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Uma nova vida para as mulheres que apanham

Por Jornal da Tarde   19 de junho de 2002
São Paulo - O último Natal de Luiza (nome fictício) foi inesquecível. Longe do marido, ela pôde, depois de cinco anos, comemorar o dia de Papai Noel, com tranqüilidade ao lado dos dois filhos, na Casa de Abrigo. Luiza tem um motivo para não gostar do dia que, para muitos, é sinônimo de paz e alegria.

Foi num Natal que ela apanhou pela primeira vez do marido. "Eu estava grávida de sete meses", lembra. Mas, hoje, ela tem uma nova vida. A Casa, na região do ABC, oferece a ela e a mais quatro mulheres, além de 19 crianças também vítimas da violência, muito mais do que proteção. Escondidas de seus agressores, as mulheres têm aulas de artesanato e participam do curso de Empreendedoras Populares.

"O objetivo do programa é incentivá-las a gerar a própria renda", comenta Janete Alves Gomes Rosalino, assistente social e coordenadora da Casa.

Economicamente independentes, as mulheres somente voltam a morar com os maridos e companheiros se quiserem. O lugar, mantido sob sigilo, foi aberto em junho de 2000 e prestou assistência a 28 mulheres até agora. O prazo máximo de permanência na Casa é de seis meses. Algumas tiveram de ser reencaminhadas para outros Estados porque o marido descobriu o endereço do local. A maioria conseguiu emprego e refez a vida longe do agressor.

Luiza, além de artesanato, aprendeu como pesquisar preços, vender seu produto e lidar com os clientes. Hoje, expõe seu trabalho em lojas. Faz pequenos quadros e vasos usando diferentes tipos de grãos, como milho e girassol. Ela vende os quadrinhos por R$8,00 e os vasos por R$17,00. Para Luiza, além de fonte de renda, o artesanato é também uma terapia. "Meu marido dizia que eu não prestava para nada." Ela conta que, de tanto ouvir o marido falar isso, acabou acreditando. "Hoje, eu sei que ele estava errado", diz.

Segundo uma pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, 33% das mulheres brasileiras já foi vítima de algum tipo de violência física. Elas querem sair de casa mas, como dependem financeiramente dos maridos, não têm para onde ir. Se tentam se esconder na casa de familiares ou amigos, acabam descobertas. Se procuram a Delegacia da Mulher, nem sempre são informadas de que existem lugares onde podem começar uma vida nova ao lado dos filhos.

"A delegada só falou que havia um lugar seguro na quinta vez que dei queixa", relembra revoltada Luiza. Entre as cinco queixas, quatro anos se passaram. O marido surrava a mulher quase que diariamente na frente dos dois filhos pequenos. Na última vez que apanhou, eles tentaram defendê-la com um cabo de vassoura. A menina não tinha nem três anos de idade. "Ela mal sabia falar e pedia ao pai que parasse de me bater."

Para informações na região do ABC, o telefone é 4992-2936. Em São Paulo, o telefone da Casa Eliane de Grammont é 5549-9339.

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