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Empresários dizem que missão cabe ao Estado

Por Diário de Pernambuco - Wilfred Gadêlha   19 de julho de 2002
Especial para do DIARIO

Empresas assumindo o papel do Estado - marketing puro ou uma nova concepção de sociedade? A responsabilidade social na área de educação provoca uma discussão sobre se o Estado tem condições de garantir sozinho uma educação de qualidade a todos os 54.762.777 brasileiros que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estavam em salas de aula em creches ou escolas em 2000. Via de regra, esta é a posição: empresários acham que não, gestores públicos acham que não, beneficiados acham que não. Se é unânimidade, por que tanta discussão?

O problema é que tipo de associação entre poder público e iniciativa privada deve ser feita. Muitos acham que as empresas devem, sim, colaborar na melhoria da educação: 61% dos entrevistados na etapa brasileira da pesquisa Responsabilidade Social Empresarial - Opinião Pública Mundial sobre a Mudança de Papel das Companhias, realizada pelo Instituto Ethos. Mil e duas pessoas foram entrevistadas em nove regiões metropolitana. Em contradição, 53% acham que esta responsabilidade é exclusiva do Governo. Outros 38% acham que poder público e iniciativa privada.

Imagem - "Salvo quem beira a santidade, todo mundo quer benefício para a imagem", reconhece o diretor de Relações Institucionais da Coca-Cola, Celso Schvartzer. "É fato que a maioria das empresas atua com responsabilidade social por causa do marketing", ressalta o administrador de empresas e presidente da Academia de Desenvolvimento Social (entidade pernambucana que funciona como incubadora de ONGs), Rui Mesquita. "Mas é preciso que a sociedade e os empresários se conscientizem do seu papel. Às vezes, querem ajudar, mas não sabem como", pondera o presidente da Fuindação CDL, Eduardo Catão.

Mas se as empresas estão contribuindo para melhorar a vida de milhares de pessoas, por que não aplaudir? "Uma vez dentro, as empresas não querem mais sair. A responsabilidade social tem que ser o fim e não um meio", responde Rui Mesquita. Para saber a diferença entre marketing e trabalho sério, o administrador de empresasdá uma dica: " É uma questão de sensibilidade para o consumidor".

O estudioso argentino Néstor Canclini diz que, "apesar dos variados interesses e estratégias, todos concordam em acusar o Estado pelas desgraças sociais e supõem que a situação melhoraria se este cedesse iniciativas de poder à sociedade civil". A simbiose entre consumo e cidadania pode levar à prática de uma espécie de "consumismo cidadão". É por isso que 44% dos entrevistados da pesquisa do Ethos garantem que comprariam produtos de uma empresa que colabora com a comunidade.



População diz sim a empresa que se engaja

A responsabilidade social ainda é uma questão em aberto na cabeça do brasileiro. A pesquisa do Ethos mostra que enquanto em países como a Austrália 60% dos consumidores prestigiam empresas socialmente responsáveis, comprando produtos ou falando bem da companhia, no Brasil somente 16% têm comportamento semelhante. Outro dado que reforça este posicionamento indefinido do brasileiro diz respeito às empresas socialmente irresponsáveis: 67% dos entrevistados afirmaram que nem sequer pensaram em boicotar produtos destes fabricantes.

Outras contradições tupiniquins aparecem quanto ao envolvimento de empresas no sistema educacional. Apenas 12% são contra, mas 58% discordam em parte. O relatório do Instituto Ethos aponta algumas razões para este aparente desencontro: "Um trabalho com educação sério resultará em muita visibilifdade. O risco está na natureza do trabalho. Normalmente são necessárias políticas de longo prazo. Isto implica um planejamento detalhado e garantia de fluxo constante de recursos por determinado período. Interrupções podem significar retrocesso para a população atendida e para a imagem da empresa".

"O cidadão tem que ter o seu papel. Podemos até considerar que estamos suprindo uma lacuna deixada pelo Estado, mas é muito cômodo reclamar. Reclamar é diferente de reivindicar", opina a diretora de Educação, Recreação e Desportos da Fundação BB, Dulce Rezende do Vale. A coordenadora do Centro de Cultura Luiz Freire, Aldenice Teixeira, sintetiza a questão: "Quem recebe o benefício tem que ser encarado como parceiro e não como público-alvo".



Propaganda a serviço das ações sociais

No meio da discussão se responsabilidade social é propaganda ou conscientização, duas das principais agências de propaganda pernambucanas também estão no rol das empresas que trabalham com entidades sociais.

Das 33 contas da Ampla, sete são de organizações não-governamentais, como Imip e Gestos. Além do apoio a estas ONGs, a agência dá uma força aos projetos da Fundação CDL . Esta força se traduz, por exemplo, na criação da marca da Mão na Massa, empresa dos ex-alunos do curso de pastelaria e panificação da fundação.

A Mart Pet também tem entre seus clientes entidades sociais: Coletivo Mulher Vida e Unicef. Neste caso, a agência pernambucana montou uma campanha contra a exploração sexual infantil, por ocasião da visita do ex-007 Roger Moore ao Brasil. Por conta deste trabalho, a Mart Pet ganhou o certificado de Empresa Amiga da Criança, concedido pelo organismo das Nações Unidas para a infância.

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