seu mestrado na UFF.
O Prêmio Ethos-Valor de Responsabilidade Social teve o patrocínio do Banco Real ABN AMRO Bank, Serasa, Organizações Globo, Ford, Belgo Mineira, DPaschoal/Fundação Educar. O evento contou com apoio do governo federal, Makron Bookd e Ciee (Centro de Integração Empresa Escola). Ja o apoio cultural do evento dado pelo Sesc São Paulo.
Premiados após ficarem entre os quatro melhores de 227 inscritos, além dos tradicionais agradecimentos, os vencedores aproveitaram a oportunidade para enviar suas mensagens, como fez Maurício Fabião, da UERJ: "Se os consumidores exigirem empresas mais éticas, elas o serão.Acredito que, deixando o discurso e indo para a prática, o indivíduo pode transformar a sociedade por meio do próprio consumo."
Universidade de São Paulo (USP), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade do Vale do Itajaí (Univali). Essas são as origens dos ganhadores da segunda edição do Prêmio Ethos-Valor - Concurso Nacional para Estudantes Universitários sobre Responsabilidade Social das Empresas. Entre os 12 finalistas, foram premiados os três melhores em graduação - Carla Mara Machado, Maurício França Fabião, Maria Luiza de Oliveira Piazza - e o escolhido entre os pós-graduados - Ricardo Rodrigues Silveira de Mendonça. Os projetos foram desenvolvidos durante os cursos, em 2001. Levá-los da teoria à prática é o novo objetivo dos vencedores.
Os quatro acreditam que a premiação da noite de terça-feira, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo (SP), tornará a tarefa menos árdua. Mas, antes, passarão a primeira semana de julho - de 1.º a 7 - no Chile. Lá, farão visitas temáticas a organizações que difundem e praticam a responsabilidade social. Eles terão, ainda, uma programação artística e cultural.
"Desenvolvi a monografia com o intuito de me formar, no ano passado. Minha orientadora, Elionor Farah Jreige Weffort, disse-nos que enviaria os melhores trabalhos para concorrer a prêmios. Então decidimos entrar", conta Carla Mara Machado, de 22 anos.
"Contabilidade Ambiental: o papel da contabilidade na evidenciação de investimentos, custos e passivos ambientais" deu à aluna da USP um dos prêmios em graduação. O trabalho liga ciências contábeis, que cursou, a um tema de responsabilidade social, especialmente com foco na questão do meio ambiente. Ele se baseia em companhias já responsáveis nesse aspecto, conscientes de seu papel, que têm políticas dirigidas à questão. "A proposta é utilizar os demonstrativos contábeis, que são auditados, oficiais e têm credibilidade, para mostrar à sociedade o que é feito pelas empresas."
Para ela, foi uma boa oportunidade de comprovar que os profissionais da área contábil podem se aprofundar em estudos e implantá-los em suas companhias. Há três anos Carla é analista financeira do Bank Boston. "O banco é muito engajado na questão da responsabilidade social. Isso me impulsionou a fazer o trabalho", acrescenta, com planos de cursar mestrado na USP, no segundo semestre.
Outro trabalho acadêmico que saltou para a vitória no concurso foi o do carioca Maurício França Fabião, 24. Então aluno de ciências sociais da UERJ, ele era estagiário no Instituto Souza Cruz quando conheceu o Ethos. "Eu fazia uma monografia sobre hip-hop na favela da Rocinha e me encantei como tema da responsabilidade social. Então, mudei o foco radicalmente", conta. Durante um ano e meio Maurício buscou um tema específico dentro da área que havia descoberto, até desenvolver "O Negócio da Ética: um estudo sobre o Terceiro Setor Empresarial", sendo orientado pelo professor José Augusto Rodrigues.
"Sei que parece utópico, mas as companhias precisam de um relato das suas atividades sociais e um diálogo com a sociedade. A gestão estratégica das em presas tem que ser substituída por uma outra, social", argumenta. Fabião ficou entre os melhores defendendo a tese segundo a qual as estratégias normalmente desenvolvidas dentro dos escritórios devem nascer a partir de consultas à comunidade. "Essa demanda seria o ponto inicial, de onde empresas e governo poderiam elaborar e financiar projetos sociais", aposta. Para ele, esse é um aspecto do seu projeto que pode ser, o quanto antes, aplicado na prática. "Hoje há uma relação hierárquica", critica Maurício, que faz mestrado na universidade na qual se formou e trabalha na ONG Cieds (Centro Integrado.de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável).
