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Meninas se prostituem para manter luxos

Por O Liberal    17 de maio de 2002
Brasília (Agência Estado) - Nem sempre a prostituição infanto-juvenil é motivada pela necessidade de ajudar a sustentar a família. O desejo de ter dinheiro para comprar roupas e produtos de uso pessoal também são fatores que levam adolescentes a ingressar no mercado de comércio sexual. Essa é uma das principais conclusões de um relatório que será apresentado durante a 7.ª Conferência Nacional de Direitos Humanos, que termina amanhã na Câmara dos Deputados.

Ele é o resultado de uma viagem ao Nordeste promovida pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara para investigar uma nova rota de prostituição infanto-juvenil entre Patos, interior da Paraíba, e Natal. Foram colhidos depoimentos de vítimas, aliciadores e clientes. Os casos foram encaminhados ao Ministério Público e outros órgãos competentes. Em seus relatos, as garotas - em geral, na faixa dos 10 aos 18 anos - contam que eram convidadas a fazer programa com homens. O valor pago por programa varia de R$ 25 a R$ 250 e, muitas vezes, é gasto em roupas, conforme relata uma adolescente de 15 anos: "Gastava só em roupa. Comprava jeans, blusas e outras calças de marca." Outra jovem, também de 15 anos, usou o dinheiro que recebeu no primeiro programa e comprou um par de lentes de contato verdes.

O relatório aponta, a partir dos depoimentos das meninas que, em geral, a principal referência desses padrões estéticos e de consumo são extraídos da televisão. O presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), Cláudio Augusto Vieira da Silva, acha natural que a mídia influencie as adolescentes. "Isso é normal entre jovens e até entre pessoas mais velhas. O problema é o fato delas ingressarem no mercado de exploração sexual para atingir o objetivo de estar bem e viver bem". Aliciadores - Além de traçar um perfil das vítimas, o relatório também apresenta o perfil dos aliciadores e dos clientes. Normalmente, quem contrata as meninas para fazer programas são moradores da própria cidade de diferentes classes sociais e profissões (funcionários públicos, comerciantes, empregados domésticos). Elas são localizadas em pontos de encontro de jovens, os quais são conhecidos como pontos de prostituição. Já no que diz respeito aos clientes, o perfil mudou nos últimos anos. Na época das primeiras denúncias, em 1997, a clientela era composta por caminhoneiros. Agora, são homens que têm uma situação sócio-econômica estável que se dedicam às mais diversas áreas profissionais.

Na opinião do presidente do Conanda, "cabe a nós" mostrar que existem outros valores, acrescentando que a falta de perspectivas de vida também favorece a prostituição infanto-juvenil. Além de reforçar o trabalho educativo, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Orlando Fantazzini, defende o fortalecimento dos programas de atendimento às vítimas, o que implica aumentar os investimentos do governo. A denúncia é outra arma importante para combater a exploração e o abuso sexual de crianças e adolescentes. E elas podem ser feitas pelo telefone 0800-99-0500.

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