Já Maria Luiza de Oliveira Piazza, de 23 anos, estava do outro lado do mundo quando resolveu inscrever no concurso a sua monografia. No começo de fevereiro, assim que chegou à Austrália para uma temporada de três meses aperfeiçoando o inglês, ela enviou, via internet, o que desenvolvera no ano passado para o curso de Relações Internacionais da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). "Códigos de Conduta das Multinacionais" teve orientação da professora Rita de Cássia Malheiros. O resultado? Menos de duas semanas depois de seu retorno ao Brasil, Maria Luiza, que voltará à sua casa, em Santa Catarina, na próxima sexta-feira estará embarcando rumo ao Chile com os outros três vencedores.
Pouco depois de saber que estava na final, ela disse que ficar entre os 12 e ter o trabalho publicado já havia sido uma conquista e tanto. A mãe, Marly de Oliveira Piazza ,que é assistente social, conta que a filha achava difícil vencer. Estudando direito na Universidade Federal de Santa Catarina, a vencedora do prêmio deve se formar em dois anos. "São carreiras que têm afinidade, a idéia é unir os conhecimentos das duas áreas", adianta o pai, Udson Piazza, médico. Para ele, a vitória irá estimulá-la buscar a aplicação prática de suas idéias.
Na noite da premiação, devido à impossibilidade de comparecimento da ex-estudante da Univali - que chegou ontem à Nova Zelândia - e de sua orientadora, Maria Luiza foi representada pelo professor Rogério dos Santos da Costa, coordenador do campus onde estudava. "Liguei imediatamente. Ela ficou sabendo pouco depois, apesar do fuso-horário", contou o "mestre", em cuja sala a aluna chegou a apresentar o trabalho.
Mas ele não foi o único professor a subir ao palco na cerimônia de premiação. Aos 44 anos, Ricardo Rodrigues Silveira de Mendonça viveu uma grande emoção com a escolha do seu trabalho entre os pós-graduados. "As dimensões da Responsabilidade Social: uma proposta de instrumento para avaliação" teve coordenação de Gilson Brito Alves Lima, da Universidade Federal Fluminense, onde o primeiro colocado cursou sistemas de gestão: "Arranquei o coração da minha dissertação de mestrado, um instrumento que permite às organizações avaliar sua performance fora da empresa, a partir da responsabilidade social."
Para ele, internamente os gestores já demonstraram serem capazes de desenvolver boas ações, mas "extra-muros" ainda há o muito a ser feito. "São pessoas acostumadas a tomar decisões, e elas deflagram conseqüências que extrapolam o interior das organizações. A responsabilidade social está para mostrar isso e cobrar de todos eles uma participação mais justa", resume. Referendado pela universidade, Ricardo se inscreveu buscando uma aprovação da bancada julgadora do concurso. "Meu trabalho ressalta o compromisso com o resgate da responsabilidade social das empresas, todas, de todos os setores", acrescenta.
Sobre a viabilidade de aplicação prática de suas idéias, ele destaca o instrumento que desenvolveu. Trata-se de uma ferramenta estatística capaz de gerar gráficos com informações que mostram às companhias a repercussão externa de suas próprias gestões. Algo como um termômetro que mede, fora da empresa, os reflexos de inúmeras ações. "E isso tudo é feito sob a ótica de seis dimensões: visão estratégica e transparência da organização, público interno, comunidade, sociedade, clientes e fornecedores; além da gestão ambiental", relata.
Há uma década como professor de organizações, sistemas e métodos da Abeu Faculdades Integradas, em Belford Roxo (RJ), na Baixada Fluminense, ele tem alunos em administração e ciências contáveis, além de tecnologia e informática. "Quero continuar com minhas aulas, é minha expectativa pelo resto da vida, tentando transformar as pessoas em seres melhores", resume Ricardo, que está concluindo seu mestrado na UFF.
O Prêmio Ethos-Valor de Responsabilidade Social teve o patrocínio do Banco Real ABN AMRO Bank, Serasa, Organizações Globo, Ford, Belgo Mineira, DPaschoal/Fundação Educar. O evento contou com apoio do governo federal, Makron Bookd e Ciee (Centro de Integração Empresa Escola). Ja o apoio cultural do evento dado pelo Sesc São Paulo.
Premiados após ficarem entre os quatro melhores de 227 inscritos, além dos tradicionais agradecimentos, os vencedores aproveitaram a oportunidade para enviar suas mensagens, como fez Maurício Fabião, da UERJ: "Se os consumidores exigirem empresas mais éticas, elas o serão.Acredito que, deixando o discurso e indo para a prática, o indivíduo pode transformar a sociedade por meio do próprio consumo